Sete jovens fortalecem laços entre "o país do coração e o de sonho"

Principal acionista da EDP lançou programa de bolsas para mestrados ou doutoramentos. Estudantes portugueses receberam 25 mil euros cada. Aventura começa em setembro
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Desde os 13 anos que Romana sonha com a China. "Quando eu dizia às pessoas que um dia ia viver na China, ninguém acreditava. Então em vez de desistir desse sonho comecei a tomar algumas ações que me pudessem levar lá. Tive aulas de mandarim, depois na universidade escolhi estudos chineses e acrescentei às duas aulas de mandarim por semana da faculdade, mais duas horas no Instituto Confúcio. Foi um desafio, não vou dizer que foi fácil. Mas não me fez desistir". Romana Almeida, de 21 anos, parte hoje para a China onde vai estudar nos próximos dois anos. Com ela vão mais seis estudantes que venceram a primeira edição das bolsas da China Three Gorges (CTG), principal acionista da EDP.

Os alunos das universidades de Lisboa, Porto e Coimbra vão receber 25 mil euros para fazer o mestrado em solo chinês. Um programa de bolsas que está agora no primeiro ano e para o qual a empresa canalizou um milhão de euros, como sublinhou ontem na entrega dos diplomas o embaixador da China em Portugal, Cai Run. O objetivo da empresa e do governo chinês é "aumentar o intercâmbio entre os dois países".

Para Romana Almeida, esta é a oportunidade de ajudar a fortalecer essas mesmas relações "entre o meu país do coração, que é Portugal, e o meu país de sonho, que é a China". Um fascínio que a mãe da jovem, Anabela Caldas, recorda entre lágrimas. "Tenho de parar de chorar, mas é um misto já de saudade e de orgulho. Ela começou a prestar atenção ao oriente com a banda desenhada do Naruto, que até é japonês. Ela tem coração português, mas a alma dela pertence ao oriente."

De partida está também Miguel Carvalho, da Universidade do Porto. Depois de terminar o mestrado em engenharia, que o levou a passar o último semestre em Taiwan, o estudante de 22 anos regressa agora, mas desta vez a Xangai para para fazer um novo mestrado, agora em gestão internacional.

Da primeira experiência destaca a cultura e a língua, algo que vai à procura "de aprofundar". "O oriente destaca-se pelas culturas milenares que são todas muito diferentes umas das outras. Cada uma manteve a sua identidade, não é como na Europa, em que há um bocado o efeito da homogeneização." Depois gosta da comida e da arquitetura. "É uma experiência muito engraçada."

Para estarem ontem nos escritórios da CTG, em Lisboa, na cerimónia de entrega dos diplomas, Miguel, Romana, Alexandre, Tiago, Ricardo e Andreia (um dos alunos não esteve presente) passaram por um processo de seleção que durou cerca de três meses. "Foi fazer a candidatura, depois houve uma pré-seleção e a seleção final", explica Miguel, que soube do programa através de um email enviado por um amigo. "Na altura pareceu-me um long shot, mas candidatei-me e aqui estou eu." Entre os pré-requisitos estão uma média de pelo menos 14 valores e os alunos têm de ter concluído a licenciatura ou o mestrado.

A CTG concede o apoio financeiro aos alunos -25 mil euros para cada um -, mas são eles os responsáveis por se candidatarem à universidade que pretendem. "A escolha da universidade, da cidade e o alojamento são tratados pelo estudante", explica o universitário do Porto. A ideia é que o montante da bolsa cubra todas as despesas, mas no caso de Miguel, "as propinas da universidade e o custo de vida em Xangai vão obrigar a um esforço financeiro da minha parte".

Embaixadores "orgulhosos"

Para a CTG esta é uma forma também de retribuir a Portugal o valor que a EDP trouxe à empresa chinesa. "As duas empresas estão melhor hoje. A EDP está mais forte e a CTG mais internacional. A EDP permitiu à Three Gorges crescer internacionalmente e é uma área significativa dos lucros para o grupo", sublinhou o vice-presidente da empresa em Portugal. Ignacio Herrero indicou ainda que a empresa quer apostar na área da Educação e do intercâmbio de estudantes.

Para a secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior estes protocolos são uma forma de "diversificar o investimento na educação". Aos estudantes, Maria Fernanda Rollo lembrou "a responsabilidade de serem embaixadores académicos, com respeito pela cultura e pelas leis locais" e apelou a que "sejam também orgulhosos de serem embaixadores académicos portugueses". Afinal, "são uns sortudos por esta oportunidade".

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