Escolas vão ensinar crianças e jovens a andar de bicicleta
Todos os alunos portugueses deverão aprender a andar de bicicleta em segurança nos próximos anos. No âmbito da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa 2020-2030, que vai estar em discussão pública no próximo mês, o Governo pretende que a cidadania rodoviária seja providenciada "a partir do pré-escolar, e continuada nos níveis seguintes, incentivando o uso partilhado e responsável do espaço público."
Na sequência da notícia avançada pelo Público, o secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, esclarece que esta matéria "não tem que entrar no currículo das escolas", nem faz "sentido criar uma disciplina para a bicicleta". O objetivo, explica, "é levar as bicicletas às escolas, com algo em torno das atividades circunsculares ou outras - há uma série de formatos possíveis".
Ressalvando que ainda não foi definido o plano de ação, José Mendes refere que podem ser reservados "determinados períodos, infraestruturas e monitores" para as atividades em torno da bicicleta. "Algumas ações até podem ser itinerantes nas escolas", adianta.
"Vamos criar um modelo que permita levar às escolas, nos diferentes ciclos, a possibilidade de as crianças e jovens adquirirem competências ao nível da mobilidade ciclável, tanto operacionais - de manipulação do veículo - como de cidadania rodoviária", diz ao DN o secretário de Estado. Com isto, o Governo quer ajudar a combater aquele que é "o maior bloqueio para uma utilização mais alargada da bicicleta, que é o facto de as pessoas se sentirem inseguras".
A aprendizagem será gradual, sendo que "as atividades em torno do plano de ação nos níveis de ensino mais baixo serão em contexto protegido". "À medida que avançamos podemos começar a sair com atividades organizadas a partir e com as escolas e, no limite, na via pública".
Ao mesmo tempo, o Governo está "a tentar avaliar a possibilidade de alargar a cobertura do seguro escolar para integrar os jovens que vão de bicicleta para a escola". Pequenos contributos, sublinha, "que permitem criar um contexto favorável, de segurança e apoio que permitirão que mais pessoas usem a bicicleta".
A ideia é que aconteça com a mobilidade ciclável o que aconteceu com a reciclagem. "A capacidade de influenciar nas crianças, a pedagogia que imprimiram na sociedade foi extraordinária", recorda José Mendes, destacando que "tudo o que corresponde a alteração de comportamentos tem de começar com os mais jovens, que são capazes de influenciar os adultos de hoje".
O investimento junto das crianças e jovens em idade escolar é uma das 51 medidas da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa, apresentada nesta quinta-feira, no Barreiro. Para 2030, o principal objetivo é que 7,5% das viagens em Portugal sejam feitas de bicicleta. "Face aos dados de 2011, é multiplicar por 15 a sua utilização", diz José Mendes, destacando que, se alcançar a meta, Portugal fica um pouco acima da média da União Europeia (7%).
Além disso, o país deverá reduzir a sinistralidade rodoviária nos peões e ciclistas em 50% e aumentar de dois mil para dez mil quilómetros as vias cicláveis.
Em Lisboa, há já pelo menos uma escola em que os alunos aprendem a andar de bicicleta sozinhos. É na Escola Básica dos Coruchéus, em Lisboa. Os professores vêm de fora, da escola Os Coelhinhos. "No ano passado, tivemos uma turma de 4.º ano com 25 alunos, 80% não sabiam andar de bicicleta. E estas crianças estão no limiar da aprendizagem, a partir daí entram na idade da vergonha", diz o instrutor Paulo Vaz.
No ano passado, a escola Coelhinhos ensinou 1545 crianças de 14 escolas a andar de bicicleta. Fazem-no de forma gratuita para os alunos, uma vez que estas aulas resultam de um protocolo com a Junta de Freguesia de Alvalade.
A pensar nos alunos que se deslocam para a escola desta forma, o grupo parlamentar do CDS-PP apresenta nesta sexta-feira, na Assembleia da República, um projeto de resolução para pedir uma atualização do regulamento do seguro escolar para que estejam incluídos acidentes com velocípedes sem motor.
"A ideia é estender às bicicletas aquilo que já existe na deslocação dos alunos para as escolas a pé e em veículo motorizado. Nós entendemos que não faz sentido nenhum que quem vai de bicicleta seja penalizado e que não tenha a cobertura que têm outros meios. Por um lado é a proteção dos alunos, por outro é a promoção de boas práticas", explica ao DN o deputado do CDS João Almeida.
Também o PEV indica que "não faz sentido que o seguro escolar não cubra acidentes ocorridos com este meio de transporte utilizado por alunos nas deslocações pendulares entre as suas casas e a escola que frequentam", numa resolução sobre o mesmo tema. O DN tentou obter mais informações junto do grupo parlamentar sobre a recomendação que vão apresentar ao governo, mas não obteve resposta em tempo útil.
Já o PAN vai defender a criação de um grupo de trabalho que "promova a criação de estratégia nacional, integrada e abrangente, para a mobilidade em bicicleta, que aborde, nomeadamente, além de infraestruturas, questões como a intermodalidade com os transportes públicos, a sinistralidade rodoviária, a qualidade do espaço urbano, a educação para a mobilidade sustentável, incentivos à utilização da bicicleta e mudança de comportamentos", indicou ao DN o deputado do PAN, André Silva.