Portugueses estão mais altos. A culpa é da alimentação e do exercício físico

A genética influencia o crescimento, mas a nutrição e as condições de saúde e higiene permitem que a altura máxima seja atingida
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Uma alimentação mais saudável, melhores cuidados de saúde e a prática de exercício físico orientado contribuíram para que os homens e mulheres de todo o mundo, mas especialmente da Europa, ficassem mais altos nos últimos cem anos. Em Portugal, eles cresceram quase 14 centímetros e elas 12.5. Atualmente, os portugueses medem, em média, 172.9 centímetros, enquanto as portuguesas ficam pelos 162. Mas, quando se fala de alturas, são os homens holandeses e as mulheres letãs que ficam acima de todas as outras nacionalidades.

Os suecos, que em 1914 eram os mais altos do mundo, foram destronados pelos holandeses, que subiram do 12.º lugar do ranking para o primeiro, com uma altura média de 182.5 centímetros. Já as mulheres da Letónia, que agora apresentam uma média de altura de 169.8 centímetros, estavam em 28.º lugar em 1914.

Os dados fazem parte de um estudo publicado na revista eLife, no qual participaram 800 investigadores da área da saúde, que analisaram dados de mais de 18 milhões de pessoas em 200 países, no período de 1914 a 2014, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde. Segundo o mesmo, os homens mais baixos são os timorenses, com uma altura média de 159.8 centímetros. Já as mulheres mais pequenas vivem em Guatemala e não chegam a atingir um metro e meio (149.4 centímetros).

Contactada pelo DN, Chiara Di Cesare, investigadora da Middlesex University ( Londres), que participou no estudo, explicou que a altura é influenciada "por múltiplos fatores", nomeadamente "genéticos, ambientais e de nutrição". Quem detém os recordes de crescimento são as mulheres sul coreanas, que cresceram 20.1 centímetros e os homens iranianos, que ficaram 16.5 centímetros mais altos do que em 1914. Para Chiara, este crescimento estará relacionado com as melhorias acentuadas ao nível de saúde e nutrição nos dois países no último século. "E com o facto de terem começado por ter populações muito baixas", acrescentou.

Os dez países com homens e mulheres mais altos encontram-se na Europa, o continente onde também se verificou o maior aumento da média de alturas nos últimos cem anos. Na lista dos homens que mais cresceram, Portugal surge em nono lugar. Para o médico Mário Durval, especialista em saúde pública, a "alimentação é uma questão basilar e, muito provavelmente, a mais importante" quando se analisa o crescimento da população. Mas há outro fator que não se pode esquecer. "O exercício físico orientado, nomeadamente nas escolas, também tem importância", destaca o médico, realçando, ainda, o impacto dos "ambientes sociais" em que as populações se inserem.

De uma maneira geral, os dados mostram que os países que apresentam melhores condições sócio económicas são aqueles que têm habitantes mais altos. Citado pelo jornal The Guardian, o co-autor do estudo James Bethan, diz que, além da grande influência da genética, as melhorias ao nível da nutrição, higiene e cuidados de saúde também contribuíram para que a população ficasse mais alta nas últimas décadas.

Mais acesso a proteína e cálcio

"Nos últimos 60 a 70 anos, aumentou o acesso a determinados alimentos, que potenciam que seja atingido o crescimento máximo, muitas vezes condicionado pelas dificuldades de acesso a proteína de qualidade e ao cálcio", explicou ao DN Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção Geral da Saúde.

Realçando a existência de um "potencial genético de crescimento da espécie humana", o nutricionista esclarece que, muitas vezes, "por questões genéticas e de dificuldade de acesso a nutrientes", este desenvolvimento fica aquém do que seria possível atingir. Contudo, prossegue, nos últimos anos, "a carne e os produtos lácteos tornaram-se acessíveis a populações às quais anteriormente não chegavam. Democratizou-se o acesso".

Além de se ter começado a produzir mais carne e de o pescado ter ficado mais disponível, Pedro Graça lembra que "o preço relativo da proteína animal também baixou, quando comparado com os vegetais". Além da nutrição, o diretor do programa da DGS refere, ainda, a "generalização da atividade física: o ser humano passou a ter mais possibilidades de desenvolver o corpo".

A boa notícia, diz o investigador Elio Riboli, é que ter mais altura está associado a uma maior esperança média de vida. Segundo o diretor da Escola de Saúde Pública do Imperial College, de Londres, "há um menor risco de sofrer de doenças cardiovasculares entre os mais altos". Mas nem tudo é positivo. Se por um lado têm maior probabilidade de ter um nível educacional mais alto e melhores salários, também têm maior risco de sofrer determinados tipos de cancros.

EUA estagnaram nos anos 60/70

Um dado interessante é o facto de os EUA terem deixado as primeiras posições do ranking, depois de terem visto o seu crescimento estagnar nas últimas décadas: os homens cresceram apenas cinco centímetros e as mulheres ficaram seis centímetros mais altas. Para os investigadores, a explicação estará na alimentação. "Estão sujeitos a baixa qualidade (e alta desigualdade) ao nível da nutrição", disse ao DN Chiara Di Cesare.

Citado pelo El País, Majid Ezzati, investigador do Imperial College de Londres e coordenador do estudo, diz que os países que falam inglês, em especial os EUA, estão a ser ultrapassados por outros países ricos da Europa e da Ásia. E como enfrentam elevadas taxas de obesidade, o investigador destaca que precisam de apostar em políticas de promoção de uma alimentação saudável.

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