"Vamos fazer um plano integrado de gestão do eixo Belém-Ajuda", diz novo ministro

Ministro da Cultura há sete dias, Luís Filipe Castro Mendes disse hoje, na RTP3, que haverá uma gestão integrada do eixo Belém-Ajuda, diferente, porém, da que havia sido desenhada por António Lamas. E quer tirar o peso da concorrência à RTP.
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Abortado o projeto de António Lamas, outro está a ser trabalho para o Eixo Belém-Ajuda, revelou Luís Castro Mendes, ministro da Cultura em substituição de João Soares, na quarta-feira, em entrevista à RTP3.

"Se me pergunta se deve haver uma gestão integrada, eu digo que sim. Estamos a trabalhar nisso. Vamos fazer um plano integrado de gestão, mas não é a ideia que havia de o Centro Cultural de Belém centralizar a área, que teria quase receitas próprias. Essa ideia está posta de parte", explicou. "A parte de circulação pública é com a câmara de Lisboa, na parte monumental é com o Estado e com as outras entidades, a câmara e a EDP", disse.

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Os quadros de Miró foram outro dossier quente do ministério da Cultura pelo qual passou a entrevista. "Já foi dito pelo primeiro-ministro e pelo antecessor serão mostrados em Serralves. O que vai acontecer a seguir, não sei".

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Situações de rutura e cartão de cultura

Castro Mendes defende, para a Cultura, que é preciso "termos uma visão de participação, cidadania e grande descentralização" e "dar mais literacia cultural aos cidadãos". Sem aprofundar quais, referiu ainda que existem sectores culturais que precisam do Estado para existir.

Com um orçamento de 150 milhões (mais 25 milhões que estão adjudicados à RTP e Lusa) para gerir, o ministro da Cultura garantiu que a sua prioridade serão as situações urgentes. "Há situações de premência, de rutura". Quais? Não quis dizer.

"Vivemos constrangimentos orçamentais e a Cultura vive nos mesmos constrangimentos. Temos de atingir os objetivos com os nossos recursos", justificou. Mais à frente, fez referência à necessidade de "recuperar a confiança dos agentes culturais".

Num país com baixa participação dos cidadãos em atividades culturais (os piores, ao lado dos búlgaros e romenos, segundo os dados de um inquérito do Eurobarómetro). "Rever as tarifas para entrar nos monumentos" foi uma das medidas apontadas pelo ministro na sua entrevista à RTP. Outra medida é tornar realidade o cartão de cultura, uma proposta que estava no programa do governo. "Com benefícios fiscais para os empresários que deem aos trabalhadores o cartão e cultura", adiantou, explicando que ainda é uma ideia.

RTP fora da guerra de audiências

"A RTP é uma grande aposta deste Governo", assegurou Castro Mendes. "O serviço público é a razão de ser da RTP", disse referindo a importância da dos canais África e Internacional. Mas uma televisão pública sem publicidade, como a britânica BBC, é impossível.

Luís Filipe Castro Mendes disse não ter ainda reunido com o presidente da RTP, Gonçalo Reis, "por falta de tempo" e revelou ter ficado com boa impressão do Conselho Geral Independente.

"Queremos tirar a RTP dessa lógica de concorrência de audiências, de forma a que a RTP possa realizar o serviço público que não é rentável em termos de audiências, e que é fundamental para o país", afirmou, sobre o futuro da estação de televisão. E acrescentou querer uma RTP "crítica, responsável e autónoma na sua capacidade de resposta".

Ficou por responder qual será o futuro do Conselho Geral Independente, instrumento que visa a escolha independente da administração da RTP. "É muito cedo para falar disso".

Questionado sobre a intenção de desgovernamentalização da RTP, Castro Mendes afirmou falou no plural: "Não queremos uma televisão obediente aos ditamos do Governo, queremos uma RTP crítica, responsável e autónoma na sua capacidade de reposta. Como é que isso se faz? É conselho geral independente? Não sei."

Estava no metro quando António Costa o convidou para ser ministro

O seu antecessor no cargo, João Soares, deu a sua primeira entrevista em fevereiro, mais de dois meses depois de tomar posse. Castro Mendes não esperou uma semana para falar. Tomou posse na quinta-feira da última semana.

A entrevista com o jornalista Vítor Gonçalves foi gravada ontem nos estúdios da RTP e foi precisamente pelo momento em que foi convidado pelo primeiro-ministro para substituir João Soares, "um amigo", como o descreveu, que a conversa começou. "Estava no metro quando o primeiro-ministro me ligou e convidou para integrar o Governo". "É uma mudança completa nos planos de vida", disse.

Escusando-se a julgar as declarações de João Soares e as de António Costa e a demissão do anterior ministra da Cultura, Castro Mendes disse que "todos temos de um especial cuidado com o uso das palavras".

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"A liberdade de expressão é sempre condicionada", respondeu, questionado sobre a perda de liberdade expressão quando se é ministro, concluindo: "A liberdade expressão exerce-se em circunstância".

Foi para João Soares que telefonou depois de aceitar o convite de António Costa. A conversa aconteceu entre Paris e Estrasburgo, onde Castro Mendes ia receber o presidente da República, no Parlamento Europeu. O novo ministro da Cultura era até agora representante de Portugal no Conselho da Europa.

Esteve, como diplomata em Angola, Brasil e Índia. Tem credenciais de embaixador desde 2003. Uma notícia publicada após a tomada de posse como ministro dava conta de um processo judicial que põe em causa a sua última nomeação por falta de fundamentação, tema que o ministro da Cultura quis esclarecer. "A partir do momento em que se tem credenciais de embaixador, é-se embaixador. O resto é um problema administrativo de promoção na carreira. O recurso é contra o ministério. Não pedi para ser promovido e não pedi para o queixoso não ser promovido."

Licenciou-se em Direito, meses antes do 25 de Abril de 1974 e um dos seus primeiros trabalhos foi como secretário de Melo Antunes. Politicamente, passou pelo Grupo de Intervenção Socialista - GIS e CDE, ao lado de políticos como Jorge Sampaio, Eduardo Ferro Rodrigues.

A entrevista deu a conhecer o diplomata, mas também o poeta. Castro Mendes escreve desde os 15 anos, começou em jornais, e editou o primeiro livro em 1983. Entre 1991, com Ilha dos Mortos, escreveu de forma consistente durante dez anos, tendo parado por outros dez. Regressou já nesta década. Misericórdia dos Mercados e Outro Ulisses Volta a Casa são os seus dois últimos livros.

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