Incentivos, penalizações e educação: os desafios da reciclagem do plástico
A reciclagem dos polímeros esteve em debate esta sexta-feira, no Plastics Summit, em Ílhavo, onde estiveram reunidos vários responsáveis de empresas gestoras de resíduos.
Os números já não são novidade: cerca de 90% do lixo marinho é plástico e aproximadamente 80% provém de terra. Das casas, das empresas, das indústrias. Uma realidade que seria diferente se os resíduos fossem separados corretamente. Para isso, diz quem está no setor, é necessário sensibilizar, incentivar e penalizar, entre outras medidas. Um tema que esteve em destaque na mesa redonda "Desafios da Reciclagem", esta sexta-feira, no Plastics Summit, organizado pela Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), na Vista Alegre, em Ílhavo.
Cada pessoa produz diariamente mais de um quilo de resíduos, lembrou Carmen Lima, coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus, destacando que a produção de embalagens aumentou 5,6% de 2016 para 2017. Destacando que "uma grande parte dos resíduos é encaminhada de forma indiferenciada", esta responsável defende que a mudança "não se pode fazer só pela sensibilização", embora a "educação ambiental" seja essencial, mas também pela "penalização caso [os consumidores] não tenham os comportamentos ambientais mais adequados".
Carmen Lima defende "a aposta em recolhas seletivas", bem como em "novas soluções de matérias-primas para produção de plástico". Além disso, sugere que sejam dados "incentivos à utilização de materiais reciclados", como a redução do IVA. Para a responsável pela área dos resíduos da Quercus, os consumidores "deveriam pagar uma taxa quando compram embalagens de plástico", para sentirem a ecotaxa. "Temos que fazer sentir que a responsabilidade é dos consumidores, que são uma peça fundamental. São eles que colocam ou não nos ecopontos", defendeu.
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A participar na mesma mesa redonda, João Letras, diretor do Departamento de Gestão de Resíduos da Sociedade Ponto Verde, reforçou a necessidade de investir na "comunicação e sensibilização" e destacou que "precisamos de mais recolha porta a porta". Atualmente, adiantou, 94% da recolha é feita em ecopontos e o restante porta a porta. Por outro lado, "o consumidor tem de ter noção que os seus hábitos de consumo têm consequências", pelo que propõe, por exemplo, que haja um pagamento pelo lixo indiferenciado.
De acordo com as metas impostas pela Comissão Europeia e aprovadas pelos Estados-membros, até 2025 deve ser reciclado 50% do plástico, percentagem que aumenta para 55% até 2030.
Para que Portugal consiga cumprir os objetivos, Pedro Simões, gestor de operações da Novo Verde (a mais recente entidade gestora de resíduos), defendeu que é necessário "aumentar a recolha seletiva, diminuir a produção de resíduos e apostar no ecodesign", ou seja, na projeção de produtos com vista à reciclagem. E ainda "no desenvolvimento de novas tecnologias de separação e reciclagem mais eficientes", para que se consigam obter "materiais com mais qualidade".
Essa foi também a mensagem passada por Susana Ferreira, responsável da operação de Gestão de Resíduos do Electrão, que referiu um aumento da qualidade do produto reciclado. "Temos que ter uma recolha cada vez mais seletiva de resíduos cada vez mais limpos, que permitam reciclar com mais qualidade". Outro desafio, adiantou, "é aumentar a quantidade de plástico reciclado que pode ser incorporado" nos produtos.