"A situação no futebol português agravou-se. Investigue-se, doa a quem doer"

Em entrevista, antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol, olha para o recente caso dos e-mails a envolver o Benfica e fica com a sensação de que o ambiente no futebol português está a piorar.
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Antecessor de Fernando Gomes na Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl esteve 15 anos no cadeirão do poder (o mais longo reinado de um presidente da FPF) e teve de gerir dossiês como o do Apito Dourado. Agora afastado do futebol, olha para o recente caso dos e-mails a envolver o Benfica e fica com a sensação de que o ambiente no futebol português está a piorar. Entre reparos ao que considera ser a inação do atual líder federativo, Madaíl considera que todos os casos devem ser investigados, "doa a quem doer". E recorda como sofreu a "hostilidade" de Pinto da Costa e Valentim Loureiro nos tempos do Apito Dourado.

Como tem visto esta polémica da divulgação de e-mails e sms, com o FC Porto a acusar o Benfica de montar um esquema de corrupção e, agora, de monitorizar e vigiar o seu sucessor na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes?

As pessoas sabem perfeitamente que os meus mandatos foram muito difíceis, principalmente com situações fora da FPF. Eu vejo isto como... um bocadinho mais do mesmo, mas com uma diferença: nos meus mandatos nós, direção da FPF, tínhamos medidas para lançar mas estávamos sempre bloqueados pela Assembleia Geral, que não aprovava as nossas propostas. Agora esta direção da FPF pode tomar iniciativas. Pode e deve.

Que tipo de propostas tentou lançar e foram bloqueadas?

Penalizações fortes aos dirigentes, que servissem para causar um alerta forte. Aos dirigentes e não só, treinadores e jogadores também.

Na sua opinião, estes casos recentes merecem credibilidade? Devem ser investigados nas instâncias desportivas, independentemente das consequências?

Doa a quem doer. Eu sei do que falo, porque eu apanhei com o Apito Dourado. As minhas recomendações ao Conselho de Disciplina, na altura, foram sempre que queria tudo averiguado e quem tivesse de ser punido que o fosse. É bom recordar que no meu tempo o senhor Pinto da Costa foi punido. Não vejo da parte do atual presidente... e isto não é uma crítica, mas sim, olhe, utilizando uma expressão, ele procura "aparecer atrás do muro".

Fernando Gomes devia aparecer mais? Dar mais vezes a cara?

Acho que sim. O que é que ele tem aparecido? O que é que ele tem dito? Sobre as notícias dos sms, toda a gente sabe que a paixão dele não é a FPF, a paixão dele é o FC Porto...

...

... mas voltando ao tema, na altura tomámos medidas e eu sofri a hostilidade do major Valentim Loureiro quando o Boavista desceu, do senhor Pinto da Costa pelo castigo que apanhou. Mas não foi por isso que deixámos de fazer o que tínhamos a fazer. Não fizemos mais porque não podíamos.

Foi presidente da FPF de 1996 a 2011. Algum clube ou presidente alguma vez o tentou condicionar ou influenciar?

[silêncio] Como é que hei de responder? Talvez não diretamente, mas indiretamente sim. Com ameaças veladas do género "se isto acontecer, nós não deixamos um jogador nosso ir à seleção".

Mas isso aconteceu, e foi público, com o FC Porto em relação ao Deco antes do Euro 2004?

[risos] Pois foi, não queria ir tão fundo...

Mas em relação aos últimos desen-volvimentos, o que espera que aconteça?

Isto tem de ser investigado. Também acharia muito estranho que, com tanta acusação, não haja um mínimo de bases de sustentação.

Por aquilo que tem visto, considera que há indícios de haver algo menos limpo?

Vou responder-lhe assim. Estou fora do futebol, mas por aquilo que tenho visto, em determinados aspetos a situação até se agravou no futebol português. Falo do ambiente, da confiança e se calhar da verdade.

Há menos verdade desportiva agora?

Acho que sim, agora a situação é muito mais complicada. Imaginemos que eu era presidente da FPF neste momento... há meios radicais para pôr cobro a estas coisas. Independentemente de quem ficasse melindrado, chateado, zangado. Não se admite o que se anda a passar aí. Mas também não me espanta.

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