É oficial. 2018 foi o quarto ano mais quente desde que há registos

Aumento da temperatura em relação à era pré-industrial já é superior a um grau Celsius, marca que parece ter vindo para ficar. As emissões de gases de efeito estufa também já estão outra vez a crescer.
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Tudo apontava para aí, mas agora é oficial. As contas estão feitas e 2018 foi mesmo o quarto ano mais quente desde que há registos meteorológicos, há mais de 150 anos.

Dito assim, já seria um recorde assinalável, mas o ano que passou teve também a particularidade de manter ininterrupta a tendência, que vem de 2015, do aumento em mais um grau Celsius da temperatura média da Terra em relação à era pré-industrial.

No ano passado, esse valor ficou em mais 1,1 graus, de acordo com um relatório publicado neste mês pelo serviço da União Europeia Copernicus para as alterações climáticas. É bom lembrar que os esforços para tentar travar os piores cenários das alterações climáticas, no âmbito do Acordo de Paris, colocam a fasquia num aumento máximo da temperatura em 1,5 graus no século XXI, em relação à era pré-industrial.

O ano mais quente de que há registo foi 2016, que contou para esse recorde absoluto (até agora) com o efeito amplificador do El Niño, um fenómeno climático cíclico, que pode ocorrer a cada três ou cinco anos, e que se inicia no oceano Pacífico com uma permuta entre as águas em profundidade e da superfície, gerando um aquecimento significativo do mar, e que tem efeitos à escala global.

Logo a seguir, no ranking, surge 2017, em terceiro lugar 2015 e, em quarto, 2018, como acaba de confirmar a organização científica independente Berkeley Earth. O ano de 2018, explica a organização, "foi mais quente do que qualquer outro antes de 2015". Ou seja, "o padrão mantém-se consistente com uma tendência de longo prazo para o aquecimento global".

E se a média da temperatura do planeta está agora 1,1 graus acima do valor médio de há um século e meio, os dados regionais desse aumento da temperatura são tudo menos idênticos.

No Ártico, como é sabido, o aquecimento global tem-se manifestado com mais intensidade e os dados mostram que em 2018 a temperatura foi 1,7 graus Celsius mais elevada do que a média dos últimos 30 anos. O aquecimento global foi ali duas vezes mais rápido do que a média mundial, de acordo com as observações científicas.

Multas para poluidores em queda na era Trump

Passada uma década sobre a crise económica de 2008, que foi a principal responsável por uma ligeira diminuição e posterior estabilização das emissões de gases de efeito estufa na última década, elas estão agora, de novo, a subir e podem bater novos recordes, avisam os cientistas.

É isso que consta de um relatório publicado do Projeto Carbono Global, e apresentado na última cimeira do clima, em Katowice, na Polónia.

Em 2017 as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) aumentaram 1,6% em relação à média dos anos anteriores, e em 2018 voltaram a crescer 2,7%, numa trajetória oposta à necessidade - e às promessas políticas - de corte nas emissões globais para evitar os cenários mais graves das alterações climáticas nas próximas décadas.

A isto não será alheio o facto de os Estados Unidos, que saíram formalmente do Acordo de Paris pela mão de Donald Trump, terem registado também nos primeiros dois anos da sua presidência o valor mais baixo, desde 1994, de multas ambientais para os poluidores. É isso que indica um estudo coordenado por Cynthia Giles, que dirigiu a EPA, a agência dos EUA para a proteção ambiental, durante a anterior administração Obama.

Os dados divulgados pela ex-responsável da EPA, e citados na imprensa norte-americana, apontam para uma quebra de 85% nas multas para os agentes poluidores no país, durante a administração Trump.

"O público espera que a EPA o proteja dos piores poluidores, mas a EPA de Trump não está a fazê-lo", afirmou Giles, citada no The Washington Post.

Andrew Wheeler, responsável da EPA, já veio dizer que não é bem assim e que em 2018 já houve um aumento das ações de fiscalização ambientais e mais multas para os prevaricadores.

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