Portugal registou ontem menos casos do que há uma semana. Ao todo, foram 27 916 quando na passada segunda-feira, dia 24, foram 32 758, sendo que se manteve a mesma dinâmica de testagem. Ou seja, começa a haver uma variação negativa em relação ao mesmo período homólogo de sete dias, afirma ao DN o professor Carlos Antunes, da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que desde o início da pandemia faz a modelação da evolução da covid-19. E quando assim é estamos a passar ou a ultrapassar o pico da onda epidémica, devendo o ritmo de crescimento da infeção começar a descer em breve..Se tal se confirmar, e de acordo com as estimativas destes analistas, o país poderá entrar em endemia no final de março ou em abril. No entanto, os cenários em cima da mesa não fazem prever que a descida de casos seja abrupta, mas antes "lenta e com alguns picos de infeção". "Vai ser um sobe e desce, até pelo comportamento natural da população", explica Carlos Antunes..Ontem, a desaceleração de casos já estava patente no boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS). "É já uma variação negativa em relação à semana homóloga. É um bom indicador, junto de outros, que pode querer dizer que Portugal está a passar pelo pico desta onda epidémica gerada pela nova variante, Ómicron, ou mesmo a atingi-lo", argumenta o especialista. "As nossas estimativas apontavam para a passagem do pico entre o dia 28 de janeiro e o dia 2 de fevereiro. Portanto, pode estar a acontecer, mas essa confirmação só a teremos na quarta-feira com os dados diários.".E porquê? "É à quarta-feira que se têm todos os dados atualizados. Ao fim de semana, pode haver alguns atrasos. Costumamos dizer que é o dia de todas as contas. Se o número desse dia for mais baixo do que na quarta-feira anterior, isso significa que o pico passou", afirma..Aliás, Carlos Antunes acredita que "o pico possa já ter passado, tendo em conta a desaceleração que já se sente nas faixas etárias mais novas, dos 0 aos 5 anos e dos 6 aos 11 anos, e a nível regional. O norte e Lisboa e Vale do Tejo continuam em planalto, são os motores da incidência em todo o país, mas a sua subida também começa a abrandar"..Por isso, e tendo em conta esta realidade, diz mesmo que as estimativas feitas há uma semana pela sua equipa, de que o pico poderia ser atingido nos 70 mil ou 80 mil casos, provavelmente não se irão confirmar. "Em termos médios a incidência não deverá ultrapassar os 60 mil ou os 65 mil casos, ficando aquém dos 70 mil a 80 mil que eram esperados", admite, deixando uma ressalva: "A não ser que tenhamos mais uma surpresa, como tivemos com a Ómicron, mas tudo indica que a infeção já está a desacelerar.".Prova disso pode ser a evolução da taxa de positividade que se está a alcançar com a testagem: "Se olharmos para a testagem feita no domingo, e se não houve qualquer alteração na sua dinâmica por causa das eleições - nos dois atos eleitorais de 2021, presidenciais a 24 de janeiro e autárquicas a 26 de setembro, não houve -, devem ter sido feitos cerca de 250 mil testes, já que este foi o número realizado no dia 29, se tivermos positividade só em 27 mil, isto quer dizer que há menos pessoas infetadas e que a infeção está a perder força. É um indicador importante." E assume que nas contas feitas pela sua equipa "a evolução da positividade nos testes já parou de subir, e isto é um indício de que estaremos já sobre o pico ou muito próximos"..No boletim de ontem da DGS, a incidência estava em 6836,6 por 100 mil habitantes a nível nacional, mas como tem explicado Carlos Antunes, este valor tem um atraso de cinco a sete dias. E a incidência já atingiu os 7 mil infetados por 100 mil habitantes, embora o pico da incidência só se registe sete dias após o pico do número de casos. "A incidência vai continuar a subir. Só na próxima semana se deve atingir o pico, que rondará os 7500 por 100 mil habitantes.".Neste momento, o que se observa na incidência é que a dinâmica da onda da Ómicron já passou por todas as faixas etárias. "A maior subida da última semana foi nos mais idosos, acima dos 80 anos. O que é natural. Esta onda começou na transmissão entre os mais novos, nas escolas, passou para a faixa dos pais, dos 30 aos 49 anos, e agora já está na faixa acima dos 65, mas com maior ritmo de crescimento nos maiores de 80, onde a variação de aumento é da ordem dos 30%", sublinha..Em termos de dinâmica da onda chegámos a um ponto em que todas as faixas etárias "já passaram pelo ponto de inflexão, e o crescimento já está mais lento". Agora, quando acontecerá a fase da endemia? O professor só diz que tal irá acontecer, mas que uma data certa é difícil de prever. "Está tudo em aberto. Não é taxativo que venhamos a registar uma descida abrupta de casos para se entrar já na endemia, mas também é pouco provável que se continue em planalto. A hipótese que temos discutido na nossa equipa é que iremos ter uma descida progressiva, mas lenta, e com picos de infeção. As condições que poderiam levar a uma descida abrupta não estão a acontecer.".A partir do momento que se passe o pico e a tendência de evolução seja a de descida há dois cenários que se colocam: o primeiro é o de uma descida abrupta, mas para tal acontecer, a descida deveria ser da ordem dos 7% a cada sete dias, permitindo que se passasse assim dos 60 mil casos para os 30 mil e uma semana depois para os 15 mil, e por aí adiante, mas o mais provável é que não seja assim, porque esta descida exigiria "confinamentos gerais, como aconteceu no ano passado, ou que já não houvesse quase população para o vírus infetar, o que também não é o caso"; o segundo é o de uma descida lenta, sendo este o mais provável.."Os casos vão diminuindo de forma progressiva, mas lenta. Simplesmente, quando começarem a diminuir - as pessoas que mais se têm resguardado, neste momento ainda temos cerca de 22% da população em teletrabalho - voltam a expor-se, e a infeção volta a ganhar força. Depois, as pessoas retraem-se, os casos descem e voltam a expor-se. E vai ser assim, este sobe e desce, com ressurgimentos da infeção.".No entanto, isto não quer dizer que, "no final de março ou de abril, não se entre numa situação endémica, tudo vai depender da velocidade da descida e do ressurgimento ou não de casos e com que dimensão", conclui.