Sismos. Calheta já está a receber vizinhos das Velas e diz-se pronta para acolher todos

Terra continua a tremer em São Jorge e o nível de alerta vulcânico subiu para o nível de "possibilidade real de erupção". Plano em caso de evacuação total da ilha está preparado, com meios aéreos e uma fragata de prontidão.
Publicado a
Atualizado a

Desde sábado, já se registaram mais de dois mil sismos na ilha de São Jorge, 142 dos quais sentidos pela população. Só nas primeiras horas desta quinta-feira foram registados onze sismos, sendo que a atividade sísmica "continua acima do normal", de acordo com o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores. O CIVISA elevou entretanto o nível de alerta vulcânico na ilha do grupo Central para V4 (de um total de cinco), o que significa "possibilidade real de erupção". Cenário que levou o Governo Regional a recomendar à população com maiores vulnerabilidades da principal zona afetada na ilha que abandone as suas casas.

"O que se aconselha às pessoas que vivem, entre as Velas e a Fajã das Almas, é que façam uma deslocação das suas residências, sobretudo pessoas com mobilidade reduzida, pessoas dependentes de terceiros para as suas atividades básicas, pessoas residentes em edifícios sem garantias de segurança antissísmica e residentes em zonas próximas de vertentes ou falésias de particular perigosidade de deslizamento ou desabamento, como são as fajãs", afirmou hoje Clélio Meneses, o secretário regional que tutela a Proteção Civil.

A mudança de pessoas das Velas para a Calheta, os únicos municípios da ilha de São Jorge, já começou, mesmo antes de surgirem as indicações das autoridades. "Somos uma ilha pequena, com pouco mais de 60 quilómetros de comprimento, e todos acabam por se conhecer, e tenho uma noção, embora não lhe possa adiantar números, que muitas famílias e muitas pessoas a título individual já estão a pernoitar no concelho da Calheta e, inclusivamente, estão a trazer alguns dos seus bens, como carros e barcos", disse ao DN Décio Pereira, presidente da Câmara Municipal da Calheta.

Num registo oficial, "já foram transferidas pessoas que estavam internadas no Centro de Saúde das Velas para o Centro de Saúde da Calheta e hoje também as pessoas do lar de idosos das Velas serão transferidas para a Pousada da Juventude que está situada aqui na sede do concelho e também para o nosso lar residencial de pessoas com idade", acrescentou o autarca.

A situação que se vive nesta ilha açoriana está a ser encarada pela sua população "com serenidade, mas com justificada preocupação". "Nós todos temos a consciência do lugar onde vivemos. Por vezes esquecemos, porque nos é conveniente esquecer que estas coisas podem acontecer. Em 1980, tivemos um sismo tremendo, que também abalou e até tirou vidas, infelizmente", recordou Décio Pereira.

Caso a situação piore no concelho das Velas, a Calheta está pronta para receber os vizinhos e também para dar outro tipo de apoio, tendo já mobilizado recursos humanos da autarquia e equipamentos e maquinarias para que estejam de prontidão para qualquer cenário. "Os presidentes de junta têm e vão desempenhar aqui um papel muito importante na mobilização de meios. O que passa por falar com os presidentes de casas do povo, das sociedades recreativas, das Irmandades do Divino Espírito Santo, que podem ser muito importantes a acontecer alguma coisa porque são espaços que têm cozinhas amplas e podem permitir confecionar muitas refeições", referiu o autarca da Calheta, adiantando que já estão a arrecadar alguns bens, combustíveis e gás que possam servir para alguma eventualidade menos agradável.

Nos últimos dias, muitas pessoas têm também ligado para os serviços da câmara a oferecerem-se para receberem moradores das Velas. Ofertas de alojamento que se juntam assim a instalações como as de centros recreativos, que já estão prontas para receber deslocados. Se estas não se mostrarem suficientes, há ainda outra solução, de acordo com Décio Pereira. "Podemos solicitar ao governo regional que encerre a escola, que é um edifício moderno e com condições sísmicas de outra dimensão, para que esta possa servir para albergar pessoas, até porque tem infraestruturas sanitárias mais amplas".

O cenário mais negro, que será a retirada de todas as pessoas da ilha - São Jorge tem 8 373 pessoas, segundo os dados provisórios dos Censos2021 - devido a um agravamento da situação sísmica e vulcânica, também já está acautelada. "Temos a fragata, temos meios aéreos, temos os helicópteros, temos também os serviços dos barcos da Atlanticoline, que estão de sobreaviso e disponíveis para alguma evacuação", referiu o edil da Calheta.

Entidades como a Proteção Civil Nacional, o INEM e a Cruz Vermelha estão igualmente a "preparar a sua intervenção numa possível situação de catástrofe", revelou o secretário regional Clélio Meneses.

Na quarta-feira, o presidente da Câmara das Velas, já havia dito também que estava a ser preparado um campo militar, que ficará localizado no concelho da Calheta, para o caso de ser necessário. Luís Silveira adiantou que será na Calheta que "vai ser feita a triagem das pessoas a alojar, a realojar e, eventualmente, a levar para fora da ilha, se chegar-se a esta dimensão".

O autarca das Velas afirmou igualmente que está definido que as pessoas vão ser avisadas em caso de evacuação das localidades pelas redes sociais dos serviços municipais de Proteção Civil e pela rádio local e, em caso de falta de comunicação, com o replicar dos sinos nas freguesias.

Esta quinta-feira, o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, esteve em São Jorge, tendo dito que a população que pretende sair da ilha não vai ser "travada", insistindo que o Governo Regional está a reforçar as ligações áreas e marítimas para São Jorge - ontem as ligações aéreas à ilha passaram a cinco, as duas programadas e mais três extraordinárias.

com LUSA

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt