"Terapêuticas para a próstata têm toxicidades que é preciso vigiar"
O tratamento do cancro da próstata exige que a urologia seja acompanhada por outras especialidades para tirar melhor proveito da inovação tecnológica e medicamentosa que temos ao nosso dispor", afirma João Dias, um dos quatro urologistas do Centro Hospitalar Médio Tejo que tem unidades em Tomar, Abrantes e Torres Novas. Este profissional defende o reforço da multidisciplinaridade não só nas estruturas da unidade a que pertence, mas também a nível nacional porque não lhe parece que o trabalho conjunto esteja a acontecer. "A complexidade da urologia prostática necessita de mais apoio de oncologistas, radioterapeutas e imagiologistas", adverte. O urologista não faz distinções entre especialidades, mas lamenta sobretudo o número pouco expressivo dos oncologistas dos quais a urologia necessita de respostas. "Precisamos de discutir os casos de um modo mais abrangente e global e não só do ponto de vista urológico. A cirurgia oncológica sem apoio de diversas especialidades é uma má prática. Tenho dito por diversas vezes na minha instituição que não podemos estar a fazer cirurgia urológica de oncologia sem ter a presença do profissional oncologista."
A necessidade é justificada pela revolução terapêutica existente atualmente para o cancro da próstata quando este está localmente avançado, assim como para a doença disseminada por outras partes do corpo masculino. A inovação proporciona grandes oportunidades de tratamento, mas também exige acompanhamento, esclarece. "Hoje existem medicamentos para um largo espetro de doentes, mas são terapêuticas que não podem ser, do meu ponto de vista, administradas pelo urologista que, por si só, não tem capacidade para o fazer. Estas terapêuticas têm toxicidades e tolerâncias que é preciso vigiar e exigem cuidados que só um oncologista nos pode dar."
A estes argumentos para justificar um papel mais ativo da multidisciplinaridade, o urologista junta o das questões financeiras. "O arsenal terapêutico é variadíssimo, e tal como os seus diversos efeitos de toxicidade, também existem diferentes custos para cada um. O país não é rico e o controlo de custos é uma necessidade, portanto temos de saber utilizar bem e de forma racional o que temos à disposição atendendo sempre à relação custo benefício."
As afirmações de João Dias ao Diário de Notícias surgem no âmbito do projeto "Próstata de Lés a Lés", realizado também por JN e TSF em parceria com a Associação Portuguesa de Urologia. O especialista foi convidado a analisar as condições de acompanhamento e tratamento dos casos de cancro na região de Tomar, onde há mais de duas décadas, após finalizar a especialidade em Lisboa, se fixou começando a trabalhar no Hospital Senhora da Graça. Atualmente a região do Médio Tejo tem uma abrangência populacional de quase 300 mil habitantes repartidos por concelhos dos distritos de Santarém, Portalegre e Castelo Branco.
Questionado sobre a realidade urológica servida pelo Centro Hospitalar, o médico assegura que a instituição trata os doentes da forma que, clinicamente, considera adequada à população que serve. Isso quer dizer o quê? A resposta surge imediata. "Este é um meio rural e aqui as expectativas diferem relativamente aos grandes centros urbanos. Refiro-me à pretensão das pessoas serem tratadas com técnicas cirúrgicas extremamente avançadas como é a cirurgia robótica. É impensável ter essa tecnologia na nossa região. Não temos os mais modernos equipamentos que existem nos grandes hospitais e, por isso, temos de trabalhar com os meios que temos que correspondem às expectativas da população."
O urologista João Dias conclui que as assimetrias da região do Médio Tejo são fundamentalmente tecnológicas. "Nos casos em que sentimos verdadeiramente necessidade, tentamos encaminhar os doentes para esse tipo de tecnologia que existe nas grandes cidades."
A alimentação é, cada vez mais, encarada como um fator preventivo de doença e no caso do carcinoma da próstata, os especialistas também desaconselham o excesso de gorduras e de proteína como o consumo de muitas carnes vermelhas porque potenciam o risco de tumor. Por outro lado, e ainda que não esteja totalmente comprovada a sua eficácia, há fruta e vegetais especialmente recomendados como papaia, melancia e tomate devido a certos antioxidantes. A soja, por causa das isoflavonas, e as catequinas do chá verde são outras substâncias alimentares que se pensa serem protetoras.
O cancro da próstata costuma surgir depois dos 50 anos, mas por questões genéticas que a ciência ainda não consegue explicar totalmente, nos homens negros e asiáticos a doença aparece cinco a dez anos antes. O risco para estes homens é duas a três vezes maior do que na restante da população, motivo pelo qual os médicos recomendam o diagnóstico precoce regular a partir dos 45 anos ou ainda mais cedo quando na família há historial de doença.
dnot@dn.pt