Reabertura faseada das escolas deve ser por idades e por nível da doença em cada região
O Presidente da República incluiu no decreto do novo estado de emergência, ontem aprovado no parlamento, uma nuance em relação aos anteriores, pedindo aos governantes que desenhem um plano faseado para a reabertura das escolas.
Ao DN, o pneumologista Filipe Froes e o epidemiologista Ricardo Mexia concordam com a medida, mas não se comprometem a avançar com uma data, mesmo que expectável, em que tal possa acontecer. Como argumentam, tudo dependerá da evolução da incidência da doença no nosso país, mas o pneumologista do Hospital Pulido Valente e porta-voz do Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, Filipe Froes, vai mais longe, sustentando até que a reabertura deveria ser trabalhada região a região e não a nível nacional. E explicou: "A reabertura terá de começar pelas faixas etárias em que o risco menor e é mais facilmente controlável", mas também tendo em conta outros fatores, como os indicadores de incidência de cada região.
Ou seja, há regiões com maior incidência do que outras que poderiam reabrir mais cedo, mas nunca enquanto "não tivessem um número de novos casos abaixo dos 480 por cem mil habitantes", sublinhou. O pneumologista reforça que a proposta de reabertura deve ter em conta o Rt de cada região, devendo este estar abaixo de 1 ou em 1; a menor taxa de positividade, atualmente está nos 13% na testagem a nível nacional; e ainda forte capacidade de diagnóstico e de rastreio. Para se passar à fase seguinte "é preciso haver uma capacidade de testagem rápida nas escolas e de diagnóstico e rastreio a possíveis assintomáticos", sublinhou.
Mais. Na decisão de reabertura dos estabelecimentos de ensino, desde as creches às universidades, deveríamos ter em conta a capacidade de realização de inquéritos epidemiológicos sem atrasos, pois é a única maneira de travar as cadeias de transmissão da doença. Relativamente às idades, que é o que tem vindo a ser defendido, o médico considera que as faixas etárias que apresentam um risco menor e mais facilmente controlado são as que vão dos zero aos 12 anos, fundamentando: "Começaria pela reabertura das creches, dos zero aos três anos, e depois, eventualmente, a partir daqui até aos 12 anos, porque sabemos que as crianças nestas idades, entre outros fatores, têm menor densidade de recetores AC2 aos quais o vírus se liga. Não só têm menos doença como menos transmissibilidade." Mas, reforça, a reabertura nestas faixas etárias deverá ser sempre acompanhada por "uma monitorização muito apertada dos níveis de incidência da doença e da uma forte capacidade de diagnóstico e de rastreio nas escolas".
Uma situação que implica uma nova estratégia de testagem, como testes em massa, que foi pedida pela ministra da Saúde e que a Direção-Geral da Saúde (DGS) já anunciou que irá integrar na revisão dos critérios sobre esta matéria. Em causa, a testagem a todos os contactos de casos infetados e maior disponibilidade de testes rápidos para os estabelecimentos de ensino.
Para o médico do Hospital Pulido Valente a reabertura das escolas só deveria acontecer quando todos os pontos referidos estivessem alinhados, até o do cumprimento das orientações da OMS para a vacinação até ao final de março - 80% dos profissionais de saúde, dos doentes crónicos e dos maiores de 80 anos vacinados. "Para mim, o ponto de reabertura seria aquele em que se congregasse todos os indicadores ideais", embora saiba que "tem de haver alguma flexibilidade de acordo com as características e o nível de repercussão na sociedade".
Destaquedestaque Antes, defendeu-se que se começasse pelo encerramento das escolas a partir dos 12 anos, sobretudo pelas universidades, já que era nesta faixa etária em que havia indicadores de maior transmissibilidade. Agora, a reabertira deve swer ao contrário, pelas faixas etárias mais pequenas e, por último, os universitários.
O epidemiologista Ricardo Mexia concorda que se comece a trabalhar num plano faseado para a reabertura das escolas, o que, aliás, "tem vindo a ser defendido desde sempre", recordando que, no final de dezembro princípio de janeiro, foi defendido precisamente o contrário - que o encerramento das escolas fosse faseado e de forma de atenuar o impacto de transmissão da doença na sociedade.
"Defendeu-se que se começasse pelo encerramento das escolas a partir dos 12 anos, sobretudo pelas universidades, já que era nesta faixa etária em que havia indicadores de maior transmissibilidade." Tal não aconteceu no tempo e o encerramento total das aulas presenciais veio a acontecer numa altura em que a explosão da doença já estava a acontecer.
Por isto mesmo, refere Ricardo Mexia, a reabertura deve ser feita de forma faseada, sim, e ao contrário. "Começando-se pelas faixas etárias mais jovens, não devido à questão da transmissibilidade, porque nesta matéria há alguma divergência, mas porque a partir dos 12 anos o contexto de transmissão não ocorre só dentro da escola, ocorre sobretudo fora, sendo este o espaço onde os adolescentes mais interagem e sem controlo de regras."
Mesmo com os números de novas infeções, de mortes e de internamentos a descer há, pelo menos, quatro dias, o médico de saúde pública não avança com uma data para a reabertura das escolas. "Não é fácil, porque tudo dependerá dos indicadores e da avaliação que for feita. Vamos ter mais um prolongamento de 15 dias, depois, e em função da situação epidemiológica, poderá ser mais avisado o incluir ou não a abertura de algum destes níveis de ensino."
Filipe Froes e Ricardo Mexia concordam que a reabertura deve ser progressiva, que os universitários devem ser os últimos, e, mais uma vez, que a situação impõe responsabilidade individual, defendendo ser preciso que os jovens percebam que são, de facto, um fator importante no combate à pandemia e que "podem fazer parte do problema ou da solução", sublinhando: "A pandemia é um teste à nossa cidadania e à nossa responsabilidade individual e coletiva."