Portugal tem condições para deixar cair uso de máscara obrigatório nas áreas fechadas já em abril
O dia 3 de abril foi apontado pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, como o dia em que o país se poderá livrar da última medida obrigatória contra a transmissão da covid-19 - o uso de máscara em espaços fechados -, mas na última semana alguns especialistas e o próprio bastonário dos médicos já vieram defender que tal decisão não é aconselhável nesta fase. As razões apontadas são: a subida do R (t), índice de transmissibilidade - o país mantém uma média diária de 10 mil a 12 mil casos - e o facto de a letalidade se manter na linha vermelha. Por outro lado, há uma nova onda a progredir em vários países da União Europeia, nomeadamente na Alemanha, Áustria e França.
No entanto, Raquel Duarte, a pneumologista que lidera a equipa de peritos que tem apoiado o governo na gestão da pandemia e fases de desconfinamento, assegura que o país está preparado para deixar cair essa obrigatoriedade. "Não quer dizer que depois do fim desta obrigatoriedade não haja um aumento de casos. Vai haver, porque o SARS-CoV-2 continua na comunidade e a transmissão é possível, mas o país está a seguir a evolução epidemiológica que era esperada. A letalidade ainda é uma ameaça, mas nos próximos dias deveremos atingir os 20 óbitos por milhão de habitantes, o que nos permitirá fazer o levantamento das medidas que existem com segurança, que, no fundo, é só uma, o uso de máscara em espaços interiores", argumentou.
A médica, que é também coordenadora da área de investigação na Administração Regional de Saúde do Norte, sustenta esta posição com os dados que têm sido obtidos pela monitorização e avaliação da doença. "A doença continua a ser monitorizada e o que se observa é que está absolutamente controlável no que toca à hospitalização", garante. Ou melhor, "está controlável em relação às suas formas graves, muito graça à vacinação, e isso viu-se agora, com o aumento de casos logo após o Carnaval, que não teve repercussão nos internamentos".
Como sublinha, "o único indicador de risco que se mantém elevado é o da letalidade, mas esse também está a estabilizar", justifica. Raquel Duarte defende que "o país está no que a sua equipa considera ser "uma situação de conforto, na qual a população conseguirá ter uma vida normal com o SARS CoV-2". Apesar de, diariamente ainda serem diagnosticados entre 10 mil a 12 mil casos diários, como revela o último boletim semanal da Direção-geral da Saúde sobre a doença.
Mas um alerta que deixa: "O vírus continua na comunidade. Não desapareceu e haverá sempre risco de transmissão", sublinhando que "o que Portugal tem, neste momento, até comparativamente com outros países da Europa, é uma situação controlada do ponto de vista da gravidade da doença, o que permite retirar as medidas obrigatórias".
Do ponto de vista desta equipa de peritos, "o país já não precisa de medidas obrigatórias, mas que cada cidadão tenha a perceção do risco que corre e que se proteja", refere Raquel Duarte, sublinhando, no entanto, que "o facto de o uso de máscara em espaços interiores deixar de ser obrigatório, coloca o ónus na responsabilidade individual e nas instituições, porque uma coisa é o deixar de ser obrigatório, outra o deixar de ser utilizado".
A médica sustenta estarmos perante "situações diferentes. Há condições no país para que as medidas deixem de ser obrigatórias, mas não considero que algumas dessas medidas - e não falo só do uso de máscara, mas também do distanciamento e da higienização das mãos - deixem de ser utilizadas. É muito importante a população ter esta noção, porque se estiver num ambiente de risco, fechado, com muita gente, a máscara é fundamental para me proteger a mim e os outros".
A pandemia ainda não acabou e a máscara e o distanciamento são das medidas que provaram conseguir reduzir a transmissão, portanto, "a decisão de a usar ou não terá de ser tomada por cada cidadão, depois da avaliação dos riscos que corre".
Por exemplo, "se tivermos sintomas respiratórios, já todos sabemos que não podemos estar com colegas de trabalho ou em reuniões familiares ou de amigos, sem máscara e que o distanciamento também tem de ser mantido". Mais. "Vem aí a Páscoa, se estiver com sintomas não posso estar reunida com a família. É importante que a população e as instituições continuem a ter a noção de que há comportamentos que vieram para ficar, e que tanto servem para o SARS-CoV-2 como para a gripe ou para a tuberculose", afirma.
A pneumologista defende ainda outro aspeto: "Vamos continuar a ter ondas epidémicas, mas só se tivermos um aumento de novos casos de formas graves da doença é que teremos de dar novo passo atrás e ajustar as medidas", reforçando: "O fim da obrigatoriedade das medidas de restrição não significa o fim da pandemia. É cedo para se falar nisto. Só quando um dia olharmos para trás e percebermos que, afinal, acabou, é que poderemos declarar o fim".
Por agora, "o importante é que temos algumas garantias de segurança, como a cobertura vacinal que o país tem e o conhecimento que cada um de nós também já tem das medidas de proteção."
Mas independentemente da situação epidemiológica do país, Raquel Duarte insiste num aspeto que a sua equipa tem vindo a referir como fundamental desde que está no apoio à gestão da pandemia, que é a qualidade do ar dos espaços interiores, sejam laborais, comerciais ou de lazer.
"A população não tem de correr maiores riscos porque os espaços interiores que frequenta são mal ventilados, porque se o espaço for ventilado e arejado o risco reduz substancialmente. É necessário voltar a referir este aspeto, porque é preciso começar a planear o inverno. O investimento na qualidade do ar interior é agora mais importante do que qualquer outra medida".
No entanto, defende, "apesar de tudo, a posição de Portugal foi sempre a de maior prudência". O país manteve o uso de máscara e foi isso que nos permitiu manter a funcionar todas as atividades económicas com alguma segurança. Foi útil na redução da transmissão".
Neste momento, estamos numa fase mais segura e o "último resquício pode ser levantado".