Ucrânia: Presidente de associação diz não perceber como PCP continua a existir em Portugal

O presidente da associação Refugiados Ucranianos (UAPT) criticou atuação dos comunistas, em reação ao caso do acolhimento de ucranianos por russos pró-Putin na autarquia de Setúbal, liderada pelo PCP
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O presidente da associação Refugiados Ucranianos (UAPT) afirmou este sábado (30) não perceber como é que Portugal continua a ter um partido como o PCP, nem por que as organizações não filtram as pessoas que lá trabalham.

O dirigente associativo Maksym Tarkivskyy comentava a notícia divulgada pelo Expresso de que refugiados ucranianos foram recebidos no município de Setúbal por russos pró-Putin, durante a iniciativa "obrigado a Portugal (Glória a Portugal)", que decorreu na Praça do Comércio, em Lisboa, entre as 17:00 e as 19:00, e reuniu mais de duas centenas de pessoas perante um sol abrasador.

Instado a comentar o tema, o presidente da organização não governamental começou por dizer que tinham tentado, "talvez por engano, meter" esta associação neste assunto, o que asseverou ser "completamente errado".

Tarkivskyy, que vive em Portugal há 20 anos, país onde acabou a escola, fez faculdade e trabalha, disse não perceber "como é que Portugal, um país democrático, continua a ter um partido como o PCP".

E acusou: "É um partido que está basicamente neste momento a apoiar a guerra, não entendo mesmo".

"Custa-me perceber como é que não filtram - as câmaras, as organizações... -, não filtram as pessoas dentro das próprias associações". "Quem são, o que é que fazem e quais são as ideias deles", apontou o presidente da Refugiados Ucranianos UAPT, em declarações à Lusa.

"Ou seja, como vi uma senhora a dizer: os ucranianos vieram de uma guerra, de uma situação complicada, e agora, de repente, têm que ainda sentir" esta situação em Portugal, prosseguiu.

Sabendo que Portugal "é dos mais acolhedores países, fica um bocado para mal para nós aqui, portugueses, a sentir que existem casos graves desse género", considerou.

E rematou o assunto para esclarecer que na sua organização não existem pró-russos: "Nós não temos nenhum russo, nenhuma pessoa que tenha posição ou alguma política pró-russa de forma nenhuma, e todos os que quiserem nos pôr uma imagem negra vão ter problemas graves, vamos se for preciso ao tribunal".

Na iniciativa que juntou mais de 200 pessoas na Praça do Comércio, os hinos de Portugal e da Ucrânia foram tocados e desdobraram-se as duas bandeiras, que formaram um coração unido, servindo de sombra para as crianças que brincavam no local.

Nesta concentração, vários ucranianos fizeram-se acompanhar dos seus filhos e até animais de estimação, numa altura em que o sol ainda batia forte.

"Esta iniciativa hoje é exatamente para agradecer aos portugueses pela ajuda e pela vontade e pelo apoio todo que estão a dar hoje em dia", porque Portugal "neste momento é um dos melhores a ajudar o nosso país", sublinhou Maksym Tarkivskyy, depois de ter discurso em português.

"Quero agradecer a todos os portugueses a vossa vontade de ajudar, de sentir connosco as dificuldades que o meu país natal está a sofrer", rematou.

Questionado sobre se há alguma coisa mais que Portugal pudesse fazer para ajudar os refugiados ucranianos, o presidente da associação destacou a questão das rendas.

"O que neste momento é mais preciso aqui em Portugal é ter ainda vontade e pelo menos baixar os preços das rendas e facilitarem ", disse.

Isto porque "há muita gente que se encontra com a situação de não ter capacidade de pagar seis a 12 meses de uma vez e, nestes casos, os portugueses não aceitam que paguem como costume, duas, três rendas inicialmente. Isso torna-se difícil porque nem toda a gente tem capacidade de ter esse valor de um momento para o outro", alertou Maksym.

Entre os várias pessoas presentes, uma mãe e uma filha - Inessa Balazh e Emiliya Balazh - destacavam-se na multidão, com esta última a empunhar um cartaz onde se lia "Save Mariupol" ("Salvem Mariupol", em inglês).

Inessa vive em Portugal há cerca de 19 anos, tem família cá e afirma-se "muito integrada" em Portugal.

Sobre a iniciativa de hoje, classifica de "muito importante agradecer porque muitas pessoas, de facto, ajudaram e apoiaram" os cidadãos ucranianos. "Deram muito apoio e esta organização fez muita coisa para os nossos refugiados, por isso é importante divulgar e agradecer todo o apoio", acrescentou Inessa Balazh.

"Nós sentimos uma profunda dor" sobre o que está a acontecer na Ucrânia, "sentimos um bocado de frustração porque não podemos ajudar mais", referiu.

Como a esperança é a última a morrer, Inessa acredita que no fim a Ucrânia sairá vencedora: "Eu acredito que nós vamos vencer, com a ajuda de todo o mundo".

Já Emiliya destacou a situação se vive em Mariupol, visível no cartaz que empunhava, porque "efetivamente a situação, a crise humanitária que está a haver lá, é horrível o que está a acontecer às pessoas e é importante se saiba" e que sejam divulgadas informações sobre isso, para "as ajudar de alguma maneira".

Emiliya nasceu na Ucrânia e vive em Portugal há 13 anos, tendo passado uma boa parte da sua vida no país de origem, referiu. "Como a minha mãe estava a dizer, é uma dor profunda [ver o que se passa na Ucrânia], custa-me imenso, todos os dias penso nisso", confessou, porque é o seu país, o seu povo.

"Toda gente tem ajudado imenso", até pessoas que não tinham muito, acrescentou a jovem, que mantém a esperança que a Ucrânia saia vencedora deste conflito.

"Todos juntos, acredito, que vamos conseguir", rematou.

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