Nova constelação de satélites proposta por Portugal à ESA vai avançar

Portugal será um dos líderes do novo projeto no âmbito da ESA, a agência espacial europeia, que se prepara também para reforçar o seu orçamento global para os próximos cinco anos, para concretizar grandes missões à Lua e a Marte
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A proposta que Portugal fez à ESA para a criação de uma nova constelação de satélites para observação dos oceanos vai mesmo avançar, confirmou ao DN o ministro da Ciência, Manuel Heitor, que preside em Sevilha, a par da sua homóloga francesa Frédérique Vidal, à conferência ministerial da organização, na qual estão a ser definidos o seu orçamento e os seus projetos para os próximos cinco anos. Na futura constelação de satélites, Portugal vai liderar a parte que diz respeito ao Atlântico, e o projeto será feito em colaboração com outros parceiros, nomeadamente a Alemanha e os países nórdicos para o Mar Báltico, e a Itália, França e Grécia para o Mediterrâneo.

Com as ambições europeias para o espaço em alta - conjuntamente com a NASA, voltar a colocar astronautas na Lua, em 2024, e recolher e trazer para a Terra amostras do solo marciano, numa missão que tem data prevista de lançamento em 2026, entre outros grandes objetivos -, a agência espacial europeia, ESA, está a definir em Sevilha o seu orçamento para os próximos três anos e, nesta altura tudo aponta para que ele vá aumentar em cerca de 20%.

Na prática, a concretização dos grandes desafios da Europa para o espaço, incluindo também o desenvolvimento de novas tecnologias para resolver o problema crescente do lixo espacial, a diversificação do mercado dos pequenos lançadores e de novos satélites e aplicações comerciais para a observação da Terra, áreas em que Portugal está particularmente interessado, vai depender do que os seus 22 estados membros decidirem na conferência ministerial que esta quinta-feira termina em Sevilha.

Nesta altura, tudo aponta para que os estados membros, em conjunto, vão mesmo apostar no aumento do orçamento da ESA para os próximos cinco anos, como confirmou ao DN Manuel Heitor, que está co-presidir à conferência. "Os maiores países, como a França, Itália, Alemanha e o Reino Unido já anunciaram que vão aumentar as suas contribuições", adianta o ministro, sublinhando o ambiente "saudável e bastante amistoso" da conferência, "muito diferente do que aconteceu há três anos", na anterior conferência ministerial, em que havia "um ambiente de grande competição" entre os vários países.

"Este ano, também devido ao trabalho que a ESA fez nos últimos meses, há um grande espírito de solidariedade e um reconhecimento de que a competição não é entre os vários países, mas da Europa no seu todo com os Estados Unidos e a China, que estão a fazer investimentos brutais no espaço".

A expectativa para o orçamento global da ESA para os próximos anos, que só ficará completamente fechado nesta quinta-feira, é assim de um aumento em quase 20%, fixando-se no final "entre 14 e os 15 mil milhões de euros", adianta Manuel Heitor.

Portugal reforça estratégia para o espaço

Portugal, à sua medida, vai de resto acompanhar esta tendência, e já definiu também um aumento de 20% do seu próprio contributo para a ESA, para os próximos cinco anos, passando de 70 milhões para 100 milhões de euros em termos globais, o que se traduz num aumento anual de 18 milhões para 20 milhões de euros.

A par disso, no entanto, o que deverá sair também desta conferência é um consenso entre todos os membros da ESA de que vai ser necessário articular de forma muito pragmática as verbas das ESA com os financiamentos da União Europeia para o espaço, a fim de garantir a competitividade europeia nesta área, face aos outros atores internacionais no domínio do espaço, sobretudo os Estados Unidos e a China.

"Por maior que seja o aumento da contribuição dos países, existe uma necessidade clara de articular melhor os investimentos da ESA com os outros investimentos europeus. Vários estados membros, incluindo Portugal, chamaram a atenção para que essa articulação entre a ESA e a Comissão Europeia seja concretizada", adianta o ministro da Ciência.

Para Portugal, que está a reforçar a sua estratégia para o espaço, com a proposta de dois projetos concretos - a nova constelação de satélites, e a instalação de um porto espacial europeu para lançadores de baixa capacidade, até aos 500 Kg -, e com a participação a partir de agora em novos programa da ESA de observação da Terra, telecomunicações e segurança espacial, a articulação entre os diferentes fundos de financiamento para o espaço é crucial.

"Vamos ter necessidade absoluta de fazer essa articulação entre os programas em que estamos envolvidos na ESA e o futuro programa europeu para o espaço [que será lançado pela Comissão europeia em 2021], os programas europeus da defesa e o Horizonte Europa [o programa-quadro para a investigação e inovação] ", conclui Manuel Heitor.

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