2020? Não em todo o lado. Há países que contam os anos doutra maneira
Chegado o último dia do ano, fazem-se os derradeiros balanços, organizam-se festas para marcar a passagem de mais uma folha do calendário carregada de simbolismo, renovam-se os votos de esperança e as promessas de novos projetos e então, com o tempo já a esgotar-se, lá se inicia a contagem decrescente: 10, 9, 8...passas na mão, champanhe a postos, 7,6,5... sorrisos, expectativa, 4,3, 2, 1 ...
Ao momento zero, os fogos-de-artifício estoiram, as taças de champanhe passam de mão em mão, fazem-se saúdes, há beijos e abraços. Aí estará ele, então, 2020, o novo ano. Em alguns países, no entanto, esta é apenas uma das passagens de ano que hão de celebrar nos próximos 366 dias. Países como a Tailândia, Israel ou o Irão, que têm os seus calendários próprios, contam de outras formas os anos, que além disso começam noutras datas.
No final, o mundo acaba por se regular pelo calendário gregoriano, aquele que nos rege desde 1582, quando o papa Gregório impôs uma nova forma de contar o tempo, que teve o grande mérito de conseguir acertar os meses com a sucessão das estações na Europa.
As relações internacionais, a economia, as bolsas, o frenesim financeiro e os mercados, tudo isso se reporta à forma como nos relacionamos com a passagem do tempo ditada por Roma há 437, mas alguns países mantêm paralelamente o seu próprio calendário, de acordo com o qual fazem as suas próprias celebrações religiosas e festividades nacionais, incluindo outras datas que ali marcam o início do ano.
O calendário chinês, com os seus 12 animais, que são outros tantos signos para cada novo ano - o próximo, que se inicia em 25 de janeiro, ficará sob os auspícios do Rato - é talvez o mais conhecido entre os outros calendários, para além do gregoriano que nos rege.
Baseado no sistema lunar e solar, que relaciona a posição entre ambos os astros, o calendário chinês estipula o início de cada mês no dia em que a Lua está em lua nova, ao passo que o primeiro dia do ano é aquele em que a lua chega a meio caminho entre o solstício de inverno e o equinócio da primavera, uma data variável, que ocorre entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro, e que em 2020 calha em 25 de janeiro.
A China, claro, usa também o calendário gregoriano, mas as suas festividades, das quais a entrada no novo ano é uma das mais importantes, são ditadas pelo seu próprio calendário.
No país mais fechado e misterioso do mundo vigora um calendário muito particular, denominado Juche, que toma por referência o fundador da presente dinastia, que ali não é menos considerada do que uma figura divina: Kim Il-sung. O avô do atual líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, nasceu em 1912, pelo que esse passou a ser considerado o ano 1 no país. 2020 será, pois, o ano 108 na Coreia do Norte.
O calendário Juche tomou o nome da ideologia criada e estabelecida pelo próprio fundador, que põe a tónica na autoconfiança do povo, na autonomia do país face ao resto do mundo e, sobretudo, no carisma do líder supremo. Até hoje, é isso que ali vigora.
Nestes países está em vigor um calendário lunar de fundo budista, a religião que atravessa a espiritualidade destes povos asiáticos. O ano de referência, o primeiro neste calendário particular, foi aquele em que Buda atingiu o nirvana.
Reza a história que o antigo príncipe tornado eremita e monge depois de ter sido tocado pela pobreza e miséria que viu à sua volta, se tornou um ser iluminado no ano 543 a. C. Em 2020, a Tailândia e os restantes países do sudeste asiático que se guiam por este calendário, entrarão no ano 2563. Estarão sempre 543 anos à frente.
Já na Etiópia, há folhas a menos no calendário, uma particularidade que lhe advém de uma conta diferente para o cálculo do ano do nascimento de Cristo. O que acontece é que a contagem ali se guiou pelo antigo calendário copta, segundo o qual Jesus nasceu sete anos depois, em relação à data fixada por Roma.
Outra curiosidade tem a ver com o número de meses: na Etiópia, eles são 13 e o dia não começa à meia-noite, mas no momento em que o sol nasce.
Entre todos, é Israel que tem o calendário mais antigo. Ali vai-se entrar no ano de 5780, mas ainda não é para já. O início do ano pelo calendário hebreu ocorre a 7 de outubro, e cada novo mês começa no dia de Lua cheia. As festividades religiosas estão intimamente ligadas a esta forma de contar o tempo.
Já o Japão, que se regula pela sucessão dos seus imperadores, vai entrar no ano dois da presente era, a de Naruhito, que se tornou imperador em maio deste ano. Desde 1873 que o Japão usa o calendário solar gregoriano, mas a isso junta a contagem de eras, que são inauguradas a cada novo imperador.
No Irão, por outro lado, o que regula o tempo são as estrelas. O país adotou o calendário persa, que é baseado numa série de observações das estrelas feitas por astrónomos antigos e que se regula também pelo Sol. É o calendário Hijri, segundo o qual o ano que entra é o de 1398.