CESSAR-FOGO
O cessar-fogo no Líbano evidenciou a sua imensa fragilidade logo no primeiro dia com incidentes que custaram mais vidas. Abriu-se, porém, uma luz ténue de esperança para o regresso da paz à região. A questão está, como sempre esteve, em saber até que ponto é possível construir uma paz duradoura ou não. A resolução abre algumas possibilidades que, no entanto, não se esgotam no texto aprovado pelas partes beligerantes.
O que importa agora é que se en- contrem soluções de fundo para um conflito que se arrasta há demasiados anos perante a impotência colectiva da comunidade internacional. Se não for agora aproveitada a oportunidade, a esta guerra sucederão novas guerras. E qualquer solução definitiva passa pela aceitação objectiva e sem nenhuma ambiguidade, por parte do Hezbollah e do seu vasto leque de apoiantes, do direito de Israel a existir dentro das fronteiras que lhe são reconhecidas. O direito a uma existência totalmente segura e com a garantia de que acabam os actos de violência contra a realidade jurídica, cultural e religiosa que é a do Estado judaico e a sua população.
O mesmo deve dizer-se em relação a um Estado palestiniano. Israel e os seus aliados, com os Estados Unidos à cabeça, devem respeitar a instauração de um Estado palestiniano democrático e independente, totalmente soberano nas fronteiras que forem definidas bilateralmente e não que resultem de uma imposição. Não se pode continuar a querer que os países do Médio Oriente adiram às regras próprias da democracia, mas só quando nos convém, como tem sido o caso da incapacidade ocidental em lidar com a vitória eleitoral do Hamas na Palestina.
Por fim, é urgente regressar ao terreno do respeito pelo direito internacional. Fora dele só existe a barbárie. No caso concreto do conflito israelo-árabe , é essencial que se apliquem efectivamente todas as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, desde a 1559 sobre o desarmamento do Hezbollah até à 242 sobre a saída de Israel dos territórios ocupados. Só chegando a um patamar de respeito mínimo pela legalidade internacional se criarão condições para enfrentar um dos ângulos mais espinhosos do problema, ou seja, a discussão sobre o estatuto, jurisdição e policiamento dos lugares santos de Jerusalém. Mas esse é apenas um dos pontos de chegada de um caminho que, apesar do silêncio das armas, ainda nem começou a ser feito.