Extensão de Almaraz aumenta risco de acidente grave, avisa Zero
A eventual extensão da atividade da central nuclear de Almaraz, em Espanha, até 2028 - hoje pedida pelos seus acionistas - aumenta substancialmente os riscos de se vir a dar um acidente com consequências graves, nomeadamente para Portugal. O alerta é de Francisco Ferreira, da Associação Ambientalista Zero que, em declarações ao DN, defende que o governo tem de tomar uma atitude.
"O governo português diz não querer interferir com a política energética de Espanha mas, em nosso entender, deve manifestar claramente a sua posição em relação a esta extensão de prazo", diz, explicando que "a probabilidade de um acidente grave, quer contaminando o Tejo quer podendo contaminar a atmosfera da região em volta, será acrescida com uma fadiga de material para além dos 40 anos [de funcionamento], que já era exagerado".
O governo espanhol, recorda o ambientalista, "previa 2023 /2024" como o limite para as atividades daquela unidade, pelo que, a concretizar-se a intenção dos proprietários da central, "temos aqui um acrescento de mais quatro anos. Para nós, 2023 já era o limite, porque correspondia aos 40 anos de vida útil da central, o que já era para além daquilo que é recomendável. Já merecia a nossa discordância, face aos riscos que isso significa.
Por isso, para Francisco Ferreira, "estender ainda mais quatro anos é absolutamente incompreensível e esperamos que o governo espanhol, seja este ou o próximo, não venha a autorizar essa medida".
Por outro lado, diz, a anunciada intenção dos acionistas de Almaraz, veio dar razão aos alertas que as organizações ambientalistas dos dois lados da fronteira vinham fazendo: "Só reforça os nossos receios de que o depósito temporário de resíduos, que lá está em construção, consubstanciava este [desejo de] continuar [a atividade] da central por mais tempo".
O compromisso de prolongamento da atividade, alcançado pelas empresas Iberdrola (52%), Endesa (36%) e Naturgy (11%) deverá ser ratificado pela assembleia-geral de acionistas que decorre nesta sexta-feira.
As empresas proprietárias de Almaraz têm até 31 de março para pedir de renovação da licença de exploração por mais 7,4 anos (2027) para o reator I da central e de 8,2 anos (2028) para o II.
Fica a faltar a aprovação das autoridades de Madrid. No entanto, segundo a agência Lusa, o acordo respeitará o estipulado no protocolo assinado há algumas semanas com a Endesa, a empresa pública responsável pela gestão dos resíduos radiativos, que prevê o encerramento de todos as centrais nucleares espanholas entre 2025 e 2035.
As cinco centrais nucleares em funcionamento em Espanha - Almaraz (Cáceres), Vandellós (Tarragona), Ascó (Tarragona), Cofrentes (Valencia) e Trillo (Guadalajara)-, que têm um total de sete reatores nucleares, cumprem 40 anos de vida útil entre 2023 (Almaraz) e 2028 (Trillo).
A central nuclear de Almaraz situa-se a cerca de 100 km de Portugal, numa das margens do rio Tejo.
Com Lusa