Empresas nacionais só empregam 3% dos doutorados
As universidades portuguesas vão pedir ao governo a criação de um programa, apoiado por fundos comunitários e estímulos fiscais, que promova a contratação de doutorados pelas empresas nacionais. Uma reivindicação baseada nos débeis indicadores relativos à integração destes trabalhadores altamente qualificados no tecido produtivo. De acordo com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), apenas 3% dos doutores estão colocados no setor em Portugal, "enquanto que na generalidade dos países europeus cerca de 35% dos doutorados trabalham em empresas". Ou seja: a média nacional é mais de onze vezes inferior à europeia.
A proposta de um programa de inventivos será formalizada na III Sessão da "Convenção do Ensino Superior 2020 - 2030", que começa nesta terça-feira na reitoria da Universidade do Porto e terá a presença do primeiro-ministro, António Costa, na cerimónia de abertura.
O governo já lançou, na presente legislatura, alguns programas de estímulo ao emprego científico e tem tentado incentivar a cooperação entre empresas e instituições do ensino superior. Mas os reitores querem convencer o executivo a reforçar esta aposta, argumentando que não estão em causa apenas os interesses do setor mas também os benefícios que estes diplomados podem trazer ao país.
"O emprego científico não é só uma questão das universidades e dos centros de investigação: é um fator fundamental para o aumento da produtividade da economia portuguesa", defende Fontainhas Fernandes, presidente do CRUP e reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em declarações constantes de um comunicado do CRUP . "Por isso, têm de ser dados incentivos às empresas para que estas contratem mais doutorados - quer através das verbas europeias, quer mediante incentivos fiscais. Nas empresas, os doutorados vão ajudar a resolver problemas concretos e vão contribuir com processos de inovação para tornar os serviços e os bens produzidos em Portugal mais competitivos à escala global".
"É essencial para o desenvolvimento do país aumentar o financiamento da investigação de translação, ou seja, aquela que coloca nas empresas mão-de-obra altamente qualificada a desenvolver investigação focada e orientada para a resolução de questões específicas das empresas", subscreve Hélder Vasconcelos, vice-reitor da Universidade do Porto e responsável direto pela organização desta sessão da Convenção do Ensino Superior.
O número de portugueses que alcançam este patamar de qualificações tem crescido de forma acentuada desde o início do século. Os novos doutorados a saírem das universidades - os politécnicos também passarão em breve a poder conceder este grau - são o quádruplo dos que obtinham este grau em 1999, tendo já superado os 2300 por ano. No entanto, as empresas nacionais, com algumas exceções, têm revelado dificuldades (ou relutância) para absorver esta parcela altamente qualificada da população ativa.