Uma descoberta de Tanka Sapkota: há trufa negra em solo português
A história da descoberta é relativamente fácil de contar: em Alenquer num local onde foram plantados pinheiros, foram encontradas trufas negras. João Pedro Pereira, de 12 anos, foi quem descobriu uma das trufas pretas. De seguida mostrou ao pai, Pedro Pereira, que logo entrou em contacto com o chef Tanka Sapkota. “Quando ele (Pedro Pereira) nos levou ao terreno, vimos que parecia mesmo uma trufa, mas não tinha cheiro. Depois mandamos a amostra para três universidades e as três confirmaram que era trufa preta”, explicou o chefe aos jornalistas, durante uma caça à trufa em Alenquer, realizada esta terça-feira. “Os italianos não vão aceitar que a trufa portuguesa tem um melhor cheiro”, avisou desde logo o chef.
A “caça à trufa” foi o momento escolhido pelo chef nepalês para divulgar da descoberta em Portugal. Nessa busca pela trufa, Sapkota fez-se acompanhar por Giovanni Longo, um caçador de trufas natural do Piemonte, no norte de Itália, e pela cadela pisteira Pina. A “busca” também contou com o presidente da câmara municipal de Alenquer, Pedro Miguel Ferreira Folgado.
Tanka Sapkota trabalha com trufas desde 1992 e há vários anos que suspeitava que poderiam existir trufas negras em Portugal. Foi em 2023 que começou “à caça” pelo país, acompanhado por duas cadelas pisteiras e Giovanno Lungo, num projeto com a parceria do Ministério da Agricultura, Ministério do Ambiente, Instituto Superior de Agronomia e as Universidades de Évora, Coimbra e Lisboa. Inicialmente, encontrou apenas trufas vermelhas. “Todos os jornais falaram deste assunto. Acho que foi por isso que a partir dai as pessoas vieram falar comigo, quando encontraram uma espécie de bola preta e não sabiam o que era. Este acontecimento é uma coisa mágica para a minha vida”, mencionou o chef em conversa com o DN no seu restaurante Come Prima,em Lisboa, acrescentando de que se trata de uma descoberta histórica. “Nunca se tinha descoberto trufas negras em Portugal e estas foram descobertas por um nepalês”, acrescentou.
Durante este projeto de exploração de Tanka Sapkota, a maior dificuldade foi a constante dúvida sobre a existência de trufa negras em Portugal. “Era uma total incógnita. As universidades não acreditavam, os cientistas não acreditavam. Ninguém acreditava que havia trufas em Portugal”, sublinhou.
Já a investigadora da Universidade de Évora Celeste Santos e Silva em conversa com o DN, afirma que até ao momento não havia registo de “nenhuma espécie de trufa comestível com valor económico apreciável”. “ Vários investigadores de várias nacionalidades procuraram a trufa comestível, porque ela é cultivada em Espanha, e porque existe em França e em Itália, e por conseguinte vêm o nosso país como um maná”, acrescentou.
Segundo a investigadora, a razão para o surgimento desta trufa em solo português é ainda desconhecida. “Se ela é espontânea, se vem associada às raízes das árvores que lá estão, ainda não sabemos. Isto é uma descoberta”.
Para Celeste Santos e Silva, a trufa preta poderá ser espanhola. “Por causa do viveiro, da proximidade, da origem delas poderá ser espanhola, mas tenho ainda que testar essa hipótese”.
A investigadora explicou ainda que o segredo é a trufa estar madura para ter o seu típico cheiro forte. “É a vantagem dos cães para as apanharem, eles só as encontram através do cheiro. Quando está imatura não a reconhecem, por isso mesmo não danificam o que existe”. O preço da trufa preta é 100 euros por quilo. Devido à descoberta o chef Tanka Sapkota passou a incluir as trufas pretas apanhadas em Portugal no menu do restaurante Come Prima entre hoje e 11 de junho. As opções disponíveis são: um prato de Creme de batata, ovo orgânico e trufa fresca (13,95€) e tajarin com sálvia e trufa negra fresca (19,95€). Estes pratos estão apenas disponíveis ao jantar e com reserva obrigatória.
mariana.goncalves@dn.pt