Segundo maior número de colocados de sempre no Ensino Superior

Foram colocados quase 50 mil novos estudantes na 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso para o ano letivo de 2022/2023 - 81% do total de candidatos. Medicina volta a ser o curso com nota de entrada mais alta. Para António de Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, "o panorama geral é positivo", apesar da diminuição de candidatos (3,9%) face à mesma fase do ano anterior.
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Os números de alunos que ingressaram no Ensino Superior (ES) exibem um "panorama geral positivo". É esta a leitura que António de Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, faz dos resultados da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior 2022/2023.

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Foram admitidos 49.806 novos estudantes, o que corresponde a um aumento de 0,7% em relação à mesma fase do concurso de 2021. Contudo, apresentaram-se a concurso, nesta fase, 61.507 candidatos, uma diminuição de 3,9% face à mesma fase do ano anterior. "É natural este decréscimo, por causa do inverno demográfico. Temos uma redução de natalidade brutal, em pouco mais de 10 anos passámos de 110 mil partos anuais para 80 mil, em média, e isso tem reflexos no número de jovens", explica António de Sousa Pereira. No entanto, "o panorama geral é positivo, porque, apesar da diminuição, à volta de 2500 estudantes a menos, há um aumento do número de colocados face ao ano passado, mais 300. Por isso a taxa de sucesso das candidaturas é superior. E é bom para o país que uma percentagem maior de jovens faça formação de nível superior, para sermos cada vez mais competitivos a nível nacional e internacional", explica.

Segundo o também reitor da Universidade do Porto, é de salientar ainda a "redução de vagas não ocupadas" e o "aumento de colocados no Interior do país". "Houve um aumento no Interior e uma estagnação no Litoral. O receio que havia de que os cursos do Plano de Recuperação e Resiliência pudessem deslocar estudantes para o Litoral acabou por não se verificar", adianta.

De uma forma geral, as médias de acesso ao ES desceram ligeiramente este ano. Medicina (ICBAS, da Universidade do Porto) voltou a ser o curso com a nota de entrada mais elevada, contrariando a tendência dos últimos anos, onde os cursos de engenharia lideraram. "É uma quebra da tendência dos últimos anos. As medicinas retomaram a posição de topo", diz António de Sousa Pereira . Para ele, "a pandemia colocou o foco na importância da ação dos médicos e pode ter tido algum efeito, mas o que é facto é que, de uma forma geral, a nota de acesso foi menor do que o ano passado em engenharia também. As médias só aumentaram nas áreas de economia e gestão", conta.

Este ano ocupam as primeiras 10 posições de cursos com a média mais alta o de Medicina (ICBAS), da UP (18,9 valores), Engenharia Aeroespacial, da Universidade de Lisboa (UL) (18,85), Engenharia Física Tecnológica, da UL (18,78), Engenharia e Gestão Industrial, da UP (18,73), Medicina, da UP (18,72), Matemática Aplicada e Computação, da UL (18,7), Bioengenharia, da UP (18,65), Engenharia Aeroespacial, da Universidade do Minho (18,62), Medicina, também no Minho (18,58), e Arquitetura, na UP (18,55).

António de Sousa Pereira mostra preocupação perante o aumento do custo de vida e o possível consequente abandono escolar. "O problema é garantir que não há abandono escolar e que sejam criadas condições para fazer face ao custo de alojamento. O número de estudantes com dificuldades económicas vai crescer", confessa.

E acredita que serão os estudantes oriundos da classe média aqueles que sentirão mais os efeitos da crise, isto porque os das classes mais baixas contam com apoios que permitem prosseguir estudos. "Quem beneficia de bolsa, tem alojamento garantido, mas para a classe média os apoios são baixos e têm de procurar casa. No centro das grandes cidades é incomportável. A pressão do turismo é brutal e os custos são elevados. Os estudantes terão de se afastar da cidade e usar o metro, como, por exemplo, a linha da Póvoa de Varzim. Terão de ser soluções desse tipo, conjugadas com aumento de apoios, para poderem fazer face ao custo de alojamento", sublinha.

Questionado pelo DN sobre a possível necessidade de abertura de cursos de Medicina nas universidades privadas para fazer face à crise do SNS, o reitor não tem "nada contra". Contudo, está convicto de que "não resolveria, de todo, o problema. Temos uma crise em que precisamos de arranjar médicos amanhã. Há todo um processo para se poder abrir um novo curso. Na melhor das hipóteses, são dois anos até que sejam cumpridos os trâmites. Ou seja, abrindo hoje, os jovens médicos sairiam da universidade daqui a oito anos e precisaríamos de deixar passar 16 anos para chegarem a especialistas. Não é algo muito inteligente para tentar resolver a crise atual", explica.

