"Quando te dão os parabéns porque estás grávida"
Seis anos após o processo de recrutamento, Sofia Contente continua a rever-se na empresa onde ascendeu a manager. Apesar de ter descoberto que ia ter um filho logo após a contratação, a hierarquia apoiou-a e a firma abraçou o novo bebé.
Já em 1924, ano do I Congresso Feminista e da Educação em Portugal, as mulheres portuguesas reivindicavam o direito à igualdade em vários campos da sociedade. Temas como o matrimónio, a educação sexual, o emprego ou até a proteção na gravidez estiveram na ordem de trabalhos da iniciativa. Quase um século depois, a paridade de género continua a fazer parte do debate público, numa altura em que, apesar da evolução, muito continua por fazer. "A minha experiência anterior era muito na perspetiva de que as mulheres têm a mania de engravidar, o que é uma chatice", recorda Sofia Contente, a primeira protagonista da rubrica Mulher Promova, uma parceria que junta o DN à CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad. Ao longo de 20 semanas, o DN dá a conhecer a história de 20 mulheres de sucesso, os seus desafios e a forma como agarraram as oportunidades profissionais.
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A legal manager da Randstad refere-se aos "chavões" que ouviu muitas vezes sobre a maternidade nas empresas por onde passou. "No grupo empresarial do qual saí, a própria diretora de recursos humanos dizia que detestava contratar mulheres porque engravidam", aponta. Tendo em conta a formação em direito laboral de Sofia Contente, esta situação foi encarada com choque. Depois de sair da organização e de participar no processo de recrutamento para ingressar na empresa de trabalho temporário, em 2015, a profissional descobriu que estava grávida. "O meu primeiro instinto foi pensar que tinha de contar à equipa porque iria ficar indisponível daí a uns meses e, portanto, para mim fazia todo o sentido se eles quisessem voltar atrás", partilha.
Para sua surpresa, não foi isso que aconteceu. "Nunca me irei esquecer da resposta que tive do outro lado. A diretora de recursos humanos deu-me os parabéns e disse-me que estava muito feliz por mim, mas também que iria receber uma prenda quando o bebé nascesse", descreve. A partir desse momento, havia um novo membro na família Randstad Babies, um programa de incentivo e apoio à natalidade para os colaboradores da empresa. "Isto faz toda a diferença", garante.
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Apesar de Sofia Contente considerar que, no que respeita à paridade de género, "a evolução tem sido gritante" nas organizações, refere que "ainda estamos longe daquilo que gosto de acreditar que um dia o meu filho vai encontrar": um ambiente profissional em que homens e mulheres podem usufruir dos seus direitos parentais sem qualquer estigma associado. Esta é ainda uma das desigualdades que encontra na realidade laboral, assim como a falta de equilíbrio de género na administração das empresas. "Na Randstad, as oportunidades são igualitárias e baseadas apenas na meritocracia", assegura. A prova, diz, está na forma como decorreu a sua contratação, mas também no percurso de evolução que tem tido dentro da estrutura, tendo começado como advogada e, em março de 2020, promovida a legal manager. "A minha história com a Randstad foi amor à primeira vista", remata.
A empresa
Na Randstad Portugal trabalham pessoas de 67 nacionalidades, tornando as questões da igualdade de oportunidades e da diversidade centrais na política da empresa. De acordo com Mariana Canto e Castro, estes são alguns "dos pontos cardeais pelos quais alinhamos a nossa gestão", ainda que a diretora de recursos humanos reconheça que "existem outras situações que precisamos ainda de aprimorar". Entre elas, garantir que elementos como a idade, a orientação sexual ou a existência de uma deficiência "não são fatores de exclusão de um candidato com o perfil certo para uma determinada função".
Neste sentido, a multinacional dedicada à gestão de recursos humanos criou uma Academia Inclusiva, cujo objetivo passa pela formação em boas práticas e no conceito de recrutamento inclusivo. "Não temos a veleidade de achar que somos perfeitos, mas temos a certeza do caminho que queremos percorrer", afirma Mariana Canto e Castro. Esse percurso passa por assegurar que os cargos de chefia são ocupados em equilíbrio de géneros, dando prioridade à meritocracia e às competências de cada candidato. "Francamente, não ligamos a qual o seu género. Temos apenas que ter o melhor candidato para o lugar", reafirma a responsável.
É precisamente no campo das competências que iniciativas como o Promova, da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), pretendem atuar. Neste projeto, a CIP procura identificar e desenvolver talentos femininos com potencial de liderança, promovendo a igualdade de género no acesso a cargos de topo. Depois da primeira edição, em 2020, o Promova está de regresso com formação em soft skills, coaching e mentoria cruzada dirigida a mulheres que pretendam preparar um percurso profissional de sucesso.
Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/Luz Saúde/Randstad
dnot@dn.pt