"A ameaça de uma pandemia global é real" e pode matar milhões, alerta OMS

Relatório divulgado esta quarta-feira por um painel de especialistas dá o exemplo da "gripe espanhola" que, em 1918, matou cerca de 50 milhões de pessoas. Se esta pandemia acontecesse hoje poderia espalhar-se rapidamente em menos de 36 horas e matar até 80 milhões de pessoas, destruindo quase 5% da economia global
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O mundo está a enfrentar uma ameaça crescente de doenças pandémicas (com distribuição geográfica muito alargada) que podem matar milhões e devastar a economia global, alertou um painel internacional de especialistas liderado por Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da Organização Mundial de Saúde . Os governos deviam trabalhar para se preparar e minimizar o risco. Na opinião dos especialistas, os países não estão preparados para uma eventual pandemia global.

O Conselho Global de Monitoramento da Preparação (GPMB), convocado pelo Banco Mundial e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), alertou esta quarta-feira que doenças virais propensas a epidemias como a Ébola, a gripe e a SARS (síndrome respiratória aguda grave) são cada vez mais difíceis de controlar. A razão tem a ver com o facto de vivermos num mundo dominado por conflitos prolongados, estados frágeis e migração forçada.

"A ameaça de uma pandemia que se espalha pelo globo é real", salienta o painel de especialistas num relatório divulgado esta quarta-feira. "Um agente infeccioso em rápido movimento pode provocar uma doença que se espalha rapidamente e tem o potencial de matar dezenas de milhões de pessoas, perturbar economias e desestabilizar a segurança nacional", enumera o relatório.

O mundo não está preparado para enfrentar uma possível pandemia global. Alguns governos e agências internacionais fizeram esforços para estarem vigilantes e preparados para grandes surtos de doenças desde o devastador surto de Ébola de 2014-2016 na África Ocidental - afetou cerca de 29 mil pessoas, das quais 11 310 morreram, principalmente na Guiné, Libéria e Serra Leoa. Mas esses esforços, diz o relatório, são "bastante insuficientes".

Em caso de pandemia, os sistemas de saúde, sobretudo dos países mais pobres, entrariam em colapso

Gro Harlem Brundtland, um antigo dirigente da Organização Mundial de Saúde que co-presidiu o Conselho Global de Monitoramento da Preparação afirma que as abordagens atuais para emergências de saúde são "caracterizadas por um ciclo de pânico e negligência".

O relatório cita a pandemia da "gripe espanhola", de 1918, que matou cerca de 50 milhões de pessoas. Com um grande número de pessoas a atravessar o mundo em aviões todos os dias, uma pandemia semelhante podia hoje espalhar-se globalmente em menos de 36 horas e matar até 80 milhões de pessoas, destruindo quase 5% da economia global.

No caso de uma pandemia, muitos sistemas nacionais de saúde, particularmente nos países pobres, entrariam em colapso. "A pobreza e a fragilidade agravam os surtos de doenças infecciosas e ajudam a criar as condições para que as pandemias ocorram", afirmou Axel van Trotsenburg, vice-presidente do Banco Mundial e membro do painel de especialistas.

"A ameaça da gripe pandémica está sempre presente", diz OMS

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, defende que os governos deviam investir no fortalecimento dos sistemas de saúde, aumentar os fundos para pesquisas em novas tecnologias, melhorar os sistemas de coordenação e comunicação rápida e monitorizar o progresso rapidamente.

A OMS também alertou no início deste ano que outra pandemia de gripe - causada por vírus que se espalha pelo ar - é inevitável e disse que o mundo deveria se preparar para isso.

"A ameaça da gripe pandémica está sempre presente", disse, na altura, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, acrescentando: "O risco contínuo de um novo vírus influenza transmitindo de animais para humanos e potencialmente causando uma pandemia é real. A questão não é se teremos outra pandemia, mas quando".

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