Surto não está controlado: Portugal tem stock de 12 mil vacinas
Portugal tem 138 casos de hepatite A diagnosticados desde o início do ano, adiantou ontem o Diretor-Geral da Saúde, numa conferência após uma reunião com a congénere espanhola para definir estratégias comuns para lidar com o surto que já infetou mil pessoas no país vizinho. Francisco George adiantou que Portugal tem cerca de 12 mil vacinas para serem dadas a quem precisa. Os critérios para os grupos prioritários estão a ser definidos, já que na Europa não existem mais vacinas para comprar.
"O foco em Portugal não apresenta sinais de estar controlado. Temos 138 casos conformados, mais do que ontem e mais do que no dia anterior. O mesmo se passa em Espanha. Está um grupo de especialistas de doenças infecciosas reunido e as orientações emitidas no final de março estão a ser revistas de forma a garantir maior rapidez e eficácia no controlo da doença. Estamos preocupados com a concentração que irá acontecer no final de junho em Madrid - a Pride Parade -, que poderá ascender a dois milhões de visitantes, mas também com os festivais de verão em Portugal, que não têm condições de saneamento básico satisfatórios", referiu Francisco George.
É por isso, explicou o diretor-geral da Saúde, que é fundamental quebrar a cadeia de transmissão do vírus - o período de incubação pode ir de 30 a 50 dias - antes do verão. "Este é um problema que tem ligação aos comportamentos e há comportamentos mais favoráveis à aquisição da infeção. A questão mais urgente é resolver o surto antes do verão, tendo em atenção os festivais e a concentração em Madrid", disse.
A vacina é fundamental para cumprir esse objetivo, mas há uma falta generalizada na Europa. Espanha já não tem vacinas disponíveis. Já Portugal, garantiu Francisco George, tem cerca de 12 mil que são usadas em três grupos prioritários. Ao contrário do que inicialmente a Direção-Geral da Saúde estimava, o país não tem imunoglobulina especifica para a hepatite A disponível.
"Não há vacinas para todos. Temos de gerir a administração das vacinas para quem tem de ser protegido e interromper a cadeia de transmissão. A vacina faz efeito após o contacto com a doença. Temos vacinas para interromper a cadeia de transmissão. Temos de gerir de forma eficaz o stock", disse Francisco George, adiantando que contam com cerca de 12 mil vacinas que já estavam no país e que foram requisitadas às farmácias e distribuidores e que o Estado está a negociar a compra. Portugal e Espanha estão ainda a avaliar um eventual mecanismo de compra conjunta de vacinas a outros países onde exista produção da mesma, nomeadamente China.
Os grupos prioritários já estão definidos e além do Centro de Saúde da Baixa, em Lisboa, haverá mais zonas do país onde as vacinas estão disponíveis para que as pessoas referenciadas as possam tomar. "Há necessidade de garantir a imunização de três grupos prioritários de pessoas, o que implica uma gestão criteriosa das cerca de 12 mil vacinas disponíveis, uma parte doses pediátricas. Excecionalmente um adulto recebe uma dose de vacina pediátrica em vez de duas, porque a evidência científica mostra que será suficiente para garantir imunização", explicou Diogo Medina, médico do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), que faz parte do grupo de trabalho que está a rever a norma.
"Os grupos prioritários estão definidos. O primeiro são os contactos das pessoas comprovadamente doentes. Familiares que vivem com o doente e parceiros sexuais dos últimos 15 dias. Em segundo, a população de homens com práticas sexuais de maior risco, a oro-anal e em terceiro os viajantes que vão para países de risco", adiantou o médico.
Portugal e Espanha são um cluster. "O começo do surto terá tido lugar com um espanhol que veio a Portugal ou um português que foi a Espanha. Para que o surto seja declarado controlado temos de ter um mínimo de 50 dias sem novos casos", afirmou Francisco George. Neste momento a média diária de novos casos está entre os 5 e os 8. Cerca de metade dos casos diagnosticados estão concentrados em Lisboa.