Com a inflação a escalar e o aumento das taxas de juro à espreita, o vice-presidente da Square Asset Management não tem dúvidas de que o financiamento para os promotores imobiliários vai ficar caro. Uma tendência que somada à forte procura de imóveis pelos estrangeiros não deverá permitir que os preços das casas desçam em Portugal, defendeu Pedro Coelho em entrevista ao Dinheiro Vivo. Já no segmento não residencial, o gestor destaca o "novo fenómeno" do crescimento da procura de escritórios no Porto por multinacionais,."Embora as taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) ainda não tenham aumentado, as yields [taxa de rentabilidade] da dívida pública já começaram a aumentar. E isso vai começar a refletir-se em custos de financiamentos mais caros", alertou o responsável da maior gestora de fundos imobiliários abertos em Portugal. O resultado? "Tendo um custo mais caro, os promotores vão ter que assumir um custo maior no seu projeto de financiamento e vai haver reflexo no preço final. O que vai acontecer é que poderemos ter uma diferença maior entre o preço das casas novas e das já construídas", detalhou o responsável da instituição que tem cerca de 1,2 mil milhões de euros em ativos imobiliários sob gestão..Face a este cenário, da escalada nos custos de construção e da eventual subida das taxas de juros, o gestor confessa estar preocupado com o aumento do risco de incumprimento dos créditos à habitação. "Tenho mais receio do ponto de vista do incumprimento, do que do risco da bolha. Alguns estrangeiros não acham assim tão caro [comprar casa em Portugal], porque nos seus países os preços são muito mais altos. Infelizmente para nós portugueses, com os salários que temos, é uma bolha porque não conseguimos comprar"..O fenómeno do Porto.Mas o preço da habitação não é o único chamariz para estrangeiros. Na visão de Pedro Coelho, "Portugal foi e está a ser beneficiado pela pandemia e até um pouco com a questão da guerra no sentido de os holofotes de empresas e particulares virarem mais para esta ponta da Europa". A justificar esta escolha estão factores como o clima e o custo de vida do país, o que acaba por captar estrangeiros que possam estar em teletrabalho ou nómadas digitais, justificou. "O reflexo disso é que no imobiliário acho difícil que os preços da habitação desçam. Já achava antes deste problema da inflação, mas agora mais ainda"..O aumento da procura por estrangeiros não está a ser só sentido no mercado residencial. Segundo o vice-presidente da gestora, também "se está a assistir a empresas a quererem deslocalizar escritórios para cá e especialmente para o Porto, que é um fenómeno curioso e relativamente recente", revelou. "Estamos a ter um afluxo de multinacionais, mais na área de sistemas e tecnologias de informação, que recorrem muito a engenheiros de sistemas da faculdade do Porto, Aveiro e Braga e que conseguem contratar com a mesma qualidade serviços e profissionais com know how de várias línguas tão bons como se estivessem a recrutar em França, Alemanha e Reino Unido". Além disso, os custos de escritórios em Portugal são "também mais baixos do que na Europa", apontou o gestor da Square Asset Management, que detém o maior fundo imobiliário nacional, o CA Património Crescente, que tem mais de 900 milhões de euros sob gestão..Novo fundo soma 25 milhões.Em plena pandemia, a Square Asset Management decidiu lançar um novo fundo, que começou a ser planeado bem antes de agosto de 2020. Entretanto, o veículo foi aprovado pela CMVM, e a gestora decidiu lançar o produto. Isto apesar de estarem "longe de sonhar que a inflação ia disparar para os níveis a que está hoje", refere Pedro Coelho. No entanto, o gestor afirma que "o imobiliário é uma classe de ativos que protege da inflação", já que é um ativo real e as rendas tendem a estar indexadas à inflação..Desde o lançamento do fundo, há cerca de um ano e meio, o Fundo Property Core soma ativos em Portugal e Espanha de quase 25 milhões de euros, divididos em segmentos como escritórios, comércio e logística, e mais de 1.300 investidores. Tem como inquilinos empresas como a Fidelidade, Pingo Doce ou Carrefour.