A emancipação da quinta geração Ervideira
É como se o cordão umbilical tivesse sido cortado, mas os filhos ficassem sempre debaixo da asa, neste caso, do pai. Duarte e Bernardo, filhos de Duarte Leal da Costa, quinta geração da família da Ervideira, fizeram-se ao sonho de lançar um vinho em nome próprio e, cerca de três anos depois, sempre com o apoio e o orgulho paterno, já conquistam prémios. Flor de Sal foi ouro no concurso Sélections Mondiales du Vin 2023, que decorreu no mês passado no Canadá, o que só mostra aos dois irmãos o quanto valeu a pena o trabalho e lhes dá alento para continuar.
Flor da Sal é "fruto de um momento mau, mas que acaba por resultar muito bem", conta Duarte Jr. Leal da Costa, 29 anos. Como tantos outros casos, este vinho nasceu na pandemia, quando ele e o irmão, estava o país parado, ganharam tempo. Tempo que lhes permitiu dedicarem-se com mais afinco a um plano que já vinha de trás. Assim nasceu um vinho com uma "imagem simples e acolhedora" que funde a eleição de casta de cada um deles, uma portuguesa e uma internacional.
Nos brancos, a base é a Antão Vaz, com Sauvignon Blanc no Bronze e Gouveia no Silver. Nos tintos, a casta Aragonez é a base, com Syrah no Bronze e Cabernet Sauvignon no Silver. "Não temos obrigatoriamente de as manter, mas tentamos fazê-lo para manter os padrões de qualidade", explica Duarte Jr, falando dos vinhos silver como "mais estruturados, que pedem comida", e dos Bronze como vinhos mais suaves.
Cresceram no mundo dos vinhos, não fizessem eles parte de uma das mais antigas famílias produtoras em Portugal. Duarte Jr. Leal da Costa é diretor de Compras e Processos da Ervideira. O irmão Bernardo Leal da Costa, 26 anos, é responsável do Departamento Comercial mas estudou enologia pelo que é mais dele a "arte de meter as mãos na massa". "Complementamo-nos", conclui Duarte. No processo de emancipação participou a própria Ervideira, já que é das suas quintas na Vidigeira e em Reguengos de Monsaraz que vêm as uvas, é na sua adega que se produz o Flor de Sal e é de lá o enólogo Nelson Rolo que os acompanhou em todo o processo. "Termos a 'umbrella' da Ervideira permitiu-nos dar este passo mais rapidamente", admite Duarte Jr.
O pai, Duarte Leal da Costa, diretor executivo da Ervideira, olha para este salto dos filhos com orgulho, acreditam eles. "Foi ele que nos transmitiu tudo o que sabemos, toda a paixão que temos pelos vinhos deve-se ao nosso pai", justifica o mais velho, que ainda vê o setor a passar por uma fase "complicada", consequência da pandemia.
"Foram dois anos em que o consumo abrandou. As pessoas consumiram mais em casa, mas o maior consumo de vinhos é na restauração e hotelaria. Nesse período, o consumo aconteceu 100% no privado, o que criou muito excedente e estabilizou bastante os preços", analisa. Agora, junta-se a isso a "inflação gigante".
Para Duarte Jr Leal da Costa a vantagem dos vinhos Flor de Sal é a relação qualidade/preço (entre os 7 e os 11 euros) e a boa aceitação em mercados externos. "Em 2022, o número de vendas de Flor de Sal rondou as 50 mil garrafas, correspondente a uma faturação de 160 mil euros. Mas além do crescimento em termos quantitativos, fator que comprova o interesse por parte do consumidor de vinho, cresce ainda em termos de mercado, pois está já a entrar em geografias como Bélgica, Luxemburgo, Brasil, Canadá, entre outros que estão em fase de prospeção", afirma Bernardo Leal da Costa. "É uma honra podermos dizer que estamos a conseguir criar uma marca com alguma expressão", comenta o irmão.
Com o Natal a aproximar-se, advinha-se já como vai ser mais um jantar do clã da Ervideira. "Fazemos uma viagem pelos vinhos da família", confirma Duarte Jr. Leal da Costa. Do Flor de Sal ao Vinha d'Ervideira, que leva no rótulo as armas da família e que presta homenagem às gerações passadas, que desde 1880 produzem vinhos. Em breve, segundo os planos, haverá novas tipologias para servir à mesa.
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