A EDP poupou 19,4 milhões de euros em obrigações fiscais com a adesão ao programa especial de redução do endividamento ao Estado (PERES), mecanismo criado pelo governo no ano passado e especificamente direcionado para a "redução do elevado nível de endividamento, quer das famílias quer das empresas". Mas o programa acabou por beneficiar também aquela que é a empresa mais lucrativa do país..Segundo o relatório e contas da EDP relativo ao exercício do ano passado, documento divulgado na última semana, a adesão ao PERES permitiu à elétrica evitar o pagamento de 19,4 milhões de euros em juros compensatórios e de mora por dívidas fiscais reclamadas pelo Estado.."Após uma análise detalhada, o Grupo EDP optou por aderir a este regime excecional [PERES], mediante um pagamento total de cerca de 57 342 milhares de euros, o que implicou uma redução das contingências fiscais classificadas como possíveis em 76 727 milhares de euros (as quais incluíam o cálculo dos juros compensatórios e juros de mora)", esclarece uma das notas finais presentes no relatório..E para conseguir poupar estes milhões, a empresa liderada por António Mexia nem precisou de se dar como culpada de ter dívidas ao Estado, razão pela qual, apesar de já ter concretizado a poupança, vai manter todos os contenciosos contra os contribuintes. Segundo o mesmo relatório, "encontra-se salvaguardado que a adesão a este regime não implica, juridicamente, a aceitação da legalidade da dívida fiscal pelo sujeito passivo, nem prejudica a manutenção do contencioso fiscal, que seguirá o seu curso normal". Contactada pelo DN/Dinheiro Vivo, a EDP não quis fazer mais comentários sobre o tema..Com uma posição invejável no mercado português, a elétrica voltou a lucrar perto de mil milhões de euros em 2016, exercício que fechou com 961 milhões de euros de resultado líquido, depois dos 913 milhões contabilizados em 2015..Além dos resultados milionários, a elétrica é também notícia recorrente à conta dos elevados salários que atribui aos seus principais gestores. Mas neste ano esta rubrica foi mais do que compensada pela poupança obtida graças ao PERES: a EDP pagou um total de 10,8 milhões de euros em salários fixos e prémios aos seus administradores, dos quais dois milhões de euros apenas ao seu CEO, António Mexia. Estes 10,8 milhões correspondem a cerca de 55% do valor poupado com os juros devidos aos contribuintes..BE quer saber perdas do Estado.Este aproveitamento por parte da EDP de um programa que, em teoria, nasceu para ajudar famílias e empresas em dificuldades, já levou o Bloco de Esquerda a pedir ao Ministério das Finanças dados mais abrangentes sobre os ganhos das empresas cotadas com o PERES ao longo de 2016..Em pergunta enviada à tutela, Jorge Costa e Mariana Mortágua, deputados do Bloco de Esquerda, salientam que a elétrica "beneficiou grandemente de um regime excecional de regularização de dívidas fiscais e à Segurança Social", pedindo então o acesso a dados detalhados sobre as empresas do PSI 20 que aderiram ao PERES e "em que montantes". Os bloquistas querem também saber qual o impacto total para as contas públicas da adesão das cotadas ao programa de regularização de dívidas ao fisco e Segurança Social..Além da adesão ao PERES, a revelação das contas de 2016 tem ficado marcada pela explosão dos resultados com impostos, em especial nos bancos: o BCP contabilizou um ganho fiscal de 382 milhões de euros em 2016, tendo esta sido a única razão para ter fechado o exercício com lucros. Já a Caixa Geral de Depósitos, apesar de ter recorrido a ainda mais créditos fiscais, estes serviram apenas para conter os prejuízos do ano passado: o banco público ativou 865 milhões destes créditos, tendo assim conseguido conter as perdas pouco abaixo dos 1900 milhões de euros.