Centenas de sismos no Faial em oito dias. O que explica este fenómeno?

Todos no mesmo local, sempre de baixa magnitude, entre os quais nove sentidos pela população. Não há um dia sem sismos nos Açores e esta é a terceira crise registada este ano.
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Não é um, nem são dois. São já centenas os sismos registados desde as 16:00 do dia 3 de novembro, numa zona localizada aproximadamente entre os 25 e os 30 quilómetros a oeste da freguesia de Capelo, na Ilha do Faial, Açores. Entre estes, apenas nove foram sentidos pela população, todos eles com baixa magnitude, mas com diferença de poucas horas. Afinal, o que se passa no arquipélago? O fenómeno "não é fora do normal", explica o presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), Rui Marques.

O número de tremores pode ser assustador, mas "esta é uma zona que recorrentemente tem incrementos de atividade sísmica", diz o investigador. O facto de o arquipélago se encontrar "numa zona geodinamicamente muito ativa" torna frequente esta atividade sísmica. Rui Marques explica que os Açores encontram-se "entre três placas tectónicas que aqui se conjugam, que é a placa americana, a placa euro-asiática e a placa africana" e "mesmo na fronteira de placas euro-asiática e africana que está constantemente em movimentação".

"Todos os dias há sismos nos Açores. Não se ouve falar muito, porque as pessoas acabam por não sentir grande parte destes sismos - e ainda bem, senão causava algum pânico", conta. Só no ano corrente, esta é a terceira crise sísmica, depois de uma ocorrida em abril e outra em setembro. Todas elas com "mais ou menos as mesmas características e sempre no mesmo local".

Foi entre as 3:00 e as 14:00 desta quinta-feira, 7 de novembro, que mais sismos se registaram por hora nesta zona. Mas o sismo mais energético desta crise atingiu uma magnitude de 4,4 na escala de Ritcher, no dia 5 de novembro, às 6:22 (hora local), e foi sentido em toda a ilha.

O presidente do CIVISA diz que "para um sismo ser sentido não é só a magnitude (relacionada com a libertação de energia) que importa calcular". Para tal, há "uma outra escala que nos ajuda a perceber o impacto do sismo, que é a intensidade". O que esta escala diz é que, "à distância em que estes sismos ocorreram, basta uma magnitude de 3,1 para ser sentido". "Se fosse mais próximo, nem era necessário tanta magnitude", remata.

Para o investigador, a memória sísmica é uma constante no arquipélago, onde recorrentemente se registam "episódios com capacidade destruidora". O último, lembra, foi na madrugada de 9 de julho de 1998. Às 05:19 (hora local), um sismo de magnitude 5,8 (na escala de Richter) assolou as ilhas do Faial, Pico e São Jorge, provocando nove vítimas mortais, aproximadamente 100 feridos e deixando um rasto de destruição em mais de 70% do parque habitacional - 20% das casas ficaram totalmente destruídas e 53,8% danificadas, segundos dados do CIVISA.

Não é possível prever quando é que o arquipélago poderá voltar a sofreu um novo capítulo sísmico de grande dimensão, nem quando a atual crise sísmica terá fim. Segundo Rui Marques, "estamos numa altura em que se registam menos sismos por hora", mas tal "não significa que esta crise esteja perto de terminar".

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