Os sinais, postos pela junta de freguesia da Misericórdia, estão no Bairro Alto, Bica e Cais do Sodré.
Os sinais, postos pela junta de freguesia da Misericórdia, estão no Bairro Alto, Bica e Cais do Sodré.Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Sinais apelam ao silêncio em bairros de Lisboa

A Junta de Freguesia da Misericórdia alerta os frequentadores dos espaços noturnos para o facto de os moradores terem direito ao descanso.
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Bairro Alto, Bica e Cais do Sodré. Para a maioria das pessoas podem ser só locais de diversão noturna, mas a verdade é que ainda há muitas pessoas a viver nestas zonas de Lisboa. E, desde há largos anos, que se existe um conflito de interesses entre os moradores – que exigem descanso – e os comerciantes. Agora, a Junta de Freguesia da Misericórdia decidiu colocar sinais a pedir “silêncio” e “respeito” pelos que ainda resistem e moram naquelas áreas da cidade.

Luís Paisana, presidente da Associação de Moradores da Misericórdia, ainda não vê resultados desta medida. “Por enquanto nada mudou, ainda é cedo”, observa. Certo é que o ruído constante, da diversão de uns, tem afastado outros da freguesia. “Este problema já tem uns largos anos. E tem sido, até, motivo para muitas vezes as famílias mais novas não se fixarem na freguesia. O barulho causa muitos transtornos e quem tem de ir trabalhar no dia seguinte e levar os filhos à escola não aguenta e acaba por ir-se embora. É impossível as pessoas dormirem”.

Alguns moradores, segundo Luís Paisana, começaram a arranjar “estratégias para conseguirem descansar. Ou dormem em quartos mais recuados, colocam vidros duplos ou, quem pode, fica a ver televisão e vai dormir mais tarde, porque pode levantar-se mais tarde no dia seguinte”. São sobretudo os idosos a sobreviver, no meio deste ambiente. “É um fenómeno que, infelizmente, não é recente”.

Apesar da iniciativa da junta de freguesia, o presidente a Associação de Moradores da Misericórdia não tem grande fé na nova sinalética. “Não tenho muitas esperanças que isto possa ter algum efeito. De facto, sobretudo nas zonas de diversão noturna, o ruído é extremamente alto. O barulho não parte tanto dos estabelecimentos mas dos utentes, de quem vai lá para se divertir”.

Mais uma vez, as bebidas baratas voltam a colocar esta zona da cidade em situação caótica. “As pessoas vão falando cada vez mais alto à medida que o álcool vai aumentado no sangue. Tornam-se arrogantes. Além disso, quando os estabelecimentos fecham, por falta de transportes, porque depois o metro só abre às 06:00, muita gente fica ali pelas ruas, a beber e a falar, à espera de poder ir para casa sem ser de táxi ou por outros meios”, alerta este responsável.

Hilário Castro, presidente da Associação de Comerciantes do Bairro Alto (ACBA), concorda com a medida tomada pela junta de freguesia e dá conta de que, três semanas antes, tinha andado a distribuir folhetos, durante a noite, apelando precisamente ao silêncio e ao respeito pelos moradores. “É uma situação que discutimos há muito tempo e em que temos procurado soluções e consensos para esta matéria”, alerta o presidente da ACBA.

No entanto, para Hilário Castro, os avisos e sinalética têm de ser acompanhados de outras medidas. “Ninguém está contra as pessoas andarem na rua. Há é atitudes que são lamentáveis e condenáveis. Se não houver mais policiamento, se não houver mais controlo, a juventude amassa os copos e continua a fazer o mesmo. Nada os obriga a nada, nem sequer a ver os letreiros”. E conclui: “É necessário uma maior sensibilização para o facto de haver pessoas que ainda moram nestes sítios”.

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