Tal como em Portugal metade da população do leste da Europa não confia nas vacinas

Investigação mostra crise de confiança em vacinas em algumas partes da Europa. Bangladesh e Ruanda são aqueles que registam a maior confiança em vacinas em todo o mundo e especialista explica-o pelo facto de ser nos países mais ricos, "onde não vemos muito o impacto terrível que estas doenças evitáveis podem ter, que as pessoas são mais reticentes". Em Portugal, os dados são contraditórios.
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Integram grande parte dos programas de saúde de países europeus, mas ainda há quem não confie na sua eficácia e escolha mesmo não vacinar. De acordo com o The Guardian, uma nova investigação da fundação Wellcome Global Monitor vem mostrar que apenas 50% dos cidadãos da Europa de leste e 59% da Europa ocidental consideram as vacinas seguras, sendo França o país que regista a maior percentagem de descrédito (33%).

A crise de confiança dos europeus na imunização terá estado mesmo na origem de surtos de sarampo em vários países e há especialistas que atribuem as culpas aos meios de comunicação social.

A diretora do Projeto de Confiança na Vacinação, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, diz que a imprensa tem ampliado a ansiedade da população, mesmo em países como o Reino Unido, onde a confiança nas vacinas costuma ser maior do que na grande parte do resto da Europa. "Onde o Reino Unido se encontra agora eu diria que está vulnerável", reitera Heidi Larson.

Ao contrário das regiões leste e oeste, no norte da Europa os cidadãos dizem confiar mais na segurança e eficácia das vacinas. Há 73% que as consideram seguras e 84% que são eficazes.

A nível mundial, e de acordo com esta nova investigação, 84% das pessoas reconhecem que as vacinas são eficazes e 92% dizem ter vacinado o seu filho. Os países Bangladesh e Ruanda são aqueles que registam a maior confiança em vacinas em todo o mundo. Ruanda tem, aliás, o maior nível de confiança nos seus serviços de saúde, com 97% - contra uma média global de 76%.

Em Portugal, numa altura em que se discute o alargamento do Plano Nacional de Vacinação, os dados são contraditórios. Apesar das elevadas taxas de vacinação (cerca de 95%), o último Eurobarómetro, conhecido em abril deste ano, mostrava que pouco mais de metade dos portugueses (53%) acredita que as vacinas previnem doenças infecciosas. Há outros 39% que entendem que "provavelmente" as vacinas podem prevenir, enquanto apenas 2% defende que "provavelmente não", ao lado de 1% que argumenta que "não, de todo". Já 3% respondem que esta forma de prevenção "depende da doença".

Por outro lado, um estudo da Comissão Europeia, divulgado em outubro de 2018, mostrava que Portugal é o país da UE com a maior percentagem de população a confiar nas vacinas. A maioria (98%) considera as vacinas importantes para a saúde, compreende que são efetivas (96,6%) e acredita que são seguras (95%).

A diferença entre ambos os estudos está na amostra, além da atualidade. A investigação de outubro contemplou os 28 países da União Europeia e cerca de 29 mil pessoas de uma amostra representativa de cada estado-membro - sem especificar exatamente qual a amostra relativa a Portugal. Já o Eurobarómetro sabe-se que inquiriu 1013 portugueses.

O trabalho da Wellcome Global Monitor analisou a opinião e comportamento de 140 mil pessoas em todo o mundo sobre a sua confiança nas vacinas. O que o estudo mostra é que a desconfiança nas instituições governamentais e a desconfiança sobre segurança das vacinas estão relacionadas.

"Esta pesquisa global inédita mostra que as crenças das pessoas sobre a ciência são profundamente influenciadas pela sua cultura, contexto e antecedentes", explicou Imran Khan, chefe de comunicação da fundação. E acrescenta que é preciso dar mais atenção "a estas relações, se quisermos que todos beneficiem da ciência", pois "há cada vez mais populações e países onde a confiança nas vacinas está a diminuir". "Isto representa um enorme risco para a saúde pública", rematou.

Segundo o editor executivo do banco pró vacina, GAVI Alliance, "é nos países mais ricos, onde não vemos muito o impacto terrível que estas doenças evitáveis ​​podem ter, que as pessoas são mais reticentes". E "esta reticência é um luxo", reforçou Seth Berkley.

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