As alpacas podem dar uma ajuda decisiva para travar o novo coronavírus

O animal sul-americano possui anticorpos raros que, segundo cientistas suecos e peruanos, podem ser usados para um tratamento contra a infeção de SARS-CoV-2.
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Numa altura em que decorrem, pelo menos, 124 projetos de investigação para uma nova vacina contra a covid-19, uma equipa de investigadores de Estocolmo, na Suécia, concentra as atenções em descobrir um tratamento com anticorpos neutralizantes que matam a infeção após esta surgir na pessoa. Consideram ser um objetivo mais acessível do que uma vacina que previna a infeção e, para tal, a equipa do projeto CoroNAb está a recorrer a anticorpos recolhidos em alpacas, um animal da América do Sul que possui um tipo diferente de anticorpos, úteis para o diagnóstico e tratamento de várias doenças, por meio de técnicas de biologia molecular.

O projeto CoroNAb foi criado em fevereiro, quando só havia 1000 mortes por Covid-19 conhecidas no mundo. "A contenção da propagação do vírus não é nosso objetivo principal", disse Benjamin Murrell, professor do Departamento de Microbiologia e Biologia Celular no Instituto Karolinska . "O nosso objetivo é encontrar terapêuticas para interromper a progressão da doença num doente", disse, citado pela publicação da Comissão Europeia Horizon.

Os cientistas de Estocolmo estão a concentrar os esforços de investigação em ratos, macacos e alpacas. As alpacas são camelídeos (como camelos e lhamas) da América do Sul e produzem fragmentos de anticorpos, conhecidos como de 'domínio único', que permitem a descoberta rápida e a produção em larga escala de anticorpos. Por isso estão no centro da investigação da equipa CoroNAb.

Decorrido um mês do projeto, os mamíferos foram injetados com variantes criadas em laboratório das proteínas do novo coronavírus e dados preliminares indicam que todos os grupos de animais estão a responder bem, com a recolha de anticorpos da alpaca em curso.

Agora, os investigadores vão testar a atividade neutralizante dos anticorpos produzidos contra o SARS-CoV-2. Benjamin Murrell avalia que "as próximas semanas são críticas e incertas. Dependendo desses primeiros resultados, podemos ter sorte ou talvez tenhamos de recuar alguns passos e repetir".

Apesar de todas as incógnitas, o especialista está confiante de que anticorpos neutralizantes vão surgir. "Vamos fazer alguma coisa funcionar", disse.

Para entrar em futuros tratamentos, um anticorpo necessita ter uma forte vantagem sobre a concorrência. "Se o anticorpo de um grupo for 10 vezes mais potente que o outro, isso é bom pois permite produzir muito menos para uma terapia eficaz, reduzindo a carga de fabrico", explicou Murrell.

Outra investigação revelada em maio concluiu igualmente que as alpacas possuem anticorpos que podem bloquear o novo coronavírus, num trabalho desenvolvido na Universidade Cayetano Heredia, no Peru.

A investigação utilizou quatro jovens alpacas para os testes e as conclusões coincidem ainda com um trabalho belga realizado com lhamas, outro camelídeo andino, divulgado recentemente.

"Os anticorpos da alpaca são dez vezes menores que os anticorpos convencionais, além de terem alta sensibilidade e afinidade, muito boa escalabilidade e serem termo-estáveis", disse Patricia Herrera, uma das cientistas da equipa citada pela AFP.

"É possível usar o VHH [nano anticorpos] de alpacas para detetar anticorpos contra a Covid-19 que as pessoas infetadas adquirem e que foram gerados entre uma e duas semanas após o contágio", diz a cientista. "Para cada caso, as alpacas seriam imunizadas com a proteína do patógeno que queremos reconhecer. Os VHH são muito específicos, ligam-se a essas proteínas e, portanto, o vírus não ligaria à célula, não a invadia e não se espalharia. É como se a VHH competisse com o vírus e não permitisse a sua entrada."

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