Superluas, eclipses raros e trânsitos. Para ver uma (ou duas) vezes na vida
Quem ontem espreitou o céu, olhando para nordeste ao anoitecer, teve a sorte de ver nascer no horizonte a maior e mais brilhante lua cheia dos últimos 68 anos. Assim mesmo, mais de meio século. Agora vai ser preciso esperar mais 34 anos para ver de novo uma lua tão gigante no céu.
Quem não estivesse atento poderia até nem notar uma diferença dramática, mas quem se dispôs a olhar com atenção notou certamente a maior dimensão da lua e, sobretudo, assistiu a um daqueles fenómenos que raras vezes se veem na vida, uma vez que eles não são assim tão vulgares.
Esses observadores atentos, e os que viram a passagem do cometa Halley, em 1986, ou o trânsito de Vénus à frente do Sol, em 2012, podem gabar-se de ter ganho no "currículo" a observação de fenómenos celestes que, à escala humana, são muito raros.
Foi o caso da lua cheia de ontem que, estando no perigeu da sua órbita (o ponto em que está mais próxima da Terra), nasceu 13% a 14% maior em relação à dimensão com que a vemos no apogeu, ou seja, no ponto onde ela se encontra mais afastada da Terra.
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Como a órbita descrita pela Lua em torno da Terra não é redonda, mas uma elipse que vai oscilando ligeiramente, a distância da Lua ao planeta nunca é exatamente igual no ponto do perigeu (nem no apogeu), mas "varia entre um mínimo de 356 mil quilómetros e 364 mil quilómetros", como explica o astrónomo Máximo Ferreira. Ontem, essa distância estava muito perto do mínimo, porque o ponto do perigeu também já tinha passado.
Fotografias para comparar
Para tirar teimas, Máximo Ferreira sugere que "as pessoas fotografem a lua, para poderem depois comparar, e verificar como a dimensão aparente da lua se altera", devido a esta mecânica. "Amanhã [hoje, terça-feira] ainda vão a tempo de fazer essas fotografias", sublinha o astrónomo, que vai aproveitar também a tarde de hoje, no Centro Ciência Viva de Constância, para fazer uma palestra sobre o tema.
Se não viu ontem, ainda pode espreitar, para ter uma ideia do que foi, além da maior dimensão aparente, o aumento do brilho da Lua, da ordem dos 29% a 30%.
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E se falamos de fenómenos celestes raros, para ver uma vez (quando muito, duas) na vida, então é preciso referir um caso como o da passagem do cometa Halley que, na sua vertiginosa viagem em torno do Sol, só se aproxima da região do sistema solar onde navega a Terra a cada 76 anos.
O primeiro registo conhecido da passagem do Halley no "céu terrestre" data de 240 a.C. Depois, ao longo do tempo, cronistas de diferentes latitudes foram passando a escrito o seu fascínio pelo fenómeno celeste. Mas cada geração, em média, só teve oportunidade de o observar uma vez. A sua aparição mais recente foi em 1986 e agora só em 2061 ele voltará por aqui - ainda falta.
Outros fenómenos que não se deixam ver frequentemente são os trânsitos de Vénus e de Mercúrio, os únicos dois planetas do sistema solar que é possível observar, a partir da Terra, com o Sol em pano de fundo. O último trânsito de Vénus ocorreu a 5 de junho de 2012, e quem não viu terá de esperar... por 2117.