O preço do arrendamento de escritórios no Porto está a subir, acompanhando o interesse crescente das empresas internacionais em instalar os seus serviços na cidade. A renda prime está atualmente nos 20 euros por metro quadrado, depois de sete anos estagnada na casa dos 18 euros. É uma subida de 11%. E o mercado já admite um aumento para os 21 euros, revela Cristina Almeida, head da JLL no Porto. Este crescimento é fruto da competitividade da sua localização na Europa. Como sublinha a responsável, o Porto “deixou de ser a segunda cidade de Portugal para passar a ser uma alternativa a outras capitais europeias”, inclusive a Lisboa..Desde 2020, “não houve nenhum pitch [apresentação de um imóvel] entre Porto e Lisboa que o Porto tivesse perdido”, assegura Cristina Almeida. Por razões de confidencialidade não avança o nome dos clientes, mas lembra que o preço do metro quadrado na capital pode chegar aos 29 euros. .O valor do arrendamento é um dos principais critérios de escolha, mas está longe de ser o único. Hoje, “é muito difícil reter talento e as empresas estão preocupadas com o bem-estar dos colaboradores”, lembra..Antes da guerra na Ucrânia, o Porto concorria muito com Varsóvia e Cracóvia, na Polónia, que se distinguiam pela construção moderna e sustentável. Mas essa realidade mudou. Os promotores adaptaram-se às novas exigências e começaram a investir em novos espaços de trabalho, respondendo aos critérios da procura. Segundo Cristina Almeida, as empresas procuram boas localizações - para que os colaboradores não percam tempo nas deslocações - comodidades, como ginásio, restaurantes e lojas nas proximidades, áreas colaborativas, zonas verdes e edifícios com certificações de construção sustentável (BREEAM, LEED, Well)..Há também de ter em conta a própria atratividade da cidade. Qualidade de vida, segurança, boas instituições de ensino e gosto de receber são mais-valias nestas competições globais pela captação das empresas. “Este capital humano é único e funciona como um íman para atrair pessoas e investimento, sendo um motor também do setor imobiliário”, sublinha a gestora..Por isso, o Porto surgiu como opção para a deslocalização de uma empresa norte-americana que estava instalada em Moscovo, quando se iniciou a guerra na Ucrânia. Num inquérito interno, os colaboradores destacaram a localização, considerando-a acolhedora e recetiva a receber e integrar pessoas de outras nacionalidades. E, hoje, a empresa está instalada em plena Baixa portuense..Neste momento, há vários projetos em curso pensados para este novo mercado, como o DM2, o Mutual, o Viva Offices ou o Hop. Em construção, há quase 95 mil metros quadrados, espalhados por Matosinhos (22%), Zona Empresarial do Porto (21%), Boavista (16%), Baixa (15%), Zona Oriental (13%) e Maia (7%).Para Cristina Almeida, o POP - Porto Office Park foi, em dada medida, o pontapé de saída desta onda modernista de escritórios. O projeto, que obteve certificação BREEAM em obra (a primeira do país), foi uma cons- trução especulativa, ou seja, sem prévios contratos de arrendamento. Na pandemia, altura crítica para o imobiliário, garantiu 100% de ocupação. “Veio mostrar aos promotores que compensa construir especulativamente no Porto”, frisa a responsável..Os dados do mercado comprovam o interesse das empresas. Em agosto, o Porto registou um take-up superior a Lisboa, e um crescimento acumulado de 11% relativamente ao ano anterior, diz. A absorção acumulada de escritórios até setembro deste ano é de 55 335 metros quadrados, acima do total anual de 2023, que atingiu os 50 500 metros quadrados..Cristina Almeida sublinha que, em agosto, o mercado de escritórios no Porto registou um crescimento de 362% face ao mês anterior, “devido a um fenómeno que não é tendência, mas começa agora a ser mais comum: a assinatura de pré-arrendamentos, bem como a ocupação da totalidade de edifícios por um single tenant” (inquilino único)..Neste contexto de dinamismo, a JLL foi, pela primeira vez, líder no mercado de escritórios do Porto no primeiro semestre, com uma quota de 41%. Ainda assim, a oferta está aquém da procura. Há 35 mil metros quadrados de procura ativa, diz a responsável. A captação de novas empresas, a expansão de outras e ainda as deslocalizações reforçam também a demanda por habitação. E com impacto nos preços. O valor médio do metro quadrado está já nos 5613 euros.