Há uma segunda Terra aqui perto, mas o satélite TESS vai descobrir muitas mais
Até hoje conhece-se apenas uma escassa mão-cheia de planetas "gémeos" da Terra, ou quase. Têm mais ou menos a mesma dimensão e estão, tal como ela, à distância certa da sua estrela para poderem ter água líquida - as suas órbitas situam-se na chamada zona habitável, em relação às respetivas estrelas. Agora, porém, há mais um novo mundo neste restrito grupo. Chama-se TOI 700 d, e é o primeiro deste tipo a ser descoberto pelo TESS, o satélite caçador de planetas que a NASA enviou para o espaço em 18 de abril de 2018. A sua descoberta faz antever que o TESS ainda vai identificar muitos mais, acredita a NASA.
Na órbita de uma estrela-anã, cuja dimensão é menos de metade da do Sol, o novo exoplaneta está a cem anos-luz da Terra, uma distância relativamente curta em termos astronómicos, o que é muito importante para os astrónomos: a essa distância fica ao alcance dos observatórios terrestres para ser estudado em mais detalhe.
Para a NASA esta descoberta é também um marco. Com um rol de observações que já resultaram numa série de novos exoplanetas identificados, o TESS revela desta vez o seu primeiro idêntico à Terra em dimensão e localização em relação à estrela, o que dá muitas esperanças para a futuro da missão. Afinal, o satélite foi concebido, justamente, para procurar este tipo de exoplanetas, como explica Paul Hertz, diretor da divisão de astrofísica da NASA.
"O TESS foi desenvolvido e lançado especificamente para descobrir planetas com a dimensão da Terra na órbita de estrelas próximas", diz o astrofísico, sublinhando que "esses planetas na órbita de estrelas próximas são os mais fáceis de seguir e observar com os maiores telescópios de que dispomos na Terra". Por isso, nota ainda, "a identificação do TOI 700 d é uma descoberta-chave para a nossa missão".
O facto de a confirmação da natureza do exoplaneta ter sido feita por outro telescópio espacial, o Spitzer, é para Paul Hertz outro motivo de satisfação. "A confirmação da sua dimensão e da sua localização em relação à respetiva estrela pelo Spitzer é outra vitória, já que o Spitzer vai terminar agora em janeiro a sua missão".
O TESS, de Transiting Exoplanet Survey Satellite, que custou 161 milhões de euros (200 milhões de dólares), tem uma particularidade que lhe dá uma grande capacidade de observação: na sua órbita elíptica em torno da Terra, faz uma observação contínua a cada 27 dias de uma grande parcela do céu, recomeçando depois mais um período de 27 dias, e assim sucessivamente.
Este longo olhar dá-lhe uma capacidade de visão que lhe permite detetar as mínimas alterações no brilho das estrelas, um dos métodos para identificar possíveis exoplanetas, já que a sua passagem na frente das estrelas produz uma diminuição no brilho destas.
A partir dos dados do TESS sobre este novo exoplaneta, os astrofísicos fizeram simulações sobre a composição da atmosfera e a temperatura da superfície, e estimam que o novo mundo possa estar coberto de oceanos e ter uma atmosfera densa, com grandes quantidades de dióxido de carbono, semelhante à aparência de Marte há muitos milhões de anos. Mas este é apenas um modelo. Futuras missões e observações poderão focar-se neste planeta para perceber se de facto tem atmosfera e, caso se confirme, determinar a sua composição.
"Um dia, quando tivermos as medições reais do espectro do TOI 700 d vamos poder compará-lo com as simulações que agora fizemos e com isso conseguiremos melhorar os nossos modelos", explicou por seu turno Gabrielle Engelmann-Suissa, da Universities Space Research Association que está no Centro Goddard da NASA para os Voos Espaciais e que coordenou a parte da modelação sobre o novo exoplaneta.
Esta descoberta mostra ainda que se já se tornou mais fácil encontrar estes mundos mais semelhantes à Terra.
Até aqui as tecnologias permitiam sobretudo detectar planetas maiores, os chamados gigantes gasosos que são mais parecidos com Júpiter e Saturno. Mas o TESS acaba de demonstrar que as "Terras" em torno de outras estrelas - e os cientistas calculam que elas sejam pelo menos alguns milhões, só na Via Láctea - também já estão ao alcance dos novos instrumentos de observação.
O recente lançamento do satélite europeu CHEOPS, que também vai estudar estes novos mundos, faz antever que poderemos em breve chegar a um novo patamar de conhecimento e de possibilidades nesta área da astronomia.