A entrar no ano de 2020, o DN/Dinheiro Vivo publica o balanço económico do ano 2019. Abordamos os principais acontecimentos, com impacto no país e no bolso dos portugueses, nas grandes áreas económicas, começando pelas contas de Mário Centeno e passando depois pela área fiscal, função pública e salários dos portugueses, banca e mercados, indústria tradicional, agricultura e retalho, turismo, aviação e transportes, telecomunicações e media, energia e tecnologia. O ano de 2019 ficou ainda marcado pelas Legislativas, com a reeleição de António Costa..O 2019 de Centeno. Aperto nas contas mesmo com economia a fraquejar.O ano de 2019 começou com más notícias para o ministro das Finanças. Mário Centeno tinha desenhado o seu Orçamento do Estado deste ano que agora termina com uma meta de défice equivalente a 0,2% do produto interno bruto (PIB) e com uma previsão de crescimento económico a rondar os 2,2%..Não foi o que aconteceu, a economia terá crescido menos (cerca de 1,9%, segundo as projeções mais recentes de Centeno), mas o governo conseguiu segurar o défice em mínimos. Vai ser até ligeiramente inferior (0,1% do PIB em 2019)..A meta do ministro foi salva por um forte crescimento na coleta de impostos, com uma forte contenção no investimento público, com "rigor" e cativações de despesa um pouco por todos os setores do governo. Mas também com um maná externo, que se reflete em poupanças significativas em juros: o prolongamento do enorme programa de compras de ativos (sobretudo dívida pública) do Banco Central Europeu (BCE)..O chamado quantitative easing do BCE tinha terminado no final de 2018, mas logo em meados de janeiro, veio o primeiro balde de água fria. O abrandamento da economia da zona euro "pode durar mais tempo do que o esperado", disse o então presidente do banco central da zona euro, Mario Draghi..O aviso à navegação ecoou por toda a zona euro e o resto do mundo. O total nevoeiro levantado pelo Brexit, que só em dezembro se dissipou (com as eleições no Reino Unido e a vitória esmagadora dos Conservadores), o ambiente crescente de conflitos comerciais, mais uma série de tumultos no Médio Oriente e na Europa (França, Catalunha e a Alemanha quase à beira da recessão) levaram o BCE a reconsiderar tudo..A 12 de setembro de 2019, por causa do mau ambiente económico geral e da inflação muito baixa, até negativa, o BCE decide avançar para uma segunda vaga de compra de obrigações públicas e de dívida privada. Esta segunda vaga começou a 1 de novembro e só terminará quando a situação estiver normalizada. Portanto: um programa sem termo. O mesmo que dizer que o BCE, se calhar, só começa a subir juros em 2021 ou depois..Isso deu ainda mais folga às contas de Centeno que, sabe agora, pode continuar a fazer consolidação orçamental e até vai tentar chegar a um excedente de 0,2% em 2020..O maná do BCE é decisivo para um país (governo) que em 2019 vai pagar 6526 milhões de euros em juros (o equivalente a mais de 3% do PIB) e que em 2020 consegue, mesmo assim, baixar esta enorme fatura para 6365 milhões, prevê o ministro..Medidas fiscais. O ano dos pequenos acertos .Em termo de IRS, a principal alteração foi a criação de um desconto de 50% do imposto a pagar por emigrantes que regressem a Portugal em 2019 e 2020. Para as famílias destaque ainda para a redução da taxa de IVA da eletricidade para contratos com potência contratada até 3,45kVA e alterações no adicional do IMI com uma taxa de 1,5% para imóveis com valor acima de 2 milhões de euros. Já para as empresas, deixou de ser obrigatório fazer o Pagamento Especial por Conta e foram introduzidas medidas de incentivo na área florestal. .Função Pública. O descongelamento das carreiras .O ano de 2019 conclui o processo de descongelamento faseado das carreiras das administrações públicas. Segundo o Ministério das Finanças, vai permitir que 500 mil trabalhadores vejam as remunerações avançarem em resultado de progressões no próximo ano e contribuir, em grande medida, para um esperado aumento das despesas com pessoal em 3,6%. Neste ano, a base remuneratória da função pública subiu também aos 635,07 euros, com o governo a estimar melhorias para até 70 mil trabalhadores. Mas para a generalidade dos trabalhadores só vai haver aumentos no próximo ano, e de apenas 0,3%. As ações de luta para exigir mais já foram marcadas pelos sindicatos para janeiro..Trabalho. Novas regras para contratar a prazo .As leis laborais mudaram em 2019, com novas regras para contratar a prazo desde o início de outubro. A duração máxima da contratação a termo certo, com renovações, ficou limitada a dois anos, e passou a quatro anos nos contratos a termo incerto. E o primeiro emprego ou desemprego de longo prazo deixaram de ser motivos para contratar a prazo. Por outro lado, o período experimental para estes trabalhadores foi alargado para seis meses, motivando um pedido de fiscalização da constitucionalidade da medida que ainda não teve desfecho. As mudanças também ditaram o fim dos bancos de horas individuais, mas só com efeitos em setembro de 2020, e vão agravar contribuições para quem abusa da contratação a prazo, em princípio, a partir de 2021..Salário mínimo nos 635 euros, mas o plano é 750 em 2023.Os salários médios brutos dos portugueses seguiam a subir 3% no terceiro trimestre deste ano para os 1220 euros (salário-base e complementos), segundo os dados do INE. Com a média de salário-base nos 1039 euros e o salário mínimo nos 600 euros, há cada vez mais sectores onde as diferenças entre um e outro são cada vez mais curtas. Já a 1 de janeiro o salário mínimo sobe aos 635 euros e o plano é que alcance os 750 euros em 2023. O governo lançou entretanto no final deste ano a discussão em Concertação Social para um acordo que ajude a dar maior impulso aos salários médios, mas as hipóteses de sucesso são por agora limitadas..(...).Leia mais em Dinheiro Vivo