O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas acredita que o problema está na "capacidade formativa de especialistas" (feita nos hospitais). "O meu receio é de que, perante um certo desmantelamento do SNS, comece a haver cada vez menos capacidade formativa que garanta a formação dos médicos. No último concurso já não houve lugar nas especialidades para todos os estudantes que saíram da universidade. Por isso não me parece solução para coisa alguma a abertura de novos cursos de Medicina, seja no público, seja no privado", advoga.

O governo prometeu reavaliar o modelo de acesso ao ES, mas as medidas concretas, que poderão vir a aplicar-se no próximo ano letivo, ainda não são conhecidas. António de Sousa Pereira diz ser necessária "uma discussão franca, sem elitismo e sem preconceitos", antes da tomada de decisões. Acredita que deveriam ser mantidas, pelo menos, as mudanças implementadas na pandemia, altura em que os estudantes passaram a fazer apenas os exames nacionais que precisaram para os cursos que pretendiam frequentar. "O que aconteceu nos últimos dois anos foi positivo e mostrou que, simplificando o acesso, se pode manter a qualidade, e permitiu, efetivamente, aumentar a base de recrutamento para o ES, o que é bom para o país."

Com o aumento da inflação e o alojamento cada vez mais caro, Mariana Gaio Alves, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior, teme que este ano letivo mais alunos abandonem os estudos. "Este ano temos essa preocupação acrescida por causa das dificuldades das famílias portuguesas. O ano passado houve um aumento de alunos que abandonaram o seu ciclo de estudos e devemos prevenir essa problemática. É preciso apoiar as famílias e investir nas instituições do Ensino Superior", explica. A sindicalista lamenta a "falta de aumento de verbas que são transferidas do Orçamento do Estado".

Na lista de preocupações do sindicato está também o "aumento de professores com contratos precários, o que compromete um trabalho de qualidade" e "afasta os docentes das universidades". "O grande desafio é o investimento nas instituições. É preocupante que em algumas áreas os doutorados tenham melhores condições em empresas privadas e em lugares no estrangeiro. Temos estado a assistir a um aumento de doutorados com condições precárias, e essas questões já estão a comprometer a sustentabilidade da oferta educativa no ES. Continua a haver uma procura elevada por parte dos jovens no ES", conclui.

Medicina

É da Universidade do Porto o curso com a nota mais alta do último colocado do Concurso Nacional. Trata-se do curso de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, com 18,9 valores.

Competências digitais

Foram colocados 7327 estudantes em cursos nas áreas de competências digitais, ciências de dados e sistemas avançados de informação, ciências e tecnologias do espaço e engenharia aeroespacial. Um aumento de 9% face a 2021.

Cursos

No top 5 dos cursos com a mais alta nota de entrada está Medicina, Engenharia Aeroespacial, Engenharia Física Tecnológica, Engenharia e Gestão Industrial, Matemática Aplicada e Computação.

Média negativa

Há cinco cursos cujo média do último colocado se fixou abaixo dos 10 valores: Design de Jogos Digitais, Gestão e Administração Pública, Educação Social (no Politécnico de Bragança); Equinicultura (Escola Superior Agrária de Elvas) e Artes Visuais (Universidade da Madeira).

Emigrantes

As colocações pelo contingente especial para emigrantes e lusodescendentes aumentaram 16% (484 estudantes) face ao ano letivo 2021-2022, com 419 colocados.

Sem candidatos

26 cursos não tiveram qualquer estudante a candidatar-se. São todos de Politécnicos em Beja, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Viseu e Tomar.

61 507

Apresentaram-se a concurso, nesta fase, 61 507 candidatos. Uma diminuição de 3,9% face à mesma fase do ano letivo anterior .

84%

Dos 49806 novos estudantes na 1.ª fase do Concurso de Acesso ao Ensino Superior, 84% foram colocados numa das suas três primeiras opções de candidatura.

5284

Sobraram 5284 vagas para a segunda fase do Concurso de Aceso ao Ensino Superior, o que representa o menor número de vagas sobrantes desde 1999.

381

É o número mais elevado de sempre. Foram colocados 381 estudantes através do contingente especial para estudantes com deficiência, o que representa um aumento de 21% face ao ano anterior.

727

O número de estudantes colocados em licenciaturas em Educação Básica aumentou 14%, com 727 estudantes colocados nesta 1ª fase.

13351

O número de colocados em instituições localizadas em regiões com menor densidade demográfica, como a UBI, UÉvora, UTAD, IP Bragança, IP Viseu, entre outras, aumentou 6% , com 13351 estudantes colocados.

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