Um guarda prisional está entre os skinheads detidos pela PJ
Um guarda prisional está entre os skinheads detidos pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ, indiciados por várias agressões violentas contra comunistas, negros, homossexuais e muçulmanos. O guarda, de 34 anos, presta serviço no estabelecimento da Carregueira e é suspeito de ter participado no espancamento de militantes do PCP, em setembro de 2015, um dos casos que foi investigado pela Judiciária.
Esta quarta-feira os 20 detidos foram presentes ao tribunal de instrução criminal para serem interrogados pelo juiz, mas à hora do fecho desta edição ainda não eram conhecidas as medidas de coação. Terão cometido vários crimes, segundo a PJ, entre os quais os de discriminação racial, religiosa e sexual. Sobre eles pesa a suspeita de pertencerem a uma organização criminosa e de terem cometido vários crimes, entre 2013 e 2015, como ofensas físicas qualificadas e tentativas de homicídio, motivados pela ideologia de extrema-direita característica do grupo a que pertence: os Portugal Hammer Skins (PHS), que faz parte da fação mais violenta do movimento skinhead internacional.
A intervenção do guarda prisional nas agressões aos comunistas, entre os quais um sindicalista que sofreu lesões cerebrais irreversíveis, que saíam de um comício da CDU no Coliseu dos Recreios, foi noticiada logo na altura. Testemunhas das agressões encontraram no chão uma carteira com a sua identificação, que deixara cair quando fugia da PSP com os outros skinheads. O DN noticiou então que, depois de ter voltado ao local para ir buscar a carteira e confrontado pela polícia, apresentou uma versão diferente. Alegou que tinha intervindo para separar as pessoas e acalmar os ânimos e que não fugiu com os skins, mas foi em sua perseguição, tendo deixado cair a carteira nessa altura.
O álibi não convenceu a PSP que cruzando os vários testemunhos concluiu que a sua versão não era verosímil. Fonte desta polícia garantiu ao DN que este guarda prisional já estava referenciado, quer pela sua proximidade aos skinheads, quer em inquéritos relacionados com a sua atividade na claque do Futebol Clube do Porto, os Ultra XXI, tendo sido indiciado por suspeita de atirar petardos em jogos do clube dos dragões. Tendo em conta que a PJ emitiu, no âmbito desta investigação, um mandado de captura contra si, é certo que as suspeitas da PSP se confirmaram na investigação da UNCT.
Um pormenor que levantou mais suspeitas à polícia foi o facto das testemunhas o terem identificado, na altura das agressões, a usar uma t-shirt preta e quando voltou ter vestida uma branca, indiciando uma tentativa de impedir que fosse reconhecido.
De acordo com informações recolhidas na altura pelo DN, este guarda é considerado um "bom profissional" e não levantou suspeitas aos colegas, apesar de alguns alertas em relação ao seu envolvimento com os ultras. Júlio Rebelo, presidente do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional , garantiu que "os únicos problemas que o colega enfrentou na cadeia foi pela sua participação em vigílias e greves, como todos nós".
Secretas falham análise
Quer este caso de agressões aos comunistas, quer todos os outros que a UNCT juntou para fundamentar esta operação contra os skinheads - que incluem vários crimes de ódio - foram registados pela PSP, que identificou neles um ponto em comum: os suspeitos estavam referenciados como fazendo parte do PHS e as agressões tinham motivação político-ideológica. No final de 2015 a UNCT iniciou a investigação e constatou que entre os suspeitos estavam alguns seus "velhos" conhecidos da extrema direita, que até já tinha sido presos e condenados noutros processos, como foi o caso da assassinato do cabo-verdiano Alcino Monteiro.
No entanto, aparentemente, esta informação não chegou às secretas, que tem a responsabilidade de monitorizar as atividades destes grupos extremistas. Apesar das agressões terem ocorrido entre 2013 e 2015, no relatório de segurança interna desse ano, embora salientem o "elevado dinamismo ao nível das atividades movimento skinhead neonazi" , garantem que a "atividade não se traduziu por ações violentas". Falta de informação da PSP e PJ? Contactado pelo DN o SIS não respondeu.