#setembrosemcarnept. Aceita passar o resto do mês sem comer carne?

É verdade que o mês já começou, mas as criadoras do movimento dizem que ainda vai a tempo de participar. Em nome da Amazónia, do planeta e da saúde de cada um, desafiam os portugueses a trocar a carne pelas plantas durante o mês de setembro.
Publicado a
Atualizado a

E se, durante o mês de setembro, deixasse de comer carne? É este o desafio lançado aos portugueses por duas nutricionistas, Ana Monteiro e Bárbara Oliveira, que se juntaram a 13 bloggers numa iniciativa que pretende servir de alerta para os incêndios que devastaram a Amazónia. Ao lançar uma receita por dia à base de plantas, esperam inspirar a comunidade a abolir, ou pelo menos reduzir, o consumo de carne ao longo deste mês. Está disposto a trocar um bife de vaca por um hambúrguer de lentilhas?

"Há muitas pessoas que consomem carne diariamente. Isso não é saudável nem sustentável", diz Bárbara Oliveira, nutricionista, de 24 anos, que pretende mostrar que "não é necessário comer carne todos os dias, nem comprar quantidades tão grandes" como é habitual. Teve a ideia de criar o movimento Setembro Sem Carne "por causa dos fogos na Amazónia". É algo que se "ouve há imenso tempo, mas tem vindo a agravar-se". "As pessoas não tinham conhecimento ou noção do problema. Agora começaram a fazer imensas partilhas nas redes sociais, mas isso não ajuda", diz a jovem, que não é vegan nem vegetariana, mas raramente come carne. Como percebeu que existia "sede de ajudar", desafiou a colega Ana Monteiro a lançar um movimento.

"A Amazónia foi apenas a ponta do icebergue de um problema bastante presente, que é a desflorestação para produção de soja, sendo que 90% desta é para consumo animal", explica Ana Monteiro. Partindo da situação no Brasil - onde o número de incêndios aumentou 83% este ano - decidiram desafiar pessoas com interesse na área da alimentação saudável para se associarem. Desta forma, reuniram médicos, chefs, nutricionistas e health coachs, que durante o mês vão partilhar as suas receitas.

Para lançar o desafio, as duas nutricionistas partilharam duas sugestões: Bárbara explicou como se faz o chilli, Ana optou pelos hambúrgueres de lentilhas. "Cada dia há uma receita diferente que serve de inspiração. A maioria são pratos principais, mas também há sobremesas, para mostrar que não é essencial usar ovos ou leite. E temos algumas ideias de snacks e pequenos-almoços", explica a nutricionista, "vegetariana há mais de um ano e vegana há mais de um mês". Além das sugestões de pratos, os impulsionadores do movimento têm como missão informar os seguidores. "O que devem ter em conta para não existirem défices de nutrientes ou como cozinhar os alimentos, por exemplo".

Sem imposições ou extremismos, a ideia é que haja um "impacto positivo a nível ambiental e de saúde".Isto porque, explica a nutricionista, as últimas guidelines recomendam um consumo de 20 gramas de carne por dia, mas os portugueses consomem, em média, 150. Tendo em conta que para produzir um bife "são necessários milhares de litros de água", Ana Monteiro acredita que, no final do mês, o movimento terá tido um "impacto incrível" do ponto de vista ambiental.

Alimentação variada e económica

Ana Gomes, de 31 anos, autora do blogue A melhor amiga da Barbie, foi uma das pessoas que se associaram ao movimento. Como não come carne há mais de 20 anos e é muito sensível às questões ambientais, pareceu-lhe que esta era "uma ótima oportunidade para desmistificar algumas coisas em torno do consumo de carne".

Formada em health coaching, Ana sublinha que "é possível ter uma alimentação variada e económica sem consumir carne". Por isso, os bloggers "tentaram escolher alimentos que toda a gente pode ter em casa, como leguminosas, arroz e massa", e tiveram como premissa não "usar alimentos exóticos ou pouco acessíveis".

Ao telefone com o DN, Ana Gomes explica que a ideia não é fazer uma campanha para que as pessoas se tornem vegetarianas ou veganas, mas "mostrar que é possível reduzir o consumo de carne" de uma forma gradual e saudável.

Durante o mês, a bloggerirá apresentar as suas propostas: bolonhesa de lentilhas e chocolate. Contudo, explica, a participação não se limita à partilha de receitas, já que estará disponível para responder a questões relacionadas com a sua área de formação e experiência pessoal. Mãe de uma menina de dois anos, que não come carne, pode ajudar a esclarecer as famílias sobre uma alimentação deste tipo. "Como temos um grupo heterogéneo, encaminhamos as perguntas para a pessoa certa", sublinha, destacando que é "quase serviço público".

Mais do que abolir a carne

Margarida Santos, interna de Medicina Geral e Familiar e autora do blogue TheLifeStylePlan, irá partilhar receitas de crumble de vegetais e carbonara vegan, nos dias 13 e 28 de setembro, respetivamente. "Este movimento ajuda as pessoas a pensar numa alimentação mais consciente, com menos desperdício. É muito mais do que tirar toda a carne da alimentação. É olhar para o que comemos e para o impacto que tem no ambiente", diz ao DN.

Embora a dieta mediterrânea recomende uma a duas porções de carne por semana, "as pessoas consomem muito mais". "Há um consumo inadequado de alimentos processados, de carnes processadas e vermelhas", alerta a médica. A longo prazo, Margarida Santos considera que é necessária "uma redução do consumo de carne, pelo menos. Não digo total exclusão, porque isso funcionará para algumas pessoas e para outras não". No seu caso, adianta, só consome carne esporadicamente. "Mas quero tentar reduzir e ser mais consciente em diferentes aspetos, como na redução do desperdício e no consumo de plástico".

Até ao momento, há mais de 500 portugueses a usar a hashtag #setembrosemcarnept. É o caso de Irina Coelho, designer de interiores, de 31 anos, que se encontra "a tentar seguir" o movimento. Ainda não experimentou as receitas das bloggers, porque tinha algumas guardadas, mas a ideia é tentar não comer carne durante este mês. "Já não é algo que consuma com muita frequência. Talvez uma vez por semana. Há um ano que evito cada vez mais a carne", adianta.

As razões que a levaram a aderir prendem-se com o que está a acontecer na Amazónia, mas também com os inúmeros estudos que têm surgido a associar a carne ao aparecimento de doenças como o cancro. Reconhece, no entanto, que seria difícil tornar-se vegetariana. Embora praticamente não consuma carne de frango ou porco, Irina assume que, pontualmente, gosta "de comer um bife de vaca mal passado ou um bom hambúrguer artesanal". Mas o objetivo, frisa, é reduzir cada vez mais o consumo desta proteína animal.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt