Estes são os 10 melhores professores de Portugal

Seis mulheres e quatro homens, de norte a sul do país, de Portugal continental às ilhas, são os nomeados a melhores professores do ano. O vencedor será conhecido esta segunda-feira, em Lisboa.

Mais de 200 candidaturas e acima de 1500 recomendações submetidas por alunos, colegas e encarregados de educação depois, foram eleitos dez professores portugueses finalistas da segunda edição do Global Teacher Prize Portugal 2019, um prémio que elege aquele que é o melhor professor do ano. O vencedor será conhecido esta segunda-feira, numa cerimónia que terá lugar no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.

É a segunda vez que Portugal se torna um dos países no mundo (atualmente, 17) a celebrar uma edição nacional do conhecido por ser o "Nobel da Educação", o Global Teacher Prize Internacional. Na primeira edição portuguesa, em 2018, foi Jorge Teixeira, professor de ciências do ensino secundário público, em Chaves, o vencedor. E entrou, inclusive, para o Top 50 de finalistas a nível mundial.

Esta edição conta com seis mulheres e quatro homens finalistas, chegados de diferentes zonas do território nacional, de 18 distritos do continente e das regiões autónomas. Lecionam em diferentes níveis de ensino, do pré-escolar ao 12º ano, no ensino público ou privado, a exercer em Portugal ou em instituições nacionais. Todos eles procuram métodos de ensino alternativos com vista à valorização do ensino, adaptado a todos.

Os professores Álvaro Laborinho Lúcio e Afonso Mendonça Reis (membro do painel da edição mundial) presidem o júri deste ano, acompanhados de Pedro Carneiro (representante da comunidade científica), Sara Rodi (representante dos encarregados de educação), João Brites (representante dos alunos) e o professor universitário e psicólogo Eduardo Sá.

A professora que também é "coach"

Ana Mafalda Gonçalves leciona na Escola Básica e Secundária da Cidadela, em Cascais, onde criou o que diz ser um gabinete de coaching aos alunos, o Gabinete Guia. Quando se apercebeu da grande quantidade de alunos confusos com as suas escolhas profissionais futuras ou sem capacidade e motivação para conseguirem ingressar no curso superior que pretendem, Ana decidiu dar-lhes a mão. Agora, concorre ao prémio de melhor professor do ano.

"Trazemos palestrantes para falar da sua vida profissional, pessoas com histórias inspiradoras. E fazemos workshops a pedido. [Isto é] os alunos escolhem as áreas em que querem ser formados. Se não sabemos dá-la, convidamos alguém que o saiba fazer por nós", explica.

Ensinar o mundo através do cinema e da moda

Na Madeira, Angelizabel Freitas enche as mesas da sala de aula de tecidos e dá mais voz ao cinema para ensinar cidadania ativa aos seus alunos. A professora da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares, na Ribeira Brava, recorre a temas que interessem aos alunos como metodologias de aprendizagem distintas, através do projeto ECG - Educação para a Cidadania Global.

Alguns dos trabalhos ligados à moda já foram expostos e reconhecidos em eventos na Madeira. "Ajudar os alunos a pensar de uma forma crítica e criativa para a resolução de problemas. Os alunos aprendem, sobretudo, a comunicar uns com os outros e a conviverem entre as suas diferenças", diz a professora.

Menos trabalho e mais tempo de qualidade

Para David Ferreira, professor no Agrupamento de Escolas Alcaides de Faria, em Barcelos, ensinar só faz sentido se for feito de forma integrada. Por isso, decidiu criar um sistema ao qual chamou "A aula integral", através do qual leciona sempre tendo por base ferramentas digitais como o Google Classroom, o Quizizz e o Kahoot!, para reforço da aprendizagem dos seus alunos de forma mais interativa.

A iniciativa "A aula integral" constitui um grupo de atividade já testadas no plano anual de atividades do seu agrupamento escolar e procura recorrer a ferramentas que sejam adaptáveis a qualquer tipo de aluno, sem que a escola seja um esforço, mas sim algo divertido. "O primeiro objetivo era que fosse universal e anual, depois que acelerasse a aprendizagem - os alunos gastarem menos tempo e terem menos trabalho para aprender", explica. ", "em terceiro lugar, permitir três aspetos essenciais do processo educativo: rever, recompensar e responsabilizar", remata.

"Acima de tudo, os alunos dizem que a matéria é fácil. O que, na nossa opinião, é o melhor indicador de sucesso."

A cantar e a dançar se vai ensinando

Nas aulas de Fernanda Alves, não falta música e dança e a vida é mesmo transformada numa grande peça de teatro musical. No Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, no Porto, criou o Projeto de Teatro Musical, através do qual mais de 200 crianças participam anualmente na concretização de um espetáculo. A professora quem escreve os guiões, com letras originais, tendo por inspiração o tema anual do colégio.

Fernanda encontrou neste iniciativa uma forma de pôr os seus pequenos alunos a perderem a vergonha de se expressarem livremente, física e oralmente, e assim aumentarem a sua autoestima.

Um canal para aprender a música

Este ano, há dois professores ligados à música. José Galvão diz que antes de ser professor já era músico e que foi mesmo na música que encontrou sua motivação para ensinar, a muitos e bem. Através de um Canal de Educação Musical, no Youtube, o professor do Agrupamento de Escolas do Vale da Amoreira, Moita, cria e partilha manuais interativos.

