Tecnologias quânticas vão "mudar o mundo" como o conhecemos

Portugal tem o talento, a curiosidade e a dimensão certa para ser um dos pioneiros da nova revolução computacional. Há inúmeras aplicações com potencial transformacional.
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Historicamente, os portugueses aderem cedo às mais recentes inovações tecnológicas, algumas delas desenvolvidas em território nacional. Foi assim com o sistema Via Verde, nos anos 1990, uma criação da Universidade de Aveiro pioneira no mundo, bem como com a rede Multibanco. Portugal poderá agora estar na linha da frente no desenvolvimento e na adoção das tecnologias quânticas, uma nova forma de processamento de informação que "vai mudar o mundo". Quem o diz é Ricardo Martinho, líder da IBM Portugal, que não tem dúvidas sobre o impacto transformacional que esta área pode ter em temas como a ciência ou a sustentabilidade.

"Sabemos que o futuro será diferente e que a forma como usamos a tecnologia vai mudar, assim como os modelos de negócio que as soluções quânticas permitem criar", afiança Maria da Luz Penedos, diretora geral da Capgemini Engineering. A engenheira informática de formação falava durante a apresentação pública da parceria firmada com a IBM para "aprofundar conhecimento em Portugal" sobre as tecnologias quânticas. Esta é, aliás, uma forte aposta do grupo que selecionou o país como um dos três mercados para a instalação de laboratórios de investigação. "Queremos ser reconhecidos no grupo como pioneiros nesta área", acrescenta.

Ricardo Martinho e Maria da Luz Penedos veem neste acordo de colaboração a receita perfeita para fazer a translação da tecnologia para a realidade quotidiana das empresas e da sociedade. "Precisamos de ter a colaboração de todos para acrescentar valor a esta transformação", acredita a IBM. Para isso, será preciso envolver diferentes indústrias neste processo de descoberta para encontrar aplicações práticas, continuando a apostar na investigação para melhorar a tecnologia.

Mas importa perceber o que são, afinal, as tecnologias quânticas. Trata-se de aproveitar a física quântica para criar redes de comunicação e processadores computacionais que permitem alcançar "segurança impenetrável" e tratar enormes quantidades de dados para resolver problemas que a computação tradicional não consegue. Significa isto que colocar esta inovação ao serviço da ciência e da saúde pode permitir encurtar o processo de descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos. Em média, uma nova terapêutica demora cerca de 10 anos a chegar ao mercado e pode implicar investimentos na ordem dos mil milhões de euros.

"Cerca de 90% das drogas candidatas falham nos ensaios clínicos", exemplifica Sam Genway, especialista em inteligência artificial e investigação de teoria quântica da Capgemini Engineering.

A utilização da computação quântica pode encurtar estes prazos e reduzir o custo destes projetos, já que possibilita, por exemplo, "que o estudo de uma droga possa falhar numa experiência feita num computador quântico em vez de falhar numa experiência real". Desta forma, é possível "reduzir em dois ou três anos a descoberta", assegura Genway, que fala ainda na capacidade de simular, em ambiente digital, diferentes moléculas e a forma como interagem, apontando eventuais defeitos e incompatibilidades que possam ser importantes na produção de um novo medicamento.

A mesma receita pode ser aplicada a outras áreas, como a da mobilidade. Os avanços na condução autónoma terão forte impacto no caminho rumo à sustentabilidade, que poderá acelerar com apoio das tecnologias quânticas. A capacidade de processamento será importante para tratar os dados transmitidos por um veículo autónomo - que produz quatro terabytes de informação em apenas um dia -, a que se juntam as vantagens na sua encriptação. "A transmissão de dados tem de ser segura e impenetrável a ataques cibernéticos", reforça a especialista em criptografia Preeti Yadav. É no desenvolvimento de criptografia de alta segurança que se concentra a equipa do laboratório da Capgemini Engineering em Lisboa, um espaço onde o talento nacional e internacional procura dar cartas na tecnologia que promete vir a revolucionar o mundo.

Apesar de ainda não existirem soluções quânticas comerciais disponíveis, Bruno Coelho, responsável pela área de tecnologia e inovação desta marca do grupo, defende que essa "não é a questão que se deve colocar". "A questão deve ser como podemos estar prontos para a usar quando estiver disponível, porque sabemos que os pioneiros terão a vantagem [nessa altura]", afirma.

dnot@dn.pt

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