Um tasco atípico de Lisboa

Um novo Ofício que agora é um tasco atípico. O nome quer sublinhar a descontração que se serve e come no restaurante: pratos e petiscos cheios de herança da gastronomia portuguesa. À mesa ou ao balcão.
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Tasco moderno. Não há palavra mais repetida nos últimos anos quando se fala da abertura de novo restaurante, sobretudo em Lisboa e Porto. Talvez em demasia. Com as devidas e boas exceções, alguns parecem ser neotascos apenas a piscar o olho às fotos para as redes sociais - sem alma no prato. Daí a curiosidade em descobrir o renovado Ofício, agora alcunhado de "tasco atípico". Localizado na agora pedonal Rua Nova da Trindade. o espaço, que mudou em julho, tem agora capacidade para 76 lugares espalhados por esplanada, sala e balcão - ou barra, se preferir.

A cozinha está sob a ordem do chef Hugo Candeias, o chef executivo do grupo que detém o restaurante e o projeto TAG - The Art Gate (restaurante, galeria de arte e hotel) que, por agora, e devido à pandemia está em standby, como nos indicou o chef na visita que o DN fez ao seu novo posto. No Ofício o chef é secundado por Micael Duarte (que esteve no Prado e no Chiltren Firehouse em Londres) e por Rodolfo Lavrador.

A nova decoração do Ofício apenas manteve as cadeiras azuis de veludo do projeto anterior e acrescentou os mármores e tons de tijolo para a devida ligação ao conceito de tasco e ainda um néon do artista João Louro e dois espelhos de Daniel Blaufuks.

Mas, tal como se fazia referência no início do texto, é no prato que se entende melhor o conceito de um tasco e se percebe se é apenas obra para as redes sociais ou se merece visitas frequentes e gulosas.

Logo de início da refeição, o sommelier João Pombo, explica que ali, no "atípico" o conceito é o da partilha dos pratos à mesa. Reforça, enquanto aconselha um vinho verde Dos Seixos 2020, do enólogo Élio Lara, que no Ofício o cliente é quem manda e não há uma lógica rígida para uma refeição por ali. Pode-se pedir só pratos frios, só quentes "ou até só sobremesas".

Na visita do DN, a lógica foi mostrar as novidades, sazonais, e os até agora best of de pratos pedidos pelos visitantes - muitos portugueses e, mais recentemente, com crescente número de turistas. Visitamos o espaço numa terça-feira e a partir das 20h30 ficou cheio.

Para início da mostra do que se serve neste "tasco", chega à mesa um enorme torresmo crocante (5 euros) para partir e sujar as mãos (no final do petisco chegam toalhitas para as limpar). Também para usar as mãos um taco vegetal com corvina e chipotle, relembrando a experiência que o chef Hugo Candeias tem sobre a cozinha mexicana quando esteve à frente do Hoja Santa, do chef Albert Adrià (irmão do famoso Ferran Adrià). Depois vem um dos pratos estrela do Ofício: Recheio de Santola do Algarve (17.50 euros) na casca do próprio marisco para o típico barrar em fatias de pão torrado. É, a par da Raia no Fogo (13 euros), momento obrigatório do restaurante e onde se percebe bem o tal conceito de tasco, atípico, com a modernidade dos dias pela qual a cozinha portuguesa passa.

Mas há mais a reter: Ostras com molhos (3 euros), Tártaro de novilho de tutano (10 euros), Cachaço de bacalhau (10.50 euros). Para o final, as sobremesas. Chocolate com chantilly de coco (5.50 euros) e Tarte de amêndoa à fatia (4 euros) ficou ainda por provar outra sobremesa que tem o nome do chef: Tarte de Queijo pelo chef Hugo Candeias (25 euros).

Apesar da refeição quase atípica, foi possível perceber que no prato o conceito de tasco moderno com raízes na comida típica portuguesa está lá com alguns detalhes, poucos, da cozinha mexicana que o chef cozinhou por Espanha. Ao que vem ao prato e ao serviço do staff remete-nos para a Lisboa contemporânea que o mundo tem descoberto nos últimos anos, isto sem perder a sua identidade e não transformando a comida típica numa espécie de cliché executado. A finalizar a conversa com o chef, uma novidade: está a preparar mais um restaurante dedicado ao peixe a abrir no final do ano em Lisboa.

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