Rachel McKinnon: uma ciclista transgénero na frente do pelotão
A ciclista Rachel McKinnon celebrou a vitória na prova de velocidade de Los Angeles, nos EUA, com um enorme sorriso na cara. Ganhou a medalha de ouro na prova feminina no escalão 35-44 anos. Mas a alegria não durou muito. Pouco depois, começou a receber mensagens de ódio: McKinnon é uma atleta transgénero, nasceu homem, e por isso muitos consideraram que a sua vitória é injusta. Uma das pessoas que se queixou foi precisamente a atleta que ficou em terceiro lugar na prova, Jennifer Wagner.
A ciclista do Canadá, que é também professora assistente no departamento de Filosofia na Universidade de Charleston da Carolina do Sul e especialista em estudos de género, reagiu às críticas: "Eu treino 15-20 horas por semana, 5 a 6 dias por semana. Sim... limitei-me a saltar do sofá e a ganhar. São todos uns fanáticos transfóbicos", escreveu no Twitter, após a vitória. McKinnon explicou ainda que a sua performance foi melhorando ao longo dos últimos meses, desde as provas de qualificação até à final, apesar de competir em "desvantagem" com as outras atletas: "Eu ainda sou forçada a ter um valor de testosterona que não é saudável... é tão baixo, é praticamente indetetável... muito abaixo da média para as mulheres", queixou-se.
Rachel Mckinnon diz que percebeu aos 13 anos que a sua identidade real não se coadunava com o que tinha no bilhete de identidade. Mas só perto dos 30 anos teve coragem para iniciar a mudança. Nos últimos anos, tem feito muita investigação para perceber a importância da testosterona nos resultados desportivos dos homens e concluiu que a sua influência é bastante diminuta: "É verdade que há uma diferença nos resultados dos atletas de elite masculinos e femininos. Mas há várias questões a ter em conta", diz. "Porque é que há essa diferença? As pessoas gostam de respostas simples e dizem que é porque os homens têm mais testosterona. Mas os nossos corpos não são simples; são complexos e confusos e belos. Vemos que 1/6 dos atletas masculinos de elite têm níveis de testosterona abaixo da média feminina, no entanto os seus resultados são melhores. Então, não é por causa da testosterona. E também notamos que essa diferença entre homens e mulheres na alta competição está a diminuir." Por outro lado, McKinnon defende que cada pessoa tem "uma vantagem genética" que a torna boa num determinado desporto - essa vantagem existe em qualquer pessoa e não é considerada injusta, então porque o será para os atletas transgénero?
"Não podemos ter uma uma mulher, legalmente reconhecida como tal na sociedade, e depois não reconhecer os seus direitos no desporto", afirmou McKinnon numa entrevista recente ao USA Today. "Pôr o foco nas vantagens da performance desportiva é irrelevante, pois esta é uma questão de direitos. Não nos devíamos preocupar com o facto de as pessoas trans ganharem as Olimpíadas. Devíamos em vez disso preocupar-nos sobre a igualdade nos seus direitos humanos."
Esta é uma questão que continua a causar debate no meio desportivo. Em 2016, o Comité Olímpico, decidiu que os atletas transgénero teriam de ter feito terapia e pelo menos dois anos de terapia hormonal para poderem competir. Mas no Canadá, o país de origem de Rachel McKinnon, desde a mudança dos regulamentos no mês passado, os estudantes trans podem agora competir em equipas que são consistentes com a sua identidade de género, mesmo que não tenham feito terapia hormonal.