Vacina da Johnson & Johnson sem restrições mas Portugal aguarda mais pareceres

"O Plano de vacinação é focado nos mais de 70 anos. Neste momento não há qualquer restrição desta vacina neste grupo etário", afirmou a ministra da Saúde sobre a vacina da Janssen.
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A ministra da Saúde disse esta quarta-feira que não há qualquer restrição à utilização da vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson, e que as autoridades nacionais seguirão as recomendações da Agência Europeia de Medicamentos e aguardar a análise da comissão técnica de vacinação.

"O Plano de vacinação é focado nos mais de 70 anos. Neste momento não há qualquer restrição desta vacina neste grupo etário", disse Marta Temido em conferência de imprensa.

Na terça-feira, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) concluiu que há uma possível relação entre a formação de coágulos sanguíneos e a vacina da Janssen, na sequência de terem sido registados oito casos de pessoas que desenvolveram coágulos sanguíneos em quase sete milhões de pessoas vacinadas nos EUA.

Estes casos dizem respeito a mulheres com idades entre os 18 e os 49 anos, um dos quais fatais, e foram reportados cerca de três semanas após serem vacinadas. Ainda assim, o regulador europeu garantiu que os benefícios gerais da administração da vacina norte-americana continuam a superar os riscos.

Em resposta aos jornalistas, a ministra disse que "a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 está ainda a analisar e a rever as decisões da EMA para verificar se há ajustamentos a fazer na aplicação da vacina" em Portugal.

Marta Temido insiste que a EMA voltou a dizer que apesar das reações conhecidas, a relação risco-beneficio é vantajosa, acrescentando que os oito casos raros aconteceram nos Estados Unidos maioritariamente em mulheres com menos de 60 anos.

O primeiro-ministro manifestou-se, entretanto, "satisfeito" com a decisão da Agência Europeia do Medicamento em relação à vacina da Janssen, mas salientou que o Governo cumprirá a decisão técnica da DGS e do Infarmed sobre restrições.

"Essa vacina foi aprovada sem qualquer tipo de restrições. Mas as restrições ou não restrições são uma decisão técnica em que os políticos não se devem meter", salientou o primeiro-ministro.

De acordo com o líder do executivo, a decisão técnica da Direção Geral da Saúde (DGS) e do Infarmed "é aquilo que o Governo respeitará e, em função disso, será adaptado o Plano Nacional de Vacinação".

Aos jornalistas, a ministra da Saúde adiantou que foi pedida uma avaliação mais apurada relativamente aos grupos etários e também para decidir a propósito da segunda toma dos que levaram a primeira dose da Astrazeneca e têm menos de 60 anos.

Esta informação pedida pelas autoridades portuguesas deverá ser conhecida até ao final da semana.

"Estamos dependentes destas decisões", frisou Marta Temido.

A governante também fez saber que as pessoas maiores de 60 anos serão vacinadas até ao final de maio. Passam a ser prioritárias na vacinação as pessoas com doença oncológica ativa, doenças neurológicas e mentais, com grande obesidade e as imunossuprimidas.

"Estimamos que até ao final de maio ou na terceira semana de maio, todas as pessoas com mais de 60 anos tenham pelo menos uma dose" da vacina contra a Covid-19, anunciou a Marta Temido durante o balanço dos 120 dias do plano de vacinação.

A Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas adiantou que nesta fase da vacinação serão incluídos, nos grupos prioritários as pessoas com doença oncológica ativa (a fazer quimioterapia ou radioterapia), pessoas com situação de transplantação, pessoas com imunossupressão, doenças neurológicas, doença mental (esquizofrenia), obesidade (acima dos 35% de massa corporal) e diabéticos.

Graça Freitas especificou que grande maioria dos diabéticos serão vacinados pela sua faixa etária, no entanto, abaixo dos 60 há diabéticos tipo 1 ou 2 que podem ter doença grave e que integrarão os grupos prioritários.

Na conferência de imprensa a ministra da Saúde explicou que 7% da população portuguesa tem já o processo vacinal completo, que 91% das pessoas com mais de 80 de anos de idade têm uma dose feita e que 58% tem as duas doses.

Marta Temido disse ainda que 96% dos óbitos de covid-19 registados aconteceram em pessoas com mais de 60 anos.

"Se conseguirmos a sua vacinação até ao final de maio ou terceira semana de maio, teremos esse grupo protegido e isso é um aspeto importante para a segurança de todos", frisou.

Relativamente ao futuro do plano de vacinação, a ministra adiantou que Portugal entrou agora numa fase de maior disponibilidade de vacinas.

A mesma ideia foi reforçada pela diretora-geral da Saúde e pelo coordenador da task force para o Plano de Vacinação Covid-19, Gouveia e Melo.

"Entrámos agora na fase da abundância. O sistema está a permitir o fornecimento de vacinas em quantidade maior e permite alterar as propostas de vacinação e o plano de vacinação", disse Graça Freitas.

Gouveia e Melo sustentou que o plano prepara-se para conseguir enfrentar um novo desafio, referindo-se assim ao objetivo das autoridades de vacinar a um ritmo de 100 mil pessoas por dia, sete dias da semana.

"Todas a experiências e testes feitos assim como a preparação indicam que vamos ter sucesso a fazer a vacinação muito rápida a partir de agora, confirmando-se a chegada das vacinas previstas", disse o coordenador da task force.

Na mesma conferência de imprensa, a Diretora-Geral da Saúde anunciou que quem recuperou da covid-19 há mais de seis meses começará a ser vacinado no final de maio, assim que terminar a vacinação das pessoas com mais de 60 anos.

Graça Freitas sublinhou que as pessoas que recuperaram da doença "nunca foram esquecidas", frisando que a escassez de vacinas levou as autoridades a tomar a opção de não as vacinar, até porque a infeção confere alguma imunidade.

"Foi uma opção, tendo em conta a escassez de vacinas, não administrar vacinas a pessoas já com alguma imunidade natural [da infeção] quando tínhamos população sem qualquer imunidade", afirmou.

Adiantou ainda que após estarem vacinadas as pessoas com mais de 60 anos, o que se prevê aconteça no final de maio, serão vacinados os recuperados que tenham tido a doença há mais de seis meses.

Num comunicado conjunto, a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos defenderam hoje que estes profissionais, por estarem na linha da frente, mesmo que tenham tido a doença devem ser vacinados, pois a imunidade não permanece ao longo do tempo.

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