Morreu a realizadora Noémia Delgado, pioneira do Cinema Novo

Ligada ao cinema documental, a cineasta, que morreu hoje em Lisboa aos 82 anos, trabalhou ainda como assistente de montagem de Manoel de Oliveira e Paulo Rocha. Foi casada com Alexandre O'Neill
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A realizadora portuguesa Noémia Delgado, ligada ao cinema documental e ao Cinema Novo, considerada uma das mulheres pioneiras no cinema português, morreu esta quarta-feira em Lisboa aos 82 anos, disse à agência Lusa fonte ligada à família.

Noémia Delgado nasceu em 1933 em Angola, passou a infância em Moçambique e na década de 1950 rumou a Lisboa, onde frequentou o curso de escultura da Escola Superior de Belas Artes.

Esteve ligada ao cinema português desde a década de 1960, como assistente de montagem e realizadora, tendo realizado o último filme, Quem foste, Alvarez?, em 1988.

Máscaras (1976), sobre os caretos tradicionais de Trás-os-Montes, é um dos documentários etnográficos mais conhecidos da realizadora.

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Em 2000, numa entrevista recolhida para a publicação Cineastas portuguesas 1874-1956, sobre as primeiras mulheres ligada ao cinema português, Noémia Delgado conta que foi parar ao cinema por mero acaso em 1963, numa altura em que despontava um novo movimento na produção cinematográfica, e que esteve presa em Caxias durante um mês, por se opor ao regime político de Salazar.

Foi assistente de montagem em Mudar de vida (1966), de Paulo Rocha, e em O passado e o presente (1971), de Manoel de Oliveira, antes de rumar a Paris, onde estagiou com Jean Rouch, realizador documentarista.

Participou também na fundação do Centro Português de Cinema e foi assistente do realizador Thomas Harlan no filme Torre bela (1977).

Na televisão, assinou, entre outras, as séries Palavras herdadas, sobre escritores portugueses, e Arte Nova e Deco no norte de Portugal.

Na dita entrevista dada em 2000, Noémia Delgado recordava: "Hoje que estou à parte, percebo que realmente era uma mulher muito só no meio de tantos homens. Na altura, eu lutava, esbracejava, mas lutava com eles como igual, não pensava que era uma mulher a lutar contra os homens. Nessa altura, não punha o problema desta maneira. Pensava que tinha os mesmos direitos que eles, mas não era por causa de ser mulher, era por ser uma profissional".

Noémia Delgado foi casada com o escritor Alexandre O'Neill, de quem teve um filho.

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