A maioria dos pais dedica muito esforço à formação académica dos filhos, convencidos de que uma "mente brilhante abrirá todas as portas", mas o neuropsicólogo Álvaro Bilbao considera errada a ideia de que maior desenvolvimento intelectual traz mais felicidade..O especialista espanhol, autor do livro "O cérebro da criança explicado aos pais" lançado este mês em Portugal, parte da ideia de que o cérebro se divide em três partes -- uma mais instintiva, outra mais intelectual e outra mais emocional..Ora, os primeiros anos da criança são os mais importantes para o desenvolvimento da parte emocional; é aqui que se progride na autoestima, na confiança em si mesmo e no vínculo aos outros, em primeiro lugar, aos pais..Álvaro Bilbao pega no exemplo da aprendizagem de línguas, começando por admitir que é mais fácil aprender chinês ou inglês nos primeiros anos. Contudo, as línguas estrangeiras podem ser aprendidas mais tarde, enquanto o desenvolvimento da autoestima, a imaginação, o afeto e bons vínculos ocorrem nesses primeiros anos e, depois, pode ser tarde demais.."Os primeiros anos de uma criança são para o cérebro emocional, não para o cérebro racional ou intelectual", resume o neuropsicólogo..[citacao:Quando numa escola há uma criança sem amigos ou que sofre perseguição de colegas, a escola segue em frente, continua dando matéria e testes].O perito reconhece que atualmente se fala muito em inteligência emocional, mas julga que se age pouco de acordo com o que já é conhecido: "Quando numa escola há uma criança sem amigos ou que sofre perseguição de colegas, a escola segue em frente, continua dando matéria e testes, mas não se detém a solucionar esse problema emocional"..Modelo semelhante é visível nos pais, que depositam interesse nas notas que um filho atinge mas não se preocupam tanto em saber se é bom com os seus pares ou se tem algum colega que esteja sempre sozinho ou isolado..[citacao:A ideia de que um maior desenvolvimento intelectual proporciona uma maior felicidade está totalmente errada].No livro, o autor advoga que a maioria dos pais dedica muito esforço à formação académica por estarem convencidos de que "uma mente brilhante abrirá todas as portas que podem levar uma pessoa a ser feliz".."A ideia de que um maior desenvolvimento intelectual proporciona uma maior felicidade está totalmente errada", afirma..A chave para compreender melhor a afirmação do neuropsicólogo pode estar na ausência de correlação entre a capacidade intelectual e a capacidade emocional. E para o autor, a prova disso é que há muitas pessoas com excelentes carreiras de sucesso e cheias de capacidades intelectuais mas que não têm empatia, sofrem de stress crónico e não conseguem encontrar felicidade..O especialista vinca que a inteligência emocional e a racional estão localizadas em áreas bem diferentes do cérebro, que são independentes..Mas a ciência da inteligência emocional é recente, era desconhecida da geração que desempenha agora o papel de avós ou bisavós e foi pouco transmitida aos atuais pais, que desconhecem ainda muito do vocabulário emocional..Álvaro Bilbao defende a importância de deixar que a criança expresse as suas emoções, as entenda e as saiba nomear: "Se tem vontade de chorar, pois que chore. Não lhe digamos, para de chorar. Devemos tentar que perceba qual a razão que a faz chorar, que a identifique e a compreenda"..[artigo:5428409]