O presidente da Associação dos Lesados do Papel Comercial considerou hoje que Governo não irá deixar cair a solução negociada para indemnizar os clientes que perderam dinheiro no Grupo Espírito Santo, embora ainda falte acertar o mecanismo de compensação.."Neste momento acho que é impossível que o Governo, como promotor de uma solução, a deixe cair. Há boa vontade, há compromissos que têm de ser assumidos", disse à Lusa Ricardo Ângelo..O responsável acrescentou que têm existido desenvolvimentos desde que o projeto de solução foi concluído em junho pelo grupo de trabalho, que durante meses negociou o mecanismo de compensação em dezenas de reuniões entre os representantes dos lesados, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e Banco de Portugal, sob mediação do Governo..A Lusa obteve a informação de que estará já agendada uma reunião para meados de agosto entre o grupo de trabalho e o ministro das Finanças, Mário Centeno, que tem a solução no seu gabinete para ser validada, mas o presidente Associação dos Lesados não quis confirmar ou comentar a informação..Quanto aos clientes que investiram em papel comercial da Espírito Santo International e da Rioforte (sociedades do universo Grupo Espírito Santo), a associação informou de que deveriam colocar processos judiciais ou notificações judiciais avulsas até 03 de agosto de 2016 (quarta-feira) contra o grupo Espírito Santo e seus administradores para que se tornem credores formais destes..O limite de 3 de agosto prendia-se com o facto de nessa data passarem dois anos desde a resolução do BES, o que fazia com que caducassem direitos nesse dia..A CMVM informou entretanto, em julho, que a diversidade de prazos previstos na lei não permite "a indicação, com caráter geral," de datas-limite para interposição de ações judiciais pelos lesados e que é necessário fazer uma "análise específica de cada situação"..O presidente da Associação dos Indignados e Lesados do Papel Comercial afirmou à Lusa que nas últimas semanas aumentou muito a entrada de ações judiciais por filiados da associação, mas acrescentou que ainda não tem números fechados..As informações vindas a público indicavam que a solução negociada para compensar os lesados do papel comercial devia ser aceite por 80% dos clientes para que fosse criado o fundo de indemnização que os irá reembolsar parcialmente o dinheiro investido..Será esse fundo de indemnizações -- que ainda deverá demorar a ser criado, uma vez que é preciso regulamentação e nomear órgãos sociais -- que irá adiantar o dinheiro aos clientes lesados e que se tornaram credores do Grupo Espírito Santo, ficando em troca com os direitos judiciais..O objetivo deste mecanismo é compensar os mais de 2.000 clientes do retalho que dizem ter sido lesados pelo BES e reclamam 432 milhões de euros. Esse dinheiro foi dado como praticamente perdido aquando da queda do grupo da família Espírito Santo, em 2014..[artigo:5320837].Apesar desta solução, os clientes que investiram nestes títulos irão suportar perdas, uma vez que não será devolvido todo o dinheiro investido..Quanto ao modo como será financiado este fundo de indemnizações, da informação recolhida pela Lusa, a estratégia passa por o dinheiro vir do Fundo de Resolução bancário, que depois irá receber o empréstimo concedido em função das compensações que venham a ser decididas na Justiça. Em caso limite, poderão não ser suficientes para amortizar o empréstimo ao Fundo de Resolução que, nesse caso, teria de assumir essa perda..No entanto, há outra questão a resolver, uma vez que de momento o Fundo de Resolução não terá dinheiro para financiar o fundo de indemnizações..O cenário em cima da mesa é esse dinheiro vir do Fundo de Garantia de Depósitos. Contudo, segundo a proposta, enquanto o pagamento pelo veículo do empréstimo do Fundo de Resolução é contingente, o empréstimo do Fundo de Garantia de Depósito tem de ser obrigatoriamente reembolsado pelo Fundo de Resolução, receba este o dinheiro do veículo ou não..Desde o início do ano que o Governo assumiu este tema dos lesados como prioridade, por considerar que está em jogo a reposição da confiança no sistema financeiro. O papel do Executivo neste processo é de mediador, sendo representado pelo advogado Diogo Lacerda Machado.