Os fortes rumores que corriam sobre a não realização da terceira edição do Festival Literário Internacional de Óbidos - Folio não têm fundamento. Foi o que garantiu ao DN o responsável do Folio, José Pinho, que avançou a data em que irá decorrer: 19 a 29 de outubro..A razão é simples, faltam 250 mil euros para custear as despesas. Situação que Pinho garante não ser suficiente para terminar com o Folio: "Se não há esse dinheiro, teremos de ir à procura dele." E não deixa de apontar as instituições que, em última instância, deverão sentir-se obrigadas a colaborar na terceira edição do festival: "Quer o Turismo de Portugal quer o Ministério da Cultura, bem como outras entidades oficiais, terão de nos apoiar no que faltar. Até porque sabem que conseguimos gerir a organização do evento com o mínimo de recursos, mesmo que haja um limite que é preciso assegurar.".O que se passou para que após uma primeira edição faustosa em termos financeiros, cerca de meio milhão de euros de apoio, e uma segunda ainda com forte financiamento, se pondere em público à terceira vez o fim do Folio? José Pinho é direto e aponta os nomes aos responsáveis: "Foi decidido que essa verba iria toda para a promoção do surf." Acrescenta: "Parece que o surf precisa muito desse dinheiro e os livros nada. Nem quero acreditar que seja verdade!".Segundo o responsável, o que tem vindo a acontecer até este corte total do financiamento foi que "já estava a ser reduzido do primeiro para o segundo festival e este ano iria diminuir ainda mais", porque o Turismo do Centro de Portugal "tem de se confrontar com os municípios da região oeste, reunidos na Comunidade Intermunicipal (CIM), que têm uma palavra a dizer sobre o destino das verbas e contestam o que do meu ponto de vista era bem feito: o Folio". Ou seja, refere, "a CIM votou por maioria que o dinheiro que seria para atribuir ao Festival Literário de Óbidos iria desta vez para o surf". Daí que quantifique a quebra de apoio como "total". Explica: "Passámos a ter zero euros do grande patrocinador que era o Turismo do Centro de Portugal.".Esta reviravolta no apoio financeiro por parte dos municípios parece, no entanto, não ser capaz de fazer que a onda do surf vá submergir o Folio à terceira vaga. Disso tem José Pinho a certeza: "Vai haver terceiro Folio, e outros se seguirão, até porque nunca alguém do Folio disse que não aconteceria. Posso garantir que as notícias que anunciam a morte do Festival são manifestamente exageradas - tais como as que falam da morte do livro." Conclui: "Uma coisa é verdade, os nossos principais patrocinadores resolveram não apoiar o Folio e uma coisa é termos apoio relativo e outra apoio zero.".Considera que o Folio tem a particularidade de ser uma "obra coletiva e não de alguém em particular", situação que o leva a dizer que "não estou sozinho e tenho capacidade para agregar uma série de vontades, meios e recursos que farão que o Folio continue". Não deixa de confirmar que existem "muitas pessoas interessadas em fazer isto connosco" e que "está tudo decidido para o Folio se realizar entre 19 e 29 de outubro"..Curadores abandonam.Entre os referidos rumores existe outro que José Pinho faz questão de esclarecer, o de não contar nesta terceira edição com as curadorias de Anabela Mota Ribeiro e de José Eduardo Agualusa. Quando se lhe pergunta se perdeu estes dois curadores, esclarece: "Não perdemos ninguém, essa é uma história mal contada. Desde o início que se disse que os curadores só deveriam ter um mandato de dois anos, apesar de no ano passado ter-se admitido que passaria a três. Quando houve este corte nas verbas ficámos sem condições de lhes pagar aquilo que recebiam antes. Queríamos contar com eles mas não podíamos exigir que trabalhassem sem pagamento. Optaram por ir à vida deles, porque precisam de sobreviver e ganhar dinheiro - o que é legítimo -, ou seja, ninguém se foi embora e tenho a certeza de que irão manter a ligação sentimental ao Folio.".Preparar a programação e tema.Para superar os cortes das verbas, o Folio decidiu procurar soluções. José Pinho antecipa: "Já existem muitas mesas marcadas, várias parcerias com o Brasil, Espanha e Canadá." Avisa: "Só nos falta poder cumprir uma promessas, que é a de ter sempre um Prémio Nobel." Essa presença deverá ser a principal vítima que a onda do surf irá mesmo submergir..O tema da terceira edição do Folio já está decidido: Revolução, revolta e rebeldia, sugerido por Marcelo Rebelo de Sousa quando esteve no ano passado em Óbidos para participar no festival, devido a 2017 ser o ano do centenário da Revolução Russa. O tema fará que a agenda do Folio esteja também voltada para a história, a política e a sociologia, áreas que contarão com intelectuais portugueses e estrangeiros e uma parceria com as universidades Nova e de Coimbra e a colaboração da Fundação Gulbenkian e da Companhia Nacional de Bailado.