Em janeiro do ano passado, o governo PSD-CDS prometia que Portugal seria um exemplo na Europa no combate ao desemprego de longa duração e em abril nascia o Programa Reativar. Pedro Mota Soares traçava a meta: em 12 meses, 12 mil desempregados há um ano ou mais estariam nas empresas a reconverter competências. Mas o primeiro ano do programa está a terminar e os números estão longe de ser animadores: foram para a frente apenas 1235 candidaturas para abranger 1349 estagiários. De acordo com os dados cedidos pelo Ministério do Trabalho e Segurança Social ao DN/Dinheiro Vivo, apenas 10,2% da meta assumida pelo anterior executivo foi cumprida. A ineficácia dos mecanismos de colocação no mercado de trabalho não é uma novidade para Arménio Carlos. O secretário-geral da CGTP assume que é preciso forçar uma descida do desemprego, garantindo que "os empregos são duradouros". Ao DN/Dinheiro Vivo, a propósito do Programa Nacional de Reformas apresentado nesta semana, o líder sindical sublinhou que "o emprego subsidiado não foi mais do que uma farsa - chegava ao fim sem gerar um contrato duradouro". O Reativar não é um apoio à contratação, mas sim uma medida de estágios profissionais destinada unicamente a desempregos de longa ou muito longa duração. O objetivo é promover a reintegração ou reconversão profissional e está acessível a pessoas com mais de 30 anos que nunca tenham usufruído de outra medida ativa de emprego. A sua criação envolveu um investimento de 43 milhões de euros. .A nova normalidade.Não é o baixo número de desempregados de longa duração que justifica a fraca adesão a esta medida. O desemprego de longa duração já é, afinal, a nova normalidade do desemprego em Portugal. Em dezembro do ano passado, a última vez que o INE divulgou o desemprego trimestral, contavam-se 646,5 mil desempregados. Destes, 410,6 mil estavam desempregados há um ano ou mais. Isto é, 63,5% dos que procuram emprego sem sucesso são desempregados de longa duração. As diferenças entre homens e mulheres são irrisórias: 208,8 mil são homens; 201,9 mil mulheres. Acredita-se que este universo seja constituído maioritariamente por portugueses com 45 ou mais anos, que tenham perdido os seus postos de trabalho e pela idade já sintam dificuldades em encontrar trabalho. As fracas habilitações é outro dos fatores que dificultam a reconversão para o mer- cado de trabalho. A perda de emprego em idade tardia já se sente noutro indicador: o governo conseguiu travar as reformas antecipadas voluntárias a partir de 2012, mas não as que resultam de desemprego longo. Aqui, a despesa sobe a uma média de 10% ao ano..Europa quer soluções.Este problema está longe de ser português. A Comissão Europeia estima que, entre os 23 milhões de desempregados europeus, 50% estejam fora do mercado laboral há 12 meses ou mais, o que deve rondar os 12 milhões de pessoas. "Quanto mais tempo estão fora do mercado, mais difícil se torna o regresso", assume Bruxelas: "Todos os anos, um em cada cinco param de procurar emprego e tornam-se inativos, fazendo aumentar o risco de exclusão social e de pobreza para si e para as famílias." É para contrariar os números que Bruxelas propõe um programa de inclusão aos desempregados, em que cada um tenha acesso a uma assistência ativa na procura, mais formação e treino em contexto laboral e apoio para habitação, transporte, apoio aos filhos ou reabilitação. Mas o meio para o fazer fica na mão de cada país.