O governo de Keir Starmer completa 100 dias no próximo sábado.
O governo de Keir Starmer completa 100 dias no próximo sábado.EPA/ANTHONY DEVLIN / POOL

Starmer longe do estado de graça antes de ter 100 dias no governo

Em menos de 24 horas, o primeiro-ministro britânico perdeu Sue Gray, a sua chefe de gabinete, envolvida em várias polémicas, e viu ser publicada uma sondagem que mostra que mais de metade dos eleitores classificam o seu governo como desprezível.
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O governo britânico liderado por Keir Starmer chega no sábado aos  100 dias no poder depois de uma vitória histórica dos trabalhistas nas eleições gerais de 4 de julho, nas quais conseguiram conquistar 411 lugares no Parlamento (precisavam apenas de 326 para ter uma maioria), pondo fim a 14 anos de executivos conservadores. Mas este resultado histórico está longe de ter garantido um estado de graça a Starmer, que este domingo perdeu a sua chefe de gabinete e começou a segunda-feira com uma sondagem que mostra que mais de metade dos britânicos consideram o seu governo desprezível.

A sondagem da YouGov divulgada na manhã desta segunda-feira mostra que 59% dos eleitores consideram o atual governo trabalhista desprezível, um valor mesmo assim abaixo dos 77% que classificam da mesma forma os executivos conservadores dos últimos cinco anos. “Apenas três meses após a tomada do poder, seis em cada dez britânicos (59%) já descrevem o governo trabalhista como pelo menos bastante “desprezível” - o dobro dos 28% que o descreveriam como não muito desprezível ou nem um pouco desprezível. Embora este valor não seja tão elevado como os três quartos do público (77%) que consideram o anterior governo conservador ou os governos britânicos em geral desprezíveis, não é um resultado positivo”, refere a YouGov na sua análise dos resultados.

O mesmo estudo de opinião sugere ainda que Keir Starmer (35%) pessoalmente é visto como mais desprezível do que o seu antecessor, o conservador Rishi Sunak (28%), que não chegou a estar dois anos no cargo. No entanto, o líder trabalhista (25%) ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar o polémico Boris Johnson (45%), que liderou o governo entre julho de 2019 e setembro de 2022. Os resultados da YouGov mostram ainda que quatro em cada 10 eleitores esperavam que o atual governo iria ter um bom comportamento no poder, mas que as coisas têm corrido pior do que esperavam. 

“Nas últimas semanas, figuras importantes do governo trabalhista, incluindo o primeiro-ministro Keir Starmer, enfrentaram críticas por aceitarem milhares de libras em presentes de doadores do partido, incluindo roupas, óculos e bilhetes para eventos imperdíveis. Embora longe de serem as primeiras alegações de ‘desprezo’ contra políticos nos últimos anos, surge apenas alguns meses depois de os trabalhistas terem feito do ‘servir o país’ um tema chave da sua campanha eleitoral”, refere a análise desta sondagem. 

A estes números soma-se uma crise dentro do número 10 de Downing Street, depois de Sue Gray, a chefe de gabinete de Keir Starmer, ter apresentado a sua demissão no domingo, depois de meses de criticismo. 

Gray será substituída por Morgan McSweeney, que planeou a vitória eleitoral dos trabalhistas e com quem Gray estaria em rota de colisão. Segundo o The Guardian, a ex-chefe de gabinete de Starmer terá sido apanhada de surpresa com a nomeação de McSweeney para o seu cargo, tendo apenas descoberto pouco antes de seu anúncio.

Para a sua demissão contribuíram várias polémicas, como ser acusada de microgerir o pessoal em Downing Street e limitar o acesso à caixa vermelha oficial de documentos do governo do primeiro-ministro, mas também não ter conseguido evitar e controlar a controvérsia sobre os brindes, havendo quem alegasse que ela não tinha “experiência política”.

A fricção entre Gray e McSweeney foi relativizada por várias figuras trabalhistas nos últimos meses, mas há algumas semanas um ministro do governo já tinha vaticinado este desfecho ao afirmar que “um ou ambos terão de ir embora e não será Morgan”.

Na sua mensagem de demissão, Gray admitiu que “comentários intensos sobre minha posição corriam o risco de se tornar uma distração”.

ana.meireles@dn.pt

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