Mas o que começou por ser um projeto para as suas turmas acabou por ser para todos os outros alunos, espalhados pelo país, que nunca sequer conheceu. O seu canal conta já com quase oito milhões de visualizações e 25 mil subscritores (entre os quais, dois mil professores de educação musical do mundo inteiro). As suas aulas online dão a possibilidade de se adaptar o ritmo de aprendizagem a cada aluno e permite mesmo que este evolua de forma autónoma.

"Ser professor e ajudar a formar músicos é um amor para toda a vida", diz.

Alunos mais solidários

Desde que Ilda Lima teve a ideia de criar um clube de voluntariado na Escola Básica D. Pedro IV, em Vila do Conde, garante que algo mudou. "Temos tido resultados cada vez mais bonitos, em que toda a escola sente que é solidária", diz. O projeto "Dar e Receber" propôs aos alunos o desenvolvimento do voluntariado em contexto escolar durante 45 minutos do seu tempo livre semanal, tendo em vista melhorias na escola.

Mas não demorou muito até a solidariedade destes alunos passar os portões da sua escola. Atualmente, a iniciativa tem como alvo famílias e outros grupos sociais."Conseguimos, de uma forma muito simples, pôr todas as pessoas a ajudar e a olharem para o lado, para quem precisa de nós", sublinha.

O ensino dos "afetos"

Luísa Fernandes diz que é professora numa "escola de afetos, de amor". Ou melhor, numa "escola piegas" e "onde as pessoas gostam de estar". No Agrupamento de Escolas de Carcavelos, a professora criou o Projeto de Educação para a Saúde (PES), com vista à consciencialização e valorização da saúde de cada um e de todos em conjunto.

Os alunos do PES deslocam-se às salas de aula para "Um minuto de bem-estar", uma atividade onde ajudam os colegas a aprender a relaxar, através de técnicas de respiração e de meditação guiada.

Alunos capazes de solucionar problemas reais

"Quando lecionei a alunos dos PALOP, relataram-me diversos problemas que existiam nas suas comunidades, como a falta de luz e de saneamento", diz Maria Inês Rodrigues, professora no Agrupamento de Escolas N.º1 de Gondomar. Foi nessa altura que decidiu ter um papel mais interventivo junto destes jovens.

"Iniciei um projeto, a Banca Solar, que ainda hoje funciona e foi funcionando nas escolas públicas por onde fui passando, em que tentávamos aplicar todas as competências que os alunos iam adquirindo ao longo do seu período formativo na resolução de problemas reais. Eles tinham um problema e tinham de encontrar uma solução que depois era implementada em África", conta. Mas também podem ser implementadas em Portugal. Os alunos correm para o terreno, recolhem testemunhos e idealizam a melhor solução para os problemas sociais.

Denominou esta técnica de aprendizagem de Project Based Learning ou mesmo Problema Based Learning, quando aplicada deste a educação infantil à unievrsitária. Maria acredita que o ensino deve basear-se em problemas reais, fora dos manuais, por isso, os seus alunos devem ser capazes de solucionar problemas reais. "A ideia é que eles percebam que a escola é importante e que pode ajudar alguém no futuro", diz.

E porque considera que "os professores são o maior veículo de informação", está já a formar outros docentes para implementarem esta técnica de ensino junto das suas turmas.

Tudo em prol da atenção do aluno. Até aulas com humor

Manter a atenção de um aluno durante 45 ou 90 minutos (os tempos médios de duração de cada aula) não é tarefa fácil. Mas Rui Correia pensa ter encontrado a solução e, até agora, os resultados estão à vista nas turmas que leciona na Escola Básica de Santo Onofre/Agrupamento de escolas de Raul Proença, nas Caldas da Rainha.

"Num meio socioeconómico desfavorecido como aquele em que eu trabalho não é nada fácil garantir que os alunos têm a noção de que estudar é uma coisa para todos. Isso tornou-se uma obsessão para mim: assegurar que os alunos têm ciclos de atenção durante uma aula, que lhes permita estar realmente interessados em perceber", conta. Através de várias atividades diferentes ao longo da aula, Rui tenta garantir que nenhum aluno perde o foco, tornando a aprendizagem até mais descontraída e divertida. Ou pede aos alunos para escreverem um resumo do que é lecionado a cada 15 minutos numas páginas amarelas - até premiando os melhores resumos - ou oferece-lhes pequenos quadros brancos e "copos semáforos" através dos quais mostram se estão a perceber ou mesmo a gostar do que lhes está a ser ensinado.

"Isto sempre envolvendo muito riso e muito humor. Não há nenhuma possibilidade de perceber a aprendizagem sem que ela seja descontraída, simpática e amável", faz questão de lembrar.

É tudo uma questão de narrativa

Vítor Manuel Domingues Gonçalves é outro dos nomeados na segunda edição do Global Teacher Prize Portugal. É a diferença que faz no Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas, em São Brás de Alportel, que o trouxe até esta nomeação.

O professor decidiu tornar o processo de aprendizagem dos seus alunos numa experiência muito mais divertida a transversal, rentabilizando o uso das TIC - Tecnologia de Informação e Comunicação e fomentando o "Transmedia Storytelling", para a promoção do conteúdo disponível na biblioteca da escola. Os seus alunos já foram capazes de criar uma estação de prevenção de incêndios, um dispositivo que permite transformar um corpo humano em dados binários, ajudar o processo de desenvolvimento de próteses, artefactos tecnológicos que vão integrar narrativas a partir dos livros - posteriormente apresentados a toda a comunidade educativa.

A iniciativa envolve alunos do ensino secundário, primeiro ciclo e até encarregados de educação. "Uma vez por semana, os mais velhos (alunos do secundário) iam ajudar os mais pequeninos (da primária)", conta.

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