Uma história de sofrimento e superação até à consagração. Este podia muito bem ser o título da biografia de José Fonte, o central que chegou à seleção nacional, depois dos 30, e só convenceu Fernando Santos à terceira oportunidade (dispensou-o de Sporting e Benfica), em 2015!.O ano de 2004 foi histórico para o futebol português, mas não particularmente feliz para Fonte. Pouco depois de ver Portugal perder a final do Euro 2004, no Estádio da Luz, para a Grécia, o central ficou sem clube, depois de acabar contrato com o Sporting e ser dispensado..Uma situação que o levaria a participar no estágio do Sindicato de Jogadores, para atletas desempregados, que nesse ano foi orientado por Mário Wilson e com a bênção de Eusébio. De 27 de julho a 29 de agosto de 2004, nas instalações do Colégio Inglês, em Carcavelos, José Fonte treinou com o grupo de atletas sem clube (vulgo desempregados), onde também estavam José Carlos (ex-Benfica) e Chiquinho Conde (ex-Vit. Setúbal)..Leonel Pontes era o adjunto de Jean Paul na equipa B leonina e lembra-se bem do atual capitão do Southampton. "Era um jogador fisicamente bem constituído, bom profissional e já com alguma maturidade para um central com 20 anos, a quem reconhecíamos capacidade para um dia chegar a um nível elevado", revelou ao DN, sem recordar bem como o jogador foi dispensado..Pontes lembra que na altura o treinador da equipa principal, Fernando Santos, o chamou ao treino algumas vezes. A primeira teve história: "Era um central impetuoso. Teve a oportunidade para trabalhar com a equipa principal e logo na primeira vez lesionou um jogador da equipa A, o [Elpídio] Silva [sorrisos].".Depois o clube acabou com a equipa B (2003-04) e, nessa altura, não havia lugar para Fonte na equipa principal. "Os caminhos estavam fechados por centrais maduros e experientes, como o Beto, o Polga, o Hugo e o Quiroga", lembrou o antigo adjunto de Paulo Bento na seleção, destacando o carácter de José Fonte. "Era muito concentrado, muito profissional, assertivo nas ações defensivas, fazia poucas faltas, sabia acompanhar o movimento do adversário, com um grau de eficácia elevado e com uma enorme presença no relvado, apesar de muito discreto e com uma grande força mental", elogiou..E só assim conseguiu superar tudo o que passou. Depois de dispensado pelo Sporting, assinou pelo Felgueiras, que fecharia portas pouco depois, voltando a deixar o jogador numa situação delicada. As coisas só começaram a melhorar quando Norton de Matos o levou para Setúbal..O Bonfim acabou por ser trampolim para o Benfica, onde acabou por não jogar. Foi de empréstimo em empréstimo até ser novamente dispensado por... Fernando Santos. "Tenho noção de que há dez anos não era o jogador que sou hoje, portanto foram decisões que o mister tomou e que aceitei com normalidade, mas isso ainda me deu mais força para continuar a trabalhar. Não foi possível continuar a minha ligação ao Sporting nem ao Benfica, mas não guardo mágoa. Continuei a trabalhar e a tentar ser melhor jogador. Acima de tudo, tenho de agradecer ao mister por ter reconhecido o meu valor aos 30 anos e por me ter dado a oportunidade de ser internacional", disse à revista do Sindicato de Jogadores em 2015..Já durante o Euro 2016, e depois de fazer três jogos a titular, o central voltou a agradecer ao selecionador: "Fernando Santos permitiu-me concretizar o meu maior sonho. É uma história de trabalho e de sacrifício, mas que me dá muito orgulho.".Amanhã, 12 anos e muitos sacrifícios depois, José Fonte joga o seu Euro 2004!