Um projeto à beira-rio que enche o coração
Diz que já tem idade para ter juízo mas isso não o impediu de largar um restaurante de sucesso em Budapeste e voltar a Portugal para explorar o novo restaurante e os três quiosques da Doca da Marinha, em Lisboa. O chef Miguel Rocha Vieira voltou as meter as mãos na massa, anda com dores no corpo, mas garante que está de coração cheio: "Sou um felizardo".
Acordar às 7h30, ir trabalhar e chegar a casa por volta da meia-noite e meia. As últimas semanas do chef Miguel Rocha Vieira têm sido assim, com uma pequena pausa durante a tarde para ir buscar os miúdos à escola e estar com eles um bocadinho. Para quem aceitou o desafio de vir explorar o restaurante e os quiosques da renovada Doca Da Marinha, em Lisboa, para ter uma vida mais calma esta rotina parece ser um grande contradição. O chef ri-se, mas justifica: "Tem de ser. Já estava mentalizado". Afinal, foi este o projeto que o fez deixar a Hungria e o sucesso em restaurantes com estrela Michelin.
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"É um desafio gigante e eu gosto muito de desafios. O que me fez não ter de pensar muito foi o facto de não ser só criar um restaurante mas sim toda uma nova zona de lazer numa zona nobre da cidade", explica Miguel Rocha Vieira. "Já tenho idade para ter juízo e não me meter em mais aventuras, mas é mais forte do que eu", admite o chef, 44 anos, que aceitou a proposta do grupo LeanMan, que tem a concessão do restaurante e dos três quiosques da Doca da Marinha, encostada ao Tejo e ao lado do Terreiro do Paço, renascida depois da intervenção do arquiteto Carrilho da Graça.
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O restaurante Anfíbio foi o último a abrir, ainda em regime de soft-opening, está agora a fazer um mês. "Está a correr bem, tem sido gratificante. Enche-me o coração estar na cozinha, ser mais um colega e não alguém no topo de uma hierarquia", analisa. Miguel Rocha Vieira estava com saudades disso, de meter as mãos na massa, de voltar ao prazer de cozinhar e este novo projeto deu-lhe isso. "Sempre disse que um dia voltaria a Portugal, mas teria de fazer sentido", conta. E cá está ele. Com muito trabalho, com dores no corpo, mas feliz. "Sou um felizardo", garante.

A preparação dos alimentos, na cozinha central "debaixo de água", segue as práticas do fine-dinning. Mas as "estupidezes" ficam de fora, diz Miguel Rocha Vieira.
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O Anfíbio é aquilo que chama o ponta de lança do projeto, com uma ementa que reflete a vontade de simplificar. A preparação dos alimentos, na cozinha central "debaixo de água", segue as práticas do fine-dinning. "Não sei cozinhar de outra forma", diz. Mas depois, no prato, essas "parvoíces em que se perdem horas e depois o cliente nem repara" ficam de lado. Mas atenção, "essas estupidezes também dão prazer", só não têm lugar neste restaurante.
O Tártaro De Novilho, "au couteau" e Batatas Soufflé (15€), o Brás do Mar Com Camarão da Costa e Molho de Crustáceos (17€), o Tortelloni De Bravo do Ribatejo, Raiz de Aipo e Pêra Rocha (14€), e o Cherne Assado com Manteiga Queimada, Limão e Alcaparras e Puré de Couve-flor (32€) têm tido muita saída nestas primeiras semanas.
Aqui pretende-se passar boas vibrações, até nos nomes de algumas propostas: O nosso Jardim, à Beira-Rio Plantado (Legumes da Horta Crus, Marinados e Cozidos, 16€), ou Cavala Em Escabeche como "lá em casa" (12€) ou "Bora lá" Partir a Pavlova, Toda! (Dulce de Leche, Goiaba e Amendoins para partilhar, 10€). "A diversão é o mote, tanto para nós que estamos a trabalhar como para quem lá vai. Queremos ver as pessoas a rir, a divertir-se", partilha.

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Por isso, já a partir desta semana começam as sessões de clubbing no Anfíbio, na sexta-feira com Seiva e no sábado com Aquário Coletivo. "Mas isto não é uma discoteca, que fique claro. É um local onde se come bem e se pode ficar mais um pouco a beber um copo", esclarece o chef.
Nos três quiosques da Doca - batizados pelas obras do Artista Julião Sarmento - que Miguel Rocha Viera já gere desde o verão -, os DJ sets ajudam na descontração que se quer. Cada um com propostas distintas. "Não fazia sentido ter três quiosques como todos os outros que existem em Lisboa, com pastel de nata e tosta mista", constata o chef. Assim, o Vermelho tem como especialidades a comida vegetariana e os brunches a qualquer hora. "Há quem diga que as panquecas [entre 5 e 6,5€] são as melhores de Lisboa. Eu não digo que sou suspeito", ri-se o chef.
No Amarelo, com petiscos, destaque para os Mini Hambúrguer de Carne Maturada com Maionese de Alho Assado, Queijo da Ilha e Compota de Cebola para partilhar (12€) ou para o Choco Frito à Nossa Maneira (12,5€). Finalmente, no Azul, com produtos do mar, têm tido boa aceitação as ostras do Sado (3un./10,5€, 6un./19€), os Carapaus Alimados à Algarvia (11€) ou as Lulinhas fritas com Limão (10€).
Também há peixe do rio, aquele que o Tejo der, numa opção que o chef Miguel Rocha Vieira quer tornar aposta. "É uma coisa pessoal", admite, salientando também a importância deste peixe em termos de sustentabilidade. Portanto, no futuro, a carta terá ainda mais propostas, promete.

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Prometido está também potenciar o cais, que permite o acesso direto ao Anfíbio a partir de uma ambarcação. "Ainda não foi estreado. Queremos muito apostar nisso, na vertente marítimo-turística, talvez levar alguém a ver o pôr do sol debaixo da ponte...". E também contribuir para a festa dos santos populares que vai acontecer entre 1 e 12 de junho na Doca da Marinha e que se anuncia como o maior "santódromo da capital".
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