Um país cada vez mais "consciente da importância da escola"

Num contexto atípico, pela pandemia, Portugal obteve em 2021 um mínimo histórico no abandono escolar. Diretores escolares salientam a valorização do espaço escola.
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Vivemos numa "sociedade consciente da importância da escola" e esse é o principal fator que ajuda a explicar o "novo mínimo histórico" no abandono escolar em Portugal, segundo os diretores das escolas públicas nacionais.

Face aos mais recentes dados do Ministério da Educação, citando o Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal registou pelo quinto ano consecutivo uma diminuição da taxa de abandono precoce escolar, alcançando um mínimo histórico de 5,9% (5,3% no continente) em 2021.

Este resultado confirma uma queda de três pontos percentuais comparativamente ao ano de 2020, em que a taxa foi de 8,9%. Ao mesmo tempo, colocou Portugal abaixo da média europeia pela primeira vez na história, com o decréscimo mais significativo de todos os países da União Europeia.

Face a estes dados, o DN procurou, junto de dois diretores de entidades escolares públicas, as razões que justificam esta evolução.

Para Manuel António Pereira, diretor da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), este tem sido um trabalho lento, mas que ao longo dos anos tem dado frutos. "Há muitos anos que a escola pública trabalha para reduzir a taxa de abandono escolar, recorrendo a esforços e muitas estratégias. Mas as que me parecem desde logo importantes são o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, as políticas educativas na flexibilidade e autonomia curricular, os percursos curriculares alternativos e a criação de espaços de inclusão mais alargados. Tudo isto contribuiu para que a escola se tenha tornado cada vez mais apetecível e apreciada", explica.

Entre os fatores que contribuíram para esta diminuição do abandono escolar, o diretor da ANDE destaca ainda a participação ativa dos encarregados de educação e a mudança na mentalidade dos portugueses durante os últimos 20 anos. "Cada vez mais o país está sensibilizado para a necessidade de formação académica dos jovens e todos percebem que quanto mais formação académica os jovens tiverem, mais Portugal tem futuro."

No entanto, admite que os desafios caem agora sobre o ensino secundário, uma vez que vai aumentando a concorrência de um mundo de trabalho apetecível. "A partir dos 16 aos 18 anos, a escola concorre com ofertas de emprego apetecíveis para os jovens. A falta de mão-de-obra que existe atualmente no mercado oferece janelas de oportunidades para os jovens que querem entrar no mundo do trabalho sem concluir os estudos."

Filinto Lima, diretor da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), exprime orgulho neste "facto histórico" e enfatiza a responsabilidade que esta fasquia traz para os anos seguintes. "A partir de agora temos o trabalho de tentar manter este número e se possível ainda baixá-lo mais".

O dirigente acredita que o sucesso na taxa de abandono escolar é "o principal indicador do bom desempenho dos sistemas educativos". No entanto, "tudo se deve à estabilidade governativa e ao trabalho feito diariamente em contexto escolar, nomeadamente pelos professores". Filinto Lima não esquece ainda o papel positivo dos pais, que passaram a "valorizar mais o espaço escola" no contexto de pandemia.

Os dois diretores de comunidades educativas realçam o relevo do novo "mínimo histórico" num contexto, ainda para mais, especialmente dificultado pelo forte impacto da pandemia de covid-19 nas escolas.

"O esforço coletivo dos alunos, das famílias e das escolas fez com que a pandemia não fosse um entrave para que o número do abandono escolar baixasse", sublinhou Filinto Lima.

Atendendo aos duros meses de confinamento, com alunos remetidos a "escola online" e telescola ("Estudo em Casa"), quando muitos alunos nem sequer tinham acesso a computadores e materiais para as aulas, ou a uma ligação de internet, Manuel António Pereira frisa os esforços feitos pela comunidade escolar para não deixar ninguém sem rede.

"O grande objetivo das escolas foi que nenhum aluno ficasse para trás. A escola é hoje um espaço de grande inclusão e uniram-se esforços de toda a comunidade para que os alunos não fossem excluídos", resume o diretor da ANDE.

ines.dias@dn.pt